Escrito por: CNM CUT

Executivo do grupo Vallourec é novo presidente da Usiminas

Já foi definida uma das sucessões mais esperadas na indústria do aço brasileira. O novo presidente executivo da Usiminas, a partir de maio, será Marco Antonio Castello Branco, hoje o único estrangeiro no comitê executivo da multinacional francesa de tubos Vallourec, na França. Castello Branco, mineiro, 48 anos, engenheiro metalúrgico formado na UFMG e com mestrado e doutorado na Alemanha, vai ocupar a cadeira que Rinaldo Campos Soares, que completa 70 anos em 2008, ocupa desde 1990.

Embora tenha ingressado na antiga Mannesmann (atualmente V&M Tubes), em Belo Horizonte (MG) como engenheiro metalúrgico em 1984, Castello Branco a partir de 2000 fez uma carreira meteórica dentro da Vallourec. Em 1999, já era membro do comitê executivo da Mannesmann e, no ano seguinte, após a fusão da francesa com o a alemã, tornou-se principal executivo da Vallourec Mannesmann do Brasil. Desde 2006, é membro da direção da multinacional e é o único estrangeiro no comitê executivo do grupo francês, onde responde pela área de tubos de aço laminados à quente. No Brasil, é presidente do conselho da subsidiária da V&M Tubes.

Segundo investidores, o perfil de executivo global de Castello Branco, com exposição no mercado internacional, é o que a Usiminas precisa. A siderúrgica mineira é considerada conservadora, com pouca exposição fora do Brasil, e seu futuro está na internacionalização. Alguns de seus acionistas, como Votorantim, Camargo Corrêa e Vale do Rio Doce já têm grande expertise nos mercados globais. Um executivo operacional com esta vivência é visto no setor como 'o sangue novo' que vai inaugurar uma nova fase de expansão dos negócios da empresa. O principal desafio de Castello Branco será o de tornar a Usiminas uma empresa com mais atuação no exterior.

Atualmente, a siderúrgica só é exportadora (pouco mais de 20% do que fabrica) e tem uma participação minoritária de 14,25% na Ternium, companhia latino-americana de aço controlada pelo grupo argentino Techint.

A troca na direção executiva da empresa gera expectativas de mudanças também no seu grupo de diretores nos próximos 18 meses. 'Mas, nada será muito rápido na usina de Ipatinga (MG), que tem uma cultura própria muito enraizada', destaca uma fonte que conhece bem a empresa. Lembra que a Usiminas teve que buscar um executivo de fora neste processo de mudança de estratégia porque não formou quadros.

A importação de executivos brasileiros com sucesso lá fora não é uma novidade. A Odebrecht fez isto quando escolheu José Carlos Grubisich para presidir a recém-criada Braskem, seu braço petroquímico. Grubisich era alto executivo da Rhodia, na França. O Brasil também se destaca como um grande exportador de profissionais. É o caso de José Francisco Martins Viveiros e Nelson Silva, ambos ex-Vale. Viveiros trabalha como diretor-executivo da área de mineração da Arcelor Mittal e Silva é diretor mundial de alumínio da BHPBilliton, ambos em Londres.

Soares é presidente da Usiminas desde quando ela era estatal. Comandou seu processo de privatização, em 1991, se manteve no cargo, adquiriu a Cosipa em 1993 e outras empresas, formando um grupo de 16 companhias. Apaixonado por futebol - até pouco tempo atrás integrava uma equipe de Ipatinga -, conseguiu impor uma cultura própria no comando da empresa e ganhou a confiança dos sócios japoneses, liderados pela Nippon Steel.

Todo ano, em maio, o executivo faz o mesmo ritual: vai a Tóquio apresentar os resultados e planos da empresa aos japoneses. Seus laços com o Japão se tornaram tão fortes que foi apontado, em 1997, cônsul do país em Minas.

Reconhecido como o maior expert em siderurgia do país - está na empresa desde 1970, onde começou pelo chão de fábrica - Soares recebe elogios e críticas pela sua postura conservadora à frente da empresa. A Usiminas passou maus momentos em 20001/2002, com elevado endividamento, mas também tem exibido gordos lucros nos últimos anos e as ações tiveram expressiva alta na Bovespa.

Hoje, como um sistema empresarial com faturamento bruto na casa de R$ 15 bilhões, a Usiminas é a maior produtora de aços planos do país (8,8 milhões de toneladas). É vista como uma empresa desalavancada (com dívida inferior à geração de caixa), mas a que apresenta o crescimento mais lento do setor no país. Nos últimos cinco anos perdeu a liderança da produção de aço bruto para a ArcelorMittal e neste ano para o grupo Gerdau.

