Escrito por: CNM CUT
A desaceleração econômica mundial e a drástica queda nos preços das commodities metálicas já atingem unidades de produção do alumínio no Brasil, principalmente na região Sudeste. Um dos casos é a Valesul, controlada da Cia. Vale do Rio Doce situada no distrito de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. A empresa está praticamente sofrendo um processo de desmonte, com paralisação de suas linhas de produção.
Alcoa, Novelis, BHP Billiton e CBA (grupo Votorantim) são outras empresas que também enfrentam dificuldades devido à queda nos preços do alumínio. A cotação do metal despencou de mais de US$ 3 mil a tonelada um ano atrás para a faixa de US$ 1,4 mil na Bolsa de Londres. Esse patamar de preço não é suficiente para sustentar os custos de produção de muitas fundições, cujo maior peso é o de energia elétrica. Ao mesmo tempo, a demanda continua retraída mundialmente. No Brasil, a projeção é de diminuição de 6% neste ano, depois de atingir 1,02 milhão de toneladas no ano passado.
Dados da Abal, entidade dos produtores e transformadores do metal, mostram que a produção de alumínio primário da Valesul recuou 53,7% no primeiro bimestre do ano. E deve cair mais. Em outubro, com a eclosão da crise financeira, a Vale decidiu fazer ajuste com corte de 60% na produção da empresa, cuja capacidade instalada é de 95 mil toneladas anuais. Agora, a Vale planeja paralisar as linhas produtivas dos 40% restantes. A empresa manterá apenas pequena fundição que produzirá entre 22 mil e 25 mil toneladas/ano de alumínio secundário, a partir do uso de sucata, "o suficiente para atender clientes". Foi a alternativa para não fechar de vez a fábrica.
Apesar dos rumores de que a Vale cerraria as portas da Valesul, a mineradora garante que isso não ocorrerá, como afirmou o gerente de imprensa da Vale, Fernando Thompson, ao Valor. "Os empregados não serão demitidos", afirmou. A Valesul tinha 700 trabalhadores e agora, segundo sindicalistas fluminenses que estão acompanhando a situação da empresa, tem apenas 350 dentro da usina. A Vale não falou em números, mas explicou que está realocando sua mão de obra para outras áreas da companhia.
"A Vale negocia com a Cia. Siderúrgica do Atlântico (CSA), da qual é acionista, aproveitamento de funcionários da Valesul para trabalharem em seu alto-forno. Também estamos enviando outros empregados para a pelotizadora número oito em construção em Tubarão, no Espírito Santo", informou Thompson. Os sindicalistas contaram ao Valor que outros empregados foram deslocados para a Albrás, fundição de alumínio da Vale no Norte do país (Pará), que por enquanto não está sofrendo com a queda da cotação do alumínio.
Um novo contrato de energia para a Valesul estava em negociação entre a Vale e o governo do Estado do Rio para evitar corte de produção e desemprego na fabricante. A produção de alumínio primário é eletrointensiva, com a energia respondendo por 40% do custo da produção. Mas isso não foi acertado. O governo fluminense estava acenando com a isenção do ICMS para a Valesul não desempregar seu pessoal. A questão não avançou, pois apesar de não ocorrer desemprego, literalmente, a operação da Valesul sofreu corte profundo, o que parece não ter agradado o governo fluminense.
A americana Alcoa tomou a decisão de reduzir em um terço a produção de sua fábrica em Poços de Caldas (MG). Para adequar-se à realidade do mercado, dentre várias medidas, a Alcoa decidiu desligar temporariamente 96 das 288 cubas eletrolíticas (células de produção de metal primário), as quais respondem por 33 mil toneladas anualizadas, de um total de 100 mil de toda a fundição. "Essa decisão visa acima de tudo preservar o nível de empregos da fábrica, evitando demissões em massa", informou a empresa em comunicado.
Segundo a Alcoa, que diz manter os investimentos de US$ 156 milhões na unidade para sua modernização, as vendas dessa unidade estão vinculadas a setores que vinham anunciando férias coletivas e demissões, como o de autopeças, e que reduziram seus pedidos por conta da retração da economia. "Assim que as condições de mercado justificarem, a plena capacidade da fábrica será imediatamente restaurada", informou.
A Novelis, do grupo indiano Hindalco, anunciou em janeiro e reafirmou na semana passada que irá desativar sua produção de alumina (matéria-prima) na fábrica de Ouro Preto (MG) a partir de 11 de maio. A decisão estava prevista para 26 de março. Por consequência, também será paralisada a atividade de mineração de bauxita que fica nas proximidades. A empresa alega baixa escala de produção de alumina (145 mil toneladas/ano), com elevado custo frente ao baixo preço do metal. Por conta disso, estão previstas 290 demissões. Nas duas unidades de metal primário - Ouro Preto e Aratu - não estão cogitados cortes de produção.
A CBA informou que "a fundição, em Alumínio (SP), continua operando na capacidade normal de produção de 475 mil toneladas/ano". Segundo nota da empresa, ela está, devido ao cenário que afeta o setor, "adotando medidas de adequação nos custos e que foram feitos ajustes pontuais no quadro de colaboradores".
A BHP Billiton, que tem uma unidade dentro do consórcio Alumar, em São Luís (MA), em parceria com a Alcoa, fez ajustes modulares na produção, os quais levaram à queda de 4,1% no primeiro bimestre do ano, conforme dados da Abal. A empresa informou que não cogita, no momento, plano de corte de produção.
Segundo Isabella Nunes, coordenadora da PIM, o peso do alumínio e produtos derivados no universo da industria de transformação, medido pela pesquisa industrial mensal (produção física), foi de 2,5% em fevereiro. A cadeia do alumínio (bauxita, alumina, metal primário e produtos transformados) tem forte peso nas exportações do Brasil - em 2008 atingiu US$ 4,8 bilhões, conforme a Abal, 2,4% do total do país e 14% do saldo da balança comercial. Do total, Alumínio primário e manufaturados ficaram com US$ 3 bilhões.
Fonte: Valor