Escrito por: CNM CUT
Fundada em 1908, empresa já foi maior montadora do mundo e maior empregadora privada dos EUA, com 618 mil funcionários
A centenária montadora norte-americana, General Motors, deu entrada nesta segunda-feira (1) em pedido de concordata com base no capítulo 11 do código de falência dos Estados Unidos. Na ativa desde 1908, a automobilística põe fim ao período turbulento que marcou suas operações no último ano, dando início a um processo de recuperação judicial.
A história da GM remonta ao início da expansão do mercado automobilístico nos Estados Unidos, no começo do século XX. A empresa foi criada por William "Billy" Durant em 16 de setembro de 1908, contando apenas com as operações da Buick Motor Company.
Em seus mais de 100 anos de existência, a General Motors expandiu suas operações, comprou, vendeu e encerrou diversas marcas, como Cadillac, Oldsmobile, Pontiac, Chevrolet, Vauxhall e Opel. Porém, tendo sobrevivido a diversos períodos turbulentos, como a Depressão, as pressões sindicais e a globalização, essa é a primeira vez que a empresa recorre à recuperação judicial.
O início do século XX
A história da General Motors não pode ser dissociada da história da indústria automobilística global. Carros como o Cadillac El Dorado, o Corvette e o Camaro são símbolos da época de ouro do setor. A criação da GM, no início do século passado, teve como objetivo principal suprir a demanda de um mercado automobilístico crescente.
Nas primeiras décadas de 1900, a recém-criada montadora optou pelo crescimento através de aquisições, adicionando não apenas diversidade em seu mix de produtos como também aumentando seu alcance nos Estados Unidos e em outras regiões. Em 1954, a GM atinge os 54% de participação no mercado norte-americano.
Diversos dos nomes que hoje fazem parte do noticiário referente à crise da General Motors foram incorporados à empresa no início de suas operações. Em 1919, a GM criou seu braço financeiro, a Gmac, cuja participação majoritária seria vendida em 2006. Dez anos depois, a montadora compra 80% da alemã Opel, atualmente peça chave nas discussões de reestruturação da companhia.
Anos dourados
Assim como grande parte das indústrias norte-americanas, a GM enfrentou uma forte turbulência durante as mudanças políticas e econômicas que permearam os anos 1930. Na época da Segunda Guerra Mundial, entretanto, a situação da empresa voltou a melhorar.
"Durante a guerra, a GM forneceu aos Aliados mais bens do que qualquer outra companhia. Nos anos 1940, o antigo presidente da GM, Willian Knudsen, foi escolhido pelo presidente Roosevelt como chairman do novo Wartime Office of Production Management. Em 1942, 100% da produção da GM era em apoio ao esforço de guerra dos Aliados. A GM entregou mais de US$ 12 bilhões em materiais incluindo aviões, tanques e caminhonetes", conta a companhia.
Em 1954, marcando uma participação crescente no mercado automobilístico norte-americano, a GM atinge os 54% de market share. Pouco mais de uma década antes, em 1941, a participação da empresa era de 44%.
Nos anos 1960 e 1970, as transformações na indústria continuaram, com o aumento das pressões ambientalistas. A General Motors reestruturou suas operações, reduziu o tamanho dos carros e melhorou a eficiência de combustível. Nesse contexto, a empresa gaba-se de ter sido a primeira a oferecer air bags e catalisadores em seus veículos, além de ter fabricado o sistema de navegação para o Apollo 11 e o primeiro veículo a andar na Lua, anexado ao Apollo 15.
Marcando essa época, em 1979 a General Motors constou em primeiro lugar na lista das maiores empregadoras privadas dos Estados Unidos, somando 618.365 funcionários e colaboradores. Atualmente esse número caiu para 230 mil.
Anos 1980 e 1990.
As últimas décadas do século XX foram marcadas por uma decadência da General Motors, com crescentes problemas e a perda de market share. A empresa adquiriu participação em diversas marcas, como a inglesa Lotus e as japonesas Subaru e Isuzu, que depois foram vendidas no decorrer da década de 1990.
Em 1987, os lucros da Ford ultrapassam os da General Motors pela primeira vez. Em 1995, o market share da companhia nos Estados Unidos cai para 31%. Porém, mesmo em meio aos problemas, há pontos positivos. Neste mesmo ano, a empresa afirma que suas "vendas anuais de veículos fora da América do Norte ultrapassaram 3 milhões de unidades pela primeira vez".
A decadência: anos 2000
O ano 2000 começou com um acordo em que a General Motors adquiriu 20% da Fiat em troca de US$ 2,4 bilhões de suas ações. Porém, entre 2001 e 2005, a empresa lançou diversos planos de reestruturação das operações na Europa, visando a redução de custos por meio do fechamento de plantas e demissões de funcionários.
Junho de 2008 marca o início da queda da GM, com a possibilidade de venda da marca Hummer. Em julho, a empresa anunciou planos de cortar US$ 10 bilhões de custos e levantar recursos de até US$ 5 bilhões com a venda de seus ativos. Após o fracasso de conversas sobre uma fusão com a Chrysler, a General Motors prevê, em novembro, que estaria insolvente em meados de 2009.
Em 2 de dezembro, a General Motors pede US$ 18 bilhões ao governo, ajuda que chega no dia 19, quando o governo empresta US$ 17,3 bilhões para a montadora e sua rival Chrysler. Em janeiro de 2009, em meio aos problemas operacionais e queda das vendas nos Estados Unidos, a GM perde o posto de maior montadora do mundo para a japonesa Toyota.
Os esforços de redução de custos continuam em 5 de fevereiro, quando a empresa anuncia um corte de 14% em seu quadro de funcionários e reduz o pagamento dos executivos. Em 17 deste mesmo mês, a GM aumenta a solicitação de ajuda ao governo norte-americano para US$ 30 bilhões e anuncia o fechamento de cinco plantas e novos cortes na força de trabalho até 2012.
Reta final
Em março, após a montadora ter anunciado perdas de US$ 30,9 bilhões em 2008, os auditores da GM começam a levantar dúvidas sobre sua habilidade de sobreviver sem ajuda judicial. Os problemas levam à substituição do CEO Rick Wagoner por Fritz Henderson em 30 de março, a pedido do governo norte-americano.
Em 27 de abril, a empresa apresenta ao governo o plano de reorganização, com corte de dívidas e redução de mais 21 mil postos de trabalho nos Estados Unidos. O plano, detalhado em 5 de maio, seria de emitir 60 bilhões de novas ações para pagar a dívida ao governo, aos credores e ao sindicato dos trabalhadores. Em 15 de maio, seguindo anúncio de prejuízos de US$ 6 bilhões no primeiro trimestre de 2009, a GM anuncia planos de se desfazer de unidades menores.
Em 22 de maio, a empresa consegue mais US$ 4 bilhões em empréstimos do governo norte-americano. Em 27 de maio, o plano da empresa de trocar US$ 27 bilhões em títulos por uma participação de 10% na empresa reorganizada fracassa, de forma que, em 28 de maio, o Tesouro e a GM fazem uma nova oferta aos credores, com a participação de 10% mais a opção de adquirir outros 15% na nova empresa.
Depois de todas as tentativas, em 1º de junho, a empresa entra com o pedido de concordata na Corte de Falência dos Estados Unidos. Os problemas foram acompanhados pelo desempenho das ações: desde que começou a ser negociada na bolsa, em 13 de janeiro de 1978, até esta segunda-feira, as ações da GM marcam uma queda de mais de 96%.
Fonte: Informoney