Escrito por: CNM CUT

Empresas investem em inovação, com perspectiva de sair da crise

As empresas instaladas no país que se destacam no campo da inovação mantiveram ou ampliaram investimentos nessa área, com a perspectiva de sair da recessão. A conclusão é do diretor da Strategy&, Eduardo Fusaro, ao analisar os números da pesquisa feita pela consultoria para a terceira edição do anuário Valor Inovação Brasil que premiou ontem as companhias mais inovadoras do país.

O percentual de empresas que investem mais que 5% da receita líquida em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) aumentou de 20% para 24%. Já entre aquelas que investem entre 3% e 5% houve estabilidade nos aportes. A comparação foi feita com base nas 108 empresas que participaram do ranking do anuário nos dois últimos anos.

Esses números se alinham à Pesquisa de Inovação (Pintec) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com o recorte temporal diferente - entre 2011 e 2014 - o resultado também aponta estabilidade no percentual de empresas que investiram em inovação na comparação com o triênio anterior - 36% e 35,7%, respectivamente.

A dúvida que permanece é se a continuidade da crise econômica e política afetará o crescimento das práticas inovadoras das empresas brasileiras. Previsões informais sugerem que os investimentos do Brasil em P&D, que beiravam 1,2% do PIB devem cair para 1% neste ano.

"Se você pensar nas consequências disso para uma economia de baixo desempenho como a brasileira, é um tempo que dificilmente conseguiremos recuperar", diz Glauco Arbix, professor titular do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Observatório da Inovação.

Para o grupo que integra o ranking das 150 empresas mais inovadoras do país, o tema ganha importância. A inovação está entre as três prioridades estratégicas de 85% das companhias. Para 20% dos participantes do ranking do Valor, a inovação é a principal estratégia. "É na crise que as práticas inovadoras se mostram mais valiosas. Quem ficar de fora da transformação digital perderá tempo e competitividade", afirma Rafael Aymone, líder do Centro de Pesquisa Global da GE na América Latina.

Um dos efeitos da crise é o contingenciamento de recursos. O orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) foi reduzido em 44%. Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) encolheram 40% em 2016, comparado ao recorde de R$ 6,02 bilhões em 2015.
Outro vetor de fomento à ciência e inovação, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), do qual a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) é braço executivo, também sofre com o contingenciamento. "Existem atualmente duas Fineps", resume Marcos Cintra, presidente da agência.

De um lado, a "Finep banco", com R$ 6 bilhões em caixa e demanda retraída pela crise. De outro, a Finep que fomenta universidades e laboratórios e que convive com o forte contingenciamento do FNDCT. São R$ 700 milhões em caixa, muito abaixo do orçamento de R$ 4 bilhões do passado. "Hoje, o fundo não alimenta a ciência e a tecnologia, mas o superávit primário do governo", lamenta Cintra.

Na avaliação de Alessandro Mendes, diretor de pesquisa avançada e inovação da Natura, o encolhimento do investimento público é muito grave pois pode significar perda de competitividade no cenário nacional e global. "Precisamos de uma política de Estado forte e perene em favor da inovação no país. Nesse sentido, a preservação dos incentivos fiscais previstos na Lei do Bem é essencial como estratégia de reforço dos investimentos privados em pesquisa e desenvolvimento", disse.

Diante desse cenário, a análise da pesquisa feita para o anuário Valor Inovação Brasil mostra que a maneira de inovar ganha novos contornos. É cada vez mais comum a parceria com instituições tecnológicas e de pesquisa, universidades, ONGs e outras organizações. É crescente também o envolvimento de startups com grandes empresas. Das empresas participantes do ranking, 67% fomentam parcerias externas de forma regular e 19% de forma esporádica.

Para Fusaro, da Strategy&, essa estratégia, além de mitigar riscos e pulverizar investimentos, reflete a complexidade do que precisa ser inovado. As empresas, diz ele, buscam fora de casa expertises e capacitações necessárias para alavancar suas estratégias de inovação.

(Fonte: Valor Econômico)