A Usiminas, na ótica de investidores, deveria ter iniciado seus projetos de expansão entre 2004 e 2005. Os projetos atuais, de expansão da usina de Ipatinga e montagem de uma nova em Cubatão, ao lado da Cosipa, só vão render frutos a partir de 2012, quando adicionará mais 3 milhões de toneladas e 2014, com outro tanto. Todo o ciclo de alta dos preços dos produtos siderúrgicos em curso não foi aproveitado devidamente pela companhia, afirmam especialistas. 'O forte conservadorismo da empresa atrasou seu crescimento', observam fontes da indústria.

No cenário atual, de demanda aquecida no país, a Usiminas vê crescer a concorrência de ArcelorMittal, Gerdau e CSN em território que dominava, como o de chapas grossas. CSN e a ArcelorMittal poderão ganhar participação de mercado sobre a Usiminas em mercados importantes, como o automotivo, de construção, linha branca e de equipamentos e máquinas.

Uma das tarefas dele é, tão logo assuma o comando em maio - depois que o conselho de administração sacramentar seu nome em assembléia em abril -, é acelerar os projetos atuais e buscar alternativas de crescimento. Uma passa pela internacionalização, como fizeram outros grupos - Gerdau e Techint, apontando a América Latina. Segundo investidores, correrá o risco de só chegar no fim da festa, iniciada em 2004. Uma saída seria fazer um acordo com a Ternium, de unirem forças para crescer.

Segurança na hora de tomar decisões difíceis

Marco Antônio Castello Branco é reconhecido pela firmeza com que defende seus pontos de vista e pela segurança com que toma decisões difíceis. O engenheiro mineiro iniciou a vida profissional em 1983 como estagiário na antiga Mannesmann. Em 2000, antes de completar 40 anos, chegou à presidência da maior siderúrgica de tubos sem costura do país.

Entre 2000 e 2003, Castello Branco comandou uma verdadeira revolução na história da empresa. Com o apoio dos franceses do grupo Vallourec, que assumiram o controle da siderúrgica no início da década, o executivo apostou na modernização da gestão e no reposicionamento da empresa no mercado para interromper um longo ciclo de prejuízos.

Como V&M do Brasil, a indústria abandonou a produção de commodities, como os aços laminados, e focou em produtos de alto valor agregado, com soluções sofisticadas para diferentes aplicações industriais. A impressionante reviravolta na história da siderúrgica brasileira chamou a atenção da cúpula do grupo Vallourec.

Em meados de 2004, aos 43 anos, o brasileiro foi convidado a assumir a presidência da divisão de tubos laminados a quente do grupo, na França. Castello Branco mudou-se para a Europa com a mulher e o filho em julho daquele ano mas continua vindo ao Brasil com freqüência. A pedido dos franceses, acumula o cargo na França com a presidência do conselho da V&M do Brasil. Da Europa, continua ditando estratégias para a subsidiária brasileira.

A divisão de tubos laminados a quente - com duas aciarias, uma na França e outra da Alemanha - responde por 1,8 milhão de toneladas, quase 70% da produção mundial da multinacional que é de 2,7 milhões de toneladas. 'Existe um potencial de sinergia entre as usinas do Brasil, da França e da Alemanha', explicou Castello Branco ao Valor, quando mudou-se para a França. Segundo ele, a siderúrgica brasileira havia atingido um padrão que era referência para as usinas da Europa.

Como membro da alta direção do grupo Vallourec, Marco Antônio Castello Branco foi um dos principais responsáveis pela decisão do grupo de investir numa segunda usina no Brasil. O país concorreu com outros nove países candidatos - entre eles Rússia, Índia e China - e foi escolhido para sediar uma usina apta a produzir 1 milhão de toneladas de aço por ano, investimento de US$ 1,6 bilhão em parceria com o grupo japonês Sumitomo Metals.

'Encontramos custos semelhantes em outros países, mas os riscos eram maiores que os do Brasil', justificou na época. A experiência de sucesso no Brasil, na usina da V&M em Belo Horizonte, foi decisiva para convencer os japoneses de que o lugar ideal para o investimento era Jeceaba, cidadezinha a 100 km da capital mineira.

As negociações para o investimento tiveram início em 2006 e só foram concluídas no ano passado. Em mais de um ano de estudos de viabilidade econômica, Castello Branco esteve à frente das negociações com o governo de Minas, representado pelo então secretário de desenvolvimento econômico, Wilson Brumer. Ex-presidente da Vale e da Acesita, Brumer é hoje um dos membros do conselho de administração da Usiminas.

Com doutorado na Alemanha, concluído em 1989, Castello Branco é reconhecido pelos pares como um grande conhecedor da siderurgia brasileira e mundial, o que lhe garante agilidade na avaliação de cenários nesse setor. Didático, o executivo costuma falar de forma bastante simples e clara de forma a se fazer compreendido pelo menos entendido dos interlocutores.

Tanto Castello Branco, quanto dois outros candidatos ao cargo, foram ao Japão para avaliação do alto comando da Nippon Steel. Seu nome foi aprovado sem nenhuma restrição por parte dos japoneses.

Fonte: Valor