Escrito por: CNM CUT

De empresa em empresa, Grupo Brasil Participações já fatura R$ 1,5 bi

Advogado e administrador que compravam empresas para outros agora são donos de seis

Eles fazem parte de um grupo discreto de empresários que não gosta de badalações e nem de aparecer na mídia. Em apenas oito anos, construíram um grupo que fatura R$ 1,5 bilhão com cinco empresas do setor de autopeças. A sexta unidade está sendo incorporada agora, com a compra da Karmann-Ghia, um ícone da indústria automobilística nos anos 60. A maioria delas estava em dificuldades. Foram reestruturadas e hoje dão lucro.

O advogado Sebastião Luis Pereira Lima e o administrador de empresas Antônio Campello Haddad prestavam consultoria em gestão industrial e na compra e venda de empresas em dificuldades. Em 2000, ao invés de intermediar um negócio, ficaram com ele. Era o início do Grupo Brasil, hoje com 7,2 mil funcionários.

Desde então, a cada dois anos uma nova empresa foi sendo adquirida pelos sócios e a perspectiva é de continuar crescendo. "Estamos sempre avaliando novas aquisições", diz Haddad. A cada ano, pelo menos uma dezena de empresas são analisadas, segundo ele. Fechar ou não o negócio depende das condições da oferta: a preferência é por empresas que estejam em baixa no mercado, mas com potencial de reversão do problema.

A Metalúrgica de Tubos de Precisão (MTP), a primeira empresa do grupo, era uma divisão de tubos deficitária para a Mannesmann, que decidiu se desfazer do negócio. Lima e Haddad foram chamados para avaliar a venda. Acabaram formando uma sociedade e ficaram com a empresa, instalada em Guarulhos (SP). "Compramos a prazo, pois não tínhamos capital", lembra Haddad. A própria direção da Mannesmann financiou o negócio que, quatro anos depois passou a operar no azul.

Naquele ano, quando os brasileiros compraram menos de 1,5 milhão de veículos, os sócios do Grupo Brasil apostaram que o mercado iria mudar e chegaria à casa de 3 milhões de unidades, previsão que será concretizada este ano. "Decidimos focar no setor metal-mecânico para atender às autopeças", diz Haddad.

Segundo o executivo, todas as empresas compradas "eram o zero depois da vírgula de grandes corporações", unidades que não faziam parte do negócio principal ou davam prejuízos. No ano passado, garantiram lucro líquido de R$ 28,5 milhões ao grupo, 195,6% a mais que no exercício anterior.

Em 2002, outro grande grupo, a Acesita, colocou à venda a Sifco, sua unidade de peças forjadas de Jundiaí (SP), pois queria concentrar sua atuação na área de aço inox. O Grupo Brasil disputou e ficou com a divisão, que apresentava baixa rentabilidade.

"O negócio não teve preço; assumimos os débitos com bancos e fornecedores", explica Haddad. "Nos especializamos em forjados para suspensão de caminhões e ônibus, agregamos valor ao produto e hoje temos quase 100% do mercado." Junto com a Sifco, o grupo assumiu a Westport, um braço de distribuição de produtos da marca nos Estados Unidos.

A Alujet, comprada em 2004 de um grupo nacional que saiu do ramo automobilístico, produzia 28 mil rodas por ano em Vinhedo (SP) e hoje faz 60 mil. Com capital nas mãos, os sócios pagaram à vista, assim como fizeram com a fundição BR Metal, pertencente à ThyssenKrupp, que abandonou essa atividade no Brasil e em outros países há dois anos - as fábricas de Barra do Piraí (RJ) e Matozinhos (MG) foram incorporadas ao Grupo Brasil.

Paralelamente ao setor metalúrgico, os sócios entraram no ramo plástico, com a Vulcan e a Alkor Draca. Para administrar os dois negócios, criaram a holding Brascon, com a divisão metalúrgica administrada pelo Grupo Brasil e a divisão de plásticos sob o guarda-chuva da ILP.

Karmann Ghia terá investimento de R$ 50 milhões

A incorporação da mais nova empresa do Grupo Brasil, a Karmann Ghia, ocorreu recentemente numa transação bastante vantajosa para o grupo, segundo fontes envolvidas na negociação. Instalada em São Bernardo do Campo (SP) nos anos 60, num imponente prédio na Via Anchieta, a marca é conhecida pela produção do carro esportivo Karmann Ghia entre 1962 e 1975, que utilizava motor Volkswagen.

Também montou para a Volks o SP-2 e, mais tarde, o Escort conversível para a Ford. O último veículo feito na empresa foi o Defender, da Land Rover, entre 1998 e 2005, quando a marca desistiu de produzir veículos no País.

A Karmann Ghia limitou-se então a prestar serviços de ferramentaria e estamparia para montadoras como Volks, Scania, Mitsubishi, Renault e fabricantes de autopeças. A atividade rendia faturamento anual de R$ 113 milhões ao grupo familiar alemão administrado por Wilhelm Karmann. A unidade brasileira era a única da Karmann fora da Alemanha. Na Europa, o grupo também deverá ser vendido.

Com a compra, a fábrica brasileira receberá investimentos de R$ 50 milhões nos próximos três anos para dobrar sua capacidade de produção de estamparias e na melhoria da linha de moldes. O Grupo Brasil já conquistou pelo menos um novo cliente, a PSA Peugeot Citroën. A meta é triplicar o faturamento até 2010.

Por enquanto, a empresa tem direito a utilizar o nome Karmann-Ghia, mas daqui a um ano o assunto será revisto pois, para mantê-lo, terá de pagar royalties ao ex-dono alemão. Como uma das fundadoras da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Karmann Ghia segue na lista de associadas da entidade.

Fonte: O Estado de S.Paulo