Escrito por: CNM CUT
Os comícios pelas Diretas-Já arrastaram uma multidão de pessoas para as ruas 25 anos atrás. O movimento começou em 1983 e se intensificou no ano seguinte (1984). Políticos, artistas, líderes sindicais e estudantes se uniram em torno de um único objetivo: restabelecer as eleições diretas no país
Os comícios pelas Diretas-Já arrastaram uma multidão de pessoas para as ruas 25 anos atrás. O movimento começou em 1983 e se intensificou no ano seguinte (1984). Políticos, artistas, líderes sindicais e estudantes se uniram em torno de um único objetivo: restabelecer as eleições diretas no país.
O comício realizado no dia 25 de janeiro de 1984 na praça da Sé --no aniversário da cidade de São Paulo-- simbolizou a força do movimento dentro da sociedade. Na época, os organizadores do evento estimaram em 300 mil o público presente no comício.
"O comício que marca o início do movimento aconteceu em São Paulo dia 25, no aniversário da cidade", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em abril de 2008 para a Folha Online. "Ninguém esperava tanta gente. Os alto-falantes não eram suficientes para chegar à multidão que tomou a praça. Foi a partir daí que a imprensa começou a divulgar o movimento."
No Rio, os comícios eram realizados em frente à Igreja da Candelária. Um dos comícios mais importantes foi realizado em abril daquele ano, no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo.
Para o cientista político Octaciano Nogueira, professor de Ciências Políticas na UnB (Universidade de Brasília), o número de pessoas presentes nos comícios no Rio e São Paulo foi inflacionado. No Anhangabaú, por exemplo, havia quem dizia que o comício havia levado mais de 1,5 milhão para o local. "Como havia um interesse nacional muito grande, cada um dava o número que queria."
Nogueira diz que o movimento teve efeito político praticamente nulo e representou uma grande frustração para sociedade brasileira que lutava por eleições diretas. É que apesar de ter mobilizado líderes políticos, artistas e intelectuais em comícios realizados nos principais centros urbanos do país, o movimento não conseguiu fazer com que o Congresso Nacional aprovasse a emenda constitucional que restabelecia as eleições diretas.
Histórico
Em 1980, a eleição direta para governador é restabelecida por meio de uma nova emenda, e em 1982 o pleito é realizado.
Lula foi um dos grandes personagens do movimento que marcou a redemocratização no Brasil
Grandes lideranças democráticas ganharam aquelas eleições, como Tancredo Neves, em Minas Gerais, e Franco Monto, em São Paulo. A partir de então, o clima mudou. Era natural o desejo de eleger um presidente da República pelo voto direto.
"Faltava ao Brasil [naquela época] o direito de escolher seu presidente", diz Nogueira. "Essa possibilidade gerou no Brasil um sentimento cívico muito forte", diz o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que na época era deputado federal.
Foi nesse clima que o deputado Dante Martins de Oliveira, morto em 2006, apresentou uma emenda propondo eleição direta para presidente da República, em março de 1983.
"A campanha das Diretas-Já só foi lançada para forçar a Câmara a votar a Emenda Dante de Oliveira, como ela ficou conhecida", diz Nogueira. A partir de então, uma série de comícios tomou conta do país.
O primeiro grande comício foi realizado na cidade de Abreu e Lima, em Pernambuco, em março de 1983. Em novembro de 1983, cerca de 10 mil pessoas se reuniram na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, na zona oeste de São Paulo, para pedir o restabelecimento das eleições diretas no país. A partir de então, as passeatas e comícios ganhavam cada vez mais importância.
A série de manifestações propiciou o clima necessário para a votação da emenda, marcada para o dia 25 de abril de 1984. Mas 113 deputados --todos do então PDS-- não compareceram, e a emenda acabou rejeitada, apesar dos 298 votos favoráveis, 65 contrários 3 abstenções. Eram precisos mais 22 votos favoráveis para que a emenda fosse aprovada.
Com a rejeição da emenda, o país realizou em 1984 sua última eleição indireta para presidente da República. O PMDB indicou Tancredo Neves, enquanto o PDS escolheu Paulo Maluf. Tancredo venceu a disputa. As comemorações pela vitória de Tancredo duraram pouco. Ele foi internado um dia antes da posse, em 14 de março de 1985 --a posse estava marcada para 15 de março daquele ano. Tancredo morreu no 21 de abril daquele ano. Quem assumiu seu mandato foi o vice, José Sarney.
Fonte: Folha de São Paulo