Escrito por: CNM CUT
Quando o magnata indiano do aço Lakshmi Mittal iniciou uma batalha em janeiro para adquirir a maior rival de sua companhia, a comunidade de negócios na Índia ficou chocada. Não somente porque era uma oferta ousada, mas também porque quebrava as regras dos marwaris.
Mittal, o expatriado mais rico da Índia, pertence a um grupo étnico chamado Marwari, que acredita na necessidade de as empresas permanecerem como propriedades familiares. Com nomes como Birla, Jindal e Ruia, as famílias marwari controlam três das cinco principais siderúrgicas indianas e a maior parte do comércio de chá, têxteis, manufatura, mineração e metais. Nas empresas marwari, filhos, irmãos e genros costumam ajudar nos negócios, inspecionando fábricas ou planejando aquisições e fusões. Mas esse tipo de envolvimento está se tornando cada vez mais difícil numa das economias mais aquecidas do mundo.
Se, como se espera, a maioria dos acionistas da Arcelor SA, que tem sede em Luxemburgo, aprovarem a oferta de Mittal esta semana, ele ficará com menos de 45% das ações da empresa resultante, depois de ter quase 90% da Mittal Steel Co. A nova Arcelor-Mittal, a maior fabricante de aço do mundo, terá sua sede em Luxemburgo, ao invés de Londres, onde Mittal mora. Mittal terá de dividir o título de presidente do conselho e indicar apenas um terço dos dezoito assentos do conselho e três dos sete cargos na diretoria. Não está claro que papel seus filhos, atualmente membros do conselho da Mittal Steel, assumirão na nova companhia.
'Temos de deixar nossos interesses familiares para trás pelo interesse da indústria e dos acionistas', diz ele.
A jogada de Mittal já forçou os marwaris indianos a questionar se sua forma tradicional de administrar está fora de moda. Os industriais marwaris estão aprendendo que o rápido crescimento requer tanto o acesso ao capital e aos bancos de Wall Street, Londres e Hong Kong quanto a investidores institucionais, que querem empresas mais transparentes e ações com mais liquidez.
'Há uma tensão fundamental', diz Sumit Ganguly, professor de Culturas e Civilizações Indianas e de Ciência Política na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. 'Numa mão você tem de se portar como uma empresa aberta e respeitável. Na outra, quer manter um nível de controle familiar. As idéias se confrontam.'
Embora os marwaris estejam orgulhosos de que um deles se deu bem, triunfando numa batalha de cinco meses pela Arcelor, alguns expressam preocupações, dizendo que Mittal cedeu demais. Rahul Bajaj, um marwari que é presidente do conselho da Bajaj Auto Ltd., a maior fabricante indiana de motonetas, acompanhou de perto as jogadas de Mittal e diz que não tem certeza que faria o mesmo. 'Eu nunca aceitaria uma posição minoritária', diz ele. 'Todas as comunidades indianas de negócios gostam de ter controle total, embora nem sempre através de participação majoritária.' Ele suspeita que Mittal possa ter concordado com o arranjo porque acredita que efetivamente ainda manterá o controle. (O resto do capital será pulverizado, com poucos acionistas tendo mais que 3%.)
Indresh Batra, genro de P.R. Jindal, um marwari que comanda a Jindal Group, uma das maiores fabricantes indianas de aço inoxidável, diz que Mittal sacrificou a visão singular que lhe possibilitou tornar-se, a partir de um fábrica na Indonésia, a maior fabricante de aço do mundo. 'Acho que a Mittal Steel tinha uma enorme vantagem da forma que era administrada', diz ele. 'Agora, ela não será comandada por um empreendedor, mas por uma forte cultura de conselho.'
Outros dizem que Mittal está fazendo o que a maioria das empresas privadas da Índia deveria fazer. Estima-se que 90% das companhias indianas pertencem a famílias. Na maior parte, elas tiveram sucesso protegidas por políticas governamentais que desencorajavam a concorrência estrangeira. Mas as tarifas de importação foram retiradas e a Índia está atraindo investimento estrangeiro.
Fonte: The Wall Street Journal Americas