Escrito por: CNM CUT
Aos 49 anos, Mizoguchi assume a vice-presidência comercial da Honda no Brasil, que inclui carros e motos, uma operação que soma mais de US$ 9 bilhões
No mundo corporativo não é muito frequente um técnico de 24 anos de idade e recém contratado ser transferido para a linha de produção com uma tripla missão: reduzir o número de fornecedores à metade, desenvolver a área de engenharia de produto e ainda criar um centro de pesquisa. Tudo quase ao mesmo tempo. Ainda hoje, 25 anos depois, Issao Mizoguchi estranha a ousadia oriental que entregou em suas mãos o destino da fábrica de motocicletas da Honda em Manaus, a maior da montadora em todo o mundo.
Ontem, Mizoguchi esteve em Manaus para cuidar de ajustes na linha de montagem, uma das suas últimas responsabilidades no cargo de diretor industrial da fábrica de motos. Ele está de mudança para São Paulo, onde já assumiu a vice-presidência comercial de toda a companhia, que abrange não apenas as motos como também os automóveis, operações somam uma receita anual de mais de US$ 9 bilhões.
A vice-presidência comercial tem sido um cargo de peso na filial brasileira da Honda, com grande dose de responsabilidade na parte operacional. O executivo que ocupa esse cargo é praticamente o braço direito dos presidentes, que tradicionalmente vêm do Japão e se revezam com mais frequência. Foi assim nos últimos anos com Kazuo Nozawa, antecessor de Mizoguchi, que agora se aposenta.
Aos 49 anos, Mizoguchi diz que lançar os funcionários em empreitadas desafiadoras faz parte do estilo da Honda. Obviamente ele considera o novo cargo mais um passo nessa linha de conduta da montadora japonesa. Mas o maior desafio foi mesmo aquele no início da sua carreira.
O executivo conta que na época "ganhou" de presente de aniversário de 25 anos uma passagem só de ida para Manaus. A mãe estranhou. Mas ele próprio não conseguiu explicar a ela por que fora o escolhido. Afinal, seu currículo se limitava a uma formação técnica numa conceituada escola do ABC (a então ETI Lauro Gomes), o curso de engenharia mecânica na FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) e apenas dez meses de emprego na área de qualidade da Honda.
Paulista e descendente de japoneses, além da familiaridade com a cultura da matriz da companhia, Mizoguchi leva para o novo cargo a experiência de crescimento da Moto Honda da Amazônia. Quando ele chegou na empresa, a produção anual girava em torno de 100 mil motocicletas. Sua última missão, conta, foi preparar a fábrica para atingir a meta de 2 milhões de unidades em 2010.
No princípio parecia uma transferência temporária. Mas novas atribuições foram surgindo a cada dia. A primeira tarefa foi reduzir custos com compras. Por insegurança, na época em que inaugurou a fábrica de Manaus, em meados da década de 70, a companhia tinha pelo menos dois fornecedores de cada peça. Uma vez cumprida essa parte, Mizoguchi teve de criar o departamento de engenharia de produto. O jovem engenheiro decidiu apelar aos antigos colegas de faculdades de São Paulo. Mas nem todos se animavam com a proposta de mudar para o Amazonas.
Os 50 que concordaram formaram a equipe que deu origem ao time de desenvolvimento de motos no Brasil. Depois disso, a direção da empresa no Japão decidiu que o departamento de pesquisa também deveria seguir para Manaus. De técnico de qualidade , o engenheiro passou para o cargo de supervisor, sub gerente e gerente até assumir a direção da fábrica.
Mizoguchi diz que além do modo de viver manauara, com o qual habituou-se, ele sente ter de deixar o comando da maior fábrica de motos da Honda no mundo no momento em que a operação foi preparada para tirar proveito do potencial de crescimento do mercado de duas rodas no Brasil. Entre as compensações de voltar para São Paulo, além da poder ficar próximo da mãe, que estranhou a sua partida, há 25 anos, está o desafio da área de vendas. "Vou para o outro lado do balcão, o que significa deixar a área de manufatura para vender os veículos", destaca.
Em motocicletas, a Honda ainda é dona hoje de 75% do mercado brasileiro. O executivo diz que pretende aproveitar as visitas que já fez em diversas fábricas de motos no mundo. Ele quer, especialmente, trazer para o Brasil estratégias que a companhia usou no Vietnã para frear a invasão chinesa naquele mercado.
Mas o maior desafio para o novo executivo está no segmento de automóveis, no qual a marca japonesa obteve a participação de 4,41% no primeiro semestre. O novo vice-presidente assume no momento em que a marca acaba de lançar o terceiro carro produzido no Brasil, o sedã City. Esse automóvel deveria ser o primeiro fabricado na Argentina. Mas, por conta da crise no país vizinho, a empresa adiou a operação.
Mizoguchi diz que um dos problemas no mercado brasileiro é que a empresa ainda não entrou na faixa de preços mais acessíveis. "Mas não temos pressa em crescer", avisa.
Fonte: Valor