Escrito por: CNM CUT

Estaleiros ocupam áreas importantes da região de Rio Grande (RS)

Do alto do pórtico com 85 metros de altura e 130 metros de largura, dotado de um guindaste capaz de erguer peças de 600 toneladas, é possível avistar toda a dimensão do Estaleiro Rio Grande (ERG) destinado à montagem de plataformas para exploração de petróleo e gás que está sendo construído pela WTorre. A obra começou em março de 2006, foi interrompida durante oito meses para a ampliação do projeto a pedido da Petrobras e deverá estar em condições de operação até fevereiro de 2010, afirma o diretor da construtora, José Hagge Pereira.

O investimento, de R$ 840 milhões, inclui dique de 350 metros de comprimento por 133 de largura de onde a água do mar poderá ser bombeada para permitir o trabalho nas plataformas em terra, além de uma oficina para processar 1,5 mil toneladas de aço por mês. A Petrobras licitou a obra, participa com 79% dos recursos e utilizará a estrutura durante dez anos. A WTorre, que ficará com os ativos depois desse período, está investindo os 21% restantes.

A estreia do ERG será no início de 2010, com a montagem de módulos da plataforma P-55 (o caso está sendo fabricado no porto pelo Estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco), que deve operar em 2011. A obra será executada pelas construtoras Queiroz Galvão, UTC e Iesa Engenharia, as mesmas que em 2008 montaram os módulos da P-53, ainda em área junto ao cais público do porto. A WTorre tem a expectativa de que o dique receba a construção dos oito cascos de navios-plataforma que a Petrobras está licitando para operar no pré-sal.

Segundo Hagge, a construtora pretende aportar mais R$ 330 milhões por conta própria em dois projetos integrados ao atual: o ERG 2, para produzir embarcações de apoio às plataformas e ampliar a capacidade de processamento de aço no local; e o ERG 3, onde o plano é instalar um condomínio para fornecedores. A ideia é concluir ambos até 2011. A Metasa, fabricante de estruturas metálicas, já anunciou a instalação de uma unidade em área própria até 2011, com capacidade de processamento de 80 mil toneladas anuais e investimentos de R$ 370 milhões.

Mas a WTorre não terá o único estaleiro do porto gaúcho. A Wilson,Sons, que no ano passado investiu US$ 50 milhões na ampliação do Terminal de Contêineres (Tecon) de Rio Grande, planeja aplicar o mesmo valor em uma unidade para a construção de embarcações de apoio off-shore especializadas em operar âncoras de plataformas de petróleo e gás e em rebocar grandes estruturas oceânicas (as AHTS).

Conforme o diretor de estaleiros do grupo, Arnaldo Calbucci, a obra começa até o início de 2010 e será concluída em até dois anos e meio. A capacidade de produção deve ser o dobro de Guarujá (SP), onde a empresa fabrica duas unidades por ano de uma embarcação um pouco menor, conhecida como PSV, destinada a transportar suprimentos para as plataformas. Segundo a superintendência do porto, a Queiroz Galvão também tem um projeto de estaleiro para Rio Grande, mas a empresa não se manifestou a respeito.

PAC vai garantir ampliação de 30% na capacidade de movimentação

Roks, diretor da Jan de Nul, responsável pela dragagem: "Trabalho 24 horas por dia"
Dois projetos para melhorar a infraestrutura operacional do porto gaúcho já estão em curso. Um deles é a dragagem do canal de acesso orçada em R$ 196 milhões, sendo 75% financiados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e 25% pelo Estado. Outro é o prolongamento dos molhes da barra, que vai exigir mais R$ 445 milhões do PAC. Segundo o ministro especial de Portos, Pedro Brito do Nascimento, só esses investimentos vão ampliar em cerca de 30% a capacidade de movimentação de cargas em Rio Grande.

Conforme o ministro, em novembro também será lançado o edital de licitação para as obras de modernização de 1,1 mil metros do cais público no porto, que vão exigir outros R$ 120 milhões do PAC para permitir a operação de navios e guindastes de maior porte. Ao mesmo tempo, o governo estadual planeja investir R$ 130 milhões para ampliar o calado navegável no local de 31 para 40 pés.

A dragagem do canal de acesso, a cargo do consórcio formado pela Odebrecht e pela belga Jan de Nul, começou em agosto e será concluída em dez meses. A obra vai aprofundar o canal interno (entre os molhes) de 14 para 16 metros, o que representa a ampliação do calado navegável de 40 para 46 pés, e permitirá o carregamento adicional de 12 mil toneladas (cada pé de calado representa 2 mil toneladas a mais) nos navios que chegam aos terminais privados, localizados antes do cais público, conforme a superintendência do porto.

Hoje, segundo a autarquia, esses navios operam com carga média de 60 mil toneladas. "Com a dragagem, Rio Grande se credencia para ser um hub port (porto concentrador) de cargas para o Brasil, Argentina e Uruguai", diz o diretor da Odebrecht Serviços de Engenharia, Mauro Darzé. No cais público, a dragagem prevista pelo Estado aumentará a capacidade de carga das embarcações de 40 mil para quase 60 mil toneladas.

O trabalho no acesso ao porto é pesado. A bordo da draga "Juan Sebastian de Elcano", o diretor comercial da Jan de Nul no Brasil, o holandês Marco Roks, diz que o aprofundamento compreende trecho de 25 quilômetros entre o canal interno e o externo - além dos molhes, onde a profundidade irá a 18 metros. Capaz de armazenar 16,5 mil metros cúbicos de sedimentos extraídos do fundo do mar por dois grandes aspiradores, a embarcação faz nove viagens por dia do ponto de escavação ao local onde o material é descarregado, a 20 quilômetros da costa.

A tripulação é formada por 33 pessoas que se revezam em três turnos durante 24 horas por dia, sete dias por semana. Os 15 brasileiros ficam três semanas a bordo e três em terra, enquanto 18 belgas, holandeses e croatas cumprem períodos de seis semanas na draga e o mesmo intervalo em seus países de origem. Para suportar o isolamento prolongado, dispõem de uma boa infraestrutura, com alojamentos individuais, academia de ginástica, restaurante e até um "pub" para descontrair.

Junto com a dragagem, o PAC está financiando o prolongamento dos molhes que funcionam como quebra-mar para proteção do canal de acesso. Realizada desde 2007 pelo consórcio CBPO Engenharia (subsidiária da Odebrecht), Pedrasul Construtora, Carioca Christiani-Nielsen Engenharia e Ivaí Engenharia, a obra ajudará a evitar o assoreamento do canal e deve ficar pronta em abril de 2010, diz Darzé, da Odebrecht. O braço oeste será ampliado em 700 metros, para 3,8 quilômetros, e o leste em 350 metros, para 4,55 quilômetros.

Fonte: Valor