Escrito por: CNM CUT
As atividades aconteceram na última semana no Mississipi. O Brasil foi representado pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, e o secretário geral e de Relações Internacionais da CNM, João Cayres.
João Cayres expressa a solidariedade dos brasileiros à luta da UAW
João Cayres expressa a solidariedade dos brasileiros à luta da UAW
A montadora japonesa Nissan está tentando impedir que metalúrgicos do Estado norte-americano do Mississipi se organizem em sindicatos.
Acompanhados de sindicalistas de todo o mundo, o presidente da CUT, Vagner Freitas, e o secretário geral e de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT), João Cayres, estiveram na semana passada nos EUA para participar de várias atividades em solidariedade à luta dos metalúrgicos norte-americanos.
“Essa é uma batalha em defesa da cidadania e merece a solidariedade mundial”, afirmou Vagner Freitas. “A superação das desigualdades e de toda forma de discriminação é uma das principais bandeiras de todo o movimento sindical”, completou João Cayres.
Ameaças
Para evitar a organização dos trabalhadores, a Nissan/Renault ameaça demitir e até fechar a fábrica de Canton, uma das principais do Mississipi, se alguém votar pela criação do sindicato. Os patrões também fazem reuniões com os metalúrgicos para pressioná-los. Num vídeo produzido pela montadora destinado aos trabalhadores, o presidente do grupo Renault/Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, afirmou que "onde há sindicato não há empresa".
Nos EUA, a sindicalização só é permitida se tiver a aprovação de 50% mais um dos trabalhadores de uma empresa, por meio de eleição secreta. Por isso, o United Auto Workers (UAW), sindicato nacional dos metalúrgicos de montadoras, lançou uma campanha mundial contra as atitudes antissindicais da montadora, que tem se utilizado de todos os meios para impedir que os trabalhadores na Nissan se filiem à entidade sindical.
A campanha conta com a participação de trabalhadores, sindicalistas, parlamentares, estudantes e artistas de vários países.
Campanha tem a adesão de vários setores da sociedade
Campanha tem a adesão de vários setores da sociedade
O triste sindicalismo norte-americano
Apenas 7% dos trabalhadores do setor privado são sindicalizados nos Estados Unidos. Só para comparar, na base dos Metalúrgicos do ABC o índice de sindicalização é 75%.
Segundo o presidente do UAW, Bob King, a quantidade de sindicalizados no país caiu de um total de 35%, entre as décadas de 1960 e 1970, para o número atual, por conta de leis aprovadas por sucessivos governos neoliberais que enfraqueceram o poder de organização dos trabalhadores nas fábricas.
O secretário geral e de Relações Internacionais da CNM/CUT, ao tomar contato com a situação no Mississipi, constatou que a legislação trabalhista norte-americana é uma das piores do mundo. “Os EUA já tiveram uma classe média forte porque os índices de sindicalização eram altos. Agora, está em torno de 7% e isso se reflete nas condições de vida dos trabalhadores. Em gera, eles estão empobrecendo por causa dos salários baixos e pela falta de benefícios sociais”, avaliou João Cayres.
Vagner e Cayres com o ator Danny Glover, numa das atividades da campanha
Vagner e Cayres com o ator Danny Glover, numa das atividades da campanha
A campanha de denúncia contra a Nissan
A campanha do UAW – que tem como slogan Do Better Together (façamos melhor juntos) – conseguiu forte envolvimento da sociedade civil, das igrejas, estudantes, representantes do parlamento e de universidades e artistas como o ator Danny Glover.
Na última semana, com a adesão de sindicalistas de outros países – como João Cayres e Vagner Freitas – foram realizadas uma série de manifestações em Canton e também em Jackson, capital do Mississipi. “Com direito a uma representação sindical os trabalhadores se expressam coletivamente e constroem acordos que melhoram as condições e seu desempenho no trabalho; com isso a empresa também sai ganhando e também a comunidade onde está instalada”, avaliou o diretor do UAW Robert Lawson.
Mas a empresa continua se mostrando intransigente. A direção alega que a esmagadora maioria de seu pessoal não quer nem ouvir falar em sindicato. “Se é assim, por que não aceita que eles digam isso por meio de uma eleição limpa, com igualdade de condições para que ambos os lados defendam seus pontos de vista?”, rebateu o dirigente Richard Bensinger, diretor da campanha do UAW no Mississippi.
Uma pesquisa que está sendo conduzida pelo professor Lance Campa, da Universidade de Cornell, estado de Nova York, aponta que a fábrica pode estar errada em vários aspectos. “O vídeo de seu presidente mostra a boa relação da fábrica com a cidade e sugere um pânico caso a empresa resolva deixá-la. Mas não mostra que em outras regiões, onde sindicatos e empresas se relacionam democraticamente, se constroem bons acordos e as empresas vão muito bem”, criticou Campa.
O professor lembra que a companhia erra também ao ferir princípios básicos de convivência entre empregadores e empregados estabelecidos por organismos multilaterais. Entre eles, a Organização Internacional do Trabalho, que reúne representantes do capital e do trabalho e de governos, e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, associação de 34 países ricos, com sede na França.
O ator Danny Glover, que tem atuação destacada em movimentos por direitos civis, participou de dois eventos ao longo da semana e também criticou o presidente do grupo Renault/Nissan: "Ele contradiz a realidade em diversos países onde a própria montadora atua, como França, Japão, Brasil e África do Sul, nas quais a presença de sindicatos em nada atrapalha o desempenho da fábrica", disse.
Ação globalizada
O estudo elaborado por Campa, a ser concluído no mês de março, servirá de base para ampliar o movimento do UAW nos Estados Unidos e internacionalizá-lo. A ideia é disseminar as denúncias das práticas autoritárias da Renault/Nissan nos demais mercados consumidores onde atua. Novo encontro internacional de sindicalistas e representantes da sociedade está previsto para esse mês.
“É importante o envolvimento da sociedade, porque assim como ela desfruta das conquistas alcançadas pelo movimento sindical, essas conquistas chegam mais rápido quando ela entende e apoia nossas lutas”, argumentou Vagner Freitas. “Para empresas transnacionais, tanto faz onde elas fabricam seus carros. Por isso é importante que cada vez mais empresas aceitem construir um acordo global, no qual se estabelecem padrões mínimos de condições e as relações de trabalho, para que os desempenhos das empresas sejam reflexo do trabalho decente, e não do agravamento das desigualdades”, complementou.
O presidente da CUT lembrou que os planos da montadora no Brasil estão associados ao bom momento econômico do país, onde o nível de emprego e de renda está num ciclo de alta que já dura dez anos. “Se o momento em nosso país é bom para a estratégia da empresa, será bom também se conseguirmos expandir essa campanha até lá”, disse Freitas.
Em outubro, o presidente do Grupo Carlos Ghosn anunciou que foram investidos US$ 285 milhões na ampliação das operações da unidade do Paraná. A unidade de Resende terá investimentos de R$ 2,5 bilhões. “Boa parte desses investimentos sairá de linhas de crédito do BNDES. Será importante conversarmos com o principal banco de fomento do país para que os empréstimos tenham como contrapartida a garantia de trabalho decente, no Brasil e no mundo”, defendeu o presidente da CUT. “No caso da Nissan, isso se daria com a adesão a um acordo marco global e com o respeito às representações sindicais em qualquer do mundo”.
(Fonte: Paulo Donizetti – Rede Brasil Atual, com CUT Nacional e CNM/CUT)