Escrito por: CNM CUT

Fabricação de navios: Rio Naval fica sem área para atender Transpetro

A construção de nove grandes navios petroleiros no antigo estaleiro Ishibrás corre sério risco de não ir adiante. O projeto está parado há cerca de seis meses por um impasse que coloca em lados opostos o consórcio Rio Naval, que tem contrato com a Transpetro para fazer as embarcações, e os donos das instalações do estaleiro: a Inepar Administração e Participações (IAP) e a Fator Empreendimentos, holding do banco Fator.

O conflito pode forçar o Rio Naval, liderado pelo grupo MPE, a procurar outro lugar para fazer os navios, com custo estimado em US$ 1,1 bilhão. Se não encontrar outra área, o MPE pode desistir do projeto dos navios, encomendados pela Transpetro, subsidiária de logística da Petrobras. A encomenda faz parte de um pacote de 26 embarcações. Nesta hipótese a Transpetro poderia até ser obrigada a fazer nova licitação.

A discussão entre MPE, Inepar e Fator refere-se ao contrato de arrendamento da área do estaleiro. O Rio Naval assinou um contrato de arrendamento das instalações do estaleiro por cinco anos com os donos da área e, em um segundo momento, abriu negociação para estender o contrato por 20 anos. As discussões também passam por ampliar a área alugada para todo o terreno do estaleiro, que ocupa 400 mil metros quadrados. No contrato original foi arrendada apenas uma parte da área.

Renato Ribeiro Abreu, presidente do MPE, diz que na negociação os donos pediram preço muito alto pelo metro quadrado, o que inviabiliza o negócio. Ele não deu números, mas o Valor apurou que no contrato original o metro quadrado foi fixado em cerca de R$ 7 e na renegociação foi pedido R$ 15 por metro quadrado. Abreu disse que enviou carta dizendo até quanto poderia chegar e ontem a resposta foi dada: pelo preço que o Rio Naval estaria disposto a pagar não há acordo.

Manoel Horácio Francisco da Silva, presidente do banco Fator, disse que após a assinatura do contrato com o Rio Naval para uso da área o consórcio não conseguiu dar ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) as garantias necessárias para levar adiante o projeto. O BNDES é o agente financeiro do Fundo da Marinha Mercante (FMM), que financia a construção dos navios. O banco informou, por sua assessoria, que as liberações de recursos não começaram porque não foram atendidos alguns requisitos.

Segundo fontes do setor, o Rio Naval tentou atrair outros sócios para o projeto. Mas para entrar no negócio os parceiros teriam exigido mudanças nas condições do contrato original, entre as quais arrendamento de mais 15 anos e ampliação da área. Comenta-se no mercado que a Odebrecht negociou parceria com o Rio Naval. "Não fomos nós que inviabilizamos o Rio Naval", disse Silva.

A Fator Empreendimentos e a Inepar controlam a área do antigo Ishibrás por meio da GFS, uma sociedade de propósito específico que comprou, no ano passado, 100% das instalações da Companhia Brasileira de Diques (CBD), dona das instalações do estaleiro. A CBD pertencia à Indústrias Verolme Ishibrás (IVI), empresa de Nelson Tanure.

Silva confirmou que os donos do terreno têm plano de transformar o estaleiro em uma unidade ativa de prestação de serviços para a indústria naval e offshore. Fontes do setor dizem que o bom momento da indústria de óleo e gás, com as novas descobertas de reservatórios pela Petrobras, despertou um maior interesse das empresas em construir navios e plataformas no Brasil. A estimativa é que para dar condições competitivas ao antigo Ishibrás seria preciso investir US$ 100 milhões. Inicialmente o Rio Naval pretendia investir US$ 20 milhões no estaleiro. Os rumores no mercado são de que, em última instância, o governo do Estado poderia tentar desapropriar a área.

MPE estima dobrar faturamento em 2008

O MPE, com negócios nas áreas de engenharia, montagem e agronegócios, tem em carteira projetos que lhe permitirão dobrar o faturamento em 2008 em relação a 2007. O MPE, uma sociedade anônima de capital fechado, teve receita bruta de R$ 527,8 milhões no ano passado. O número exclui receita de cerca de R$ 114 milhões obtida pela Ebse, fabricante de tubos na qual o MPE tem 51% do capital. Os outros 49% pertencem ao governo do Estado do Rio.

Renato Ribeiro Abreu, presidente do MPE, disse ontem, ao comentar os resultados financeiros do grupo em 2007, que a Ebse tem interesse na compra dos 49% que estão em poder do Estado. Na privatização da Ebse, o MPE pagou R$ 900 mil para assumir o controle da empresa a aportou outros R$ 5 milhões para cumprir obrigações da companhia.

Segundo Abreu, a carteira do MPE alcança R$ 3,5 bilhões em projetos a serem realizados em um período de 36 meses. A previsão de Abreu é que o faturamento do MPE alcance R$ 1,1 bilhão em 2008 e R$ 1,6 bilhão, em 2009. Só na área de petróleo e mineração, o MPE tem em carteira projetos que somam R$ 2,7 bilhões. São projetos de unidades em refinarias da Petrobras e gasodutos. Também está no pacote projeto de infra-estrutura para a expansão da mina de Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

O executivo informou que o resultado em 2007 foi impulsionado pelas áreas de petróleo, energia, transporte e siderurgia. "Metade da receita foi obtida com projetos para a Petrobras, percentual que deve