Escrito por: CNM CUT
A Engevix Construções Oceânicas (Ecovix) e empresas controladas pela companhia, incluindo um complexo de estaleiros em Rio Grande (RS) que tem a Petrobras como cliente, vão entrar com pedido conjunto de recuperação judicial ainda este mês, segundo apurou o Valor. A Ecovix tem mais de R$ 6 bilhões em dívidas com a própria petroleira, com fornecedores e bancos. Um dos objetivos do pedido de recuperação judicial além de evitar a falência é segregar os ativos do grupo em uma nova companhia que será oferecida aos credores como forma de pagamento pela dívida. No futuro, se a reestruturação for bemsucedida, os credores poderão vender os ativos para investidores ou operadores de estaleiros como os chineses.
O plano da Ecovix prevê ainda que os atuais acionistas, a holding Jackson Empreendimentos, abram mão de receber qualquer valor, sem direitos sobre os ativos que serão agrupados na nova empresa a ser criada na forma de Unidade Produtiva Isolada (UPI). A UPI blinda o investidor na compra do ativo da empresa em recuperação judicial de sucessões de dívidas, de acordo com o artigo 60 da nova lei de falências (nº 11.101, de 2005).
A holding Jackson também controla a Engevix, cujos sócios foram envolvidos na operação LavaJato. A ideia da recuperação da Ecovix, via UPI, é valorizar ativos que hoje estão ligados a uma empresa com problemas financeiros e cujos sócios se envolveram na LavaJato. Entre os ativos a serem segregados, estão o dique e o pórtico do estaleiro, além de equipamentos. O pórtico é um guindaste de grande capacidade de elevação de cargas utilizado, por exemplo, para movimentar blocos (partes) de navios.
O pedido de recuperação judicial da Ecovix e suas empresas será apresentado na comarca de Rio Grande, onde estão os estaleiros do grupo. O pedido deve ser seguido da demissão em massa de empregados da companhia. No total, a Ecovix tem 3,5 mil funcionários. A ideia é fazer um processo de recuperação judicial rápido que permita pagar logo no início os credores trabalhistas. De qualquer maneira, deverá ser uma recuperação complexa, embora a Ecovix venha negociando com os principais credores, entre os quais estão a Petrobras, a chinesa Cosco e a norueguesa NOV. A cada uma dessas três empresas a Ecovix deve mais de R$ 500 milhões. Outros credores importantes são os bancos Bradesco e Banco do Brasil, que têm créditos de R$ 600 milhões cada um. A Caixa Econômica Federal tem cerca de R$ 300 milhões a receber.
A Ecovix foi criada em 2000 como braço de construção naval e offshore do grupo de engenharia Engevix. O nascimento da Ecovix foi garantido por encomenda da Petrobras para construção de oito cascos de naviosplataforma, em contratos que somavam US$ 3,5 bilhões. A previsão era de que os cascos fossem entregues até 2016, o que não ocorreu. Segundo fontes, dos oito cascos, parte foi entregue, duas unidades tiveram a construção transferida para a China e até três unidades deverão ser canceladas pela Petrobras. Procurada, a Petrobras não respondeu as perguntas enviadas pela reportagem.
A Ecovix também tinha em carteira a construção de três sondas de perfuração para a Sete Brasil, em contrato de US$ 2,4 bilhões, projeto que não foi adiante pelos problemas enfrentados pela Sete, que hoje está em recuperação judicial. Diante dos problemas, sócios japoneses da Ecovix, liderados pela Mitsubishi Heavy Industries, se retiraram da sociedade amargando prejuízo de US$ 300 milhões.
Com o pedido de recuperação judicial e as demissões, a Ecovix e seus estaleiros devem entrar em período de "hibernação". Uma possibilidade, a partir da reestruturação, é mudar o objeto social da empresa para permitir que realize outras atividades, incluindo a prestação de serviços portuários, de manutenção e reparos. Caso a reestruturação seja bemsucedida, a Ecovix pode dar lugar, no futuro, a um estaleiro com o balanço "limpo", fluxo de caixa e capacidade de desenvolver novos negócios.
(Fonte: Valor Econômico)