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Brasil lidera ranking mundial de assassinatos de pessoas transsexuais pela 14ª vez

Dia Nacional de Visibilidade Trans, 29 de janeiro, é importante no debate sobre como enfrentar a violência contra transsexuais, avalia a primeira vereadora trans de Araraquara (SP), Filipa Brunelli

Publicado: 30 Janeiro, 2023 - 08h00 | Última modificação: 27 Janeiro, 2023 - 17h45

Escrito por: Redação CNM/CUT

Clarice Castro - Ascom/Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC)
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Ministro Silvio Almeida recebe levantamento da Antra sobre violência contra pessoas trans

Em 2022, pela 14ª vez consecutiva, o Brasil foi o país com mais assassinatos de pessoas transsexuais e travestis no mundo. Atrás só do México e Estados Unidos, respectivamente. O dado é do “Dossiê de Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transsexuais Brasileiras”, divulgado na última quinta-feira (26) pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

O dossiê foi entregue no mesmo dia ao ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Os números mostram que mulheres trans e travestis têm até 38 vezes mais chances de serem assassinadas em relação aos homens trans e às pessoas não-binárias. De 131 mortes em 2022, 130 são de mulheres trans e travestis, e uma de homem trans. Outras 20 pessoas tiraram a própria vida em virtude de discriminação e do preconceito.

Os tristes números reforçam a importância do Dia Nacional da Visibilidade Trans, 29 de janeiro (último domingo), para conscientizar a sociedade sobre a violência contra transexuais no Brasil. 

“O maior desafio enfrentado pela população trans no Brasil, principalmente as mulheres trans e travestis, é se manter vivo”, afirma a militante LGBTQIA+ e primeira vereadora trans de Araraquara (SP), Filipa Brunelli. “Precisamos de uma data assim para dar visibilidade aos corpos que são invisíveis à sociedade, que não têm acesso a direitos básicos como saúde, educação, emprego”, completa.

Para a vereadora, a chegada do terceiro governo Lula é motivo de esperança nas lutas por direito das classes marginalizadas no Brasil, como é o caso da população trans. Apesar disso, ela salienta que um mandato de quatro anos não é suficiente para resolver todos os problemas estruturais que vêm de séculos dentro da sociedade brasileira. 

"Para de fato combater todos os tipos de preconceitos e de negligências que existem no país é preciso uma mudança cultural que leva mais tempo”, opina.

Mercado de trabalho

Um dos desafios mais delicados enfrentados pela população trans é a busca por trabalho. 

Segundo Filipa, para resolver isso é necessário primeiro oferecer uma educação inclusiva às pessoas trans, evitando que o preconceito faça com que elas saiam da escola durante seus trajetos de vida. 

“Também temos casos de pessoas transsexuais e travestis que conseguem se formar, obtêm um diploma, mas acabam indo trabalhar na prostituição porque seu gênero é levado em conta antes do diploma na hora de conseguir um trabalho. As empresas não querem trabalhar com a inclusão nesses casos”, denúncia.

Por fim, a vereadora defende que é dever de toda a sociedade efetivar uma cultura de paz e enfrentar a transfobia de forma ativa. 

“Não existe debate de classe sem recorte de gênero, de raça, de etnia e de sexualidade. Não existe debate de classe sem falar de pessoas. É necessário debater a sociedade de uma forma plural e defender a vida de qualquer pessoa”, complementa Filipa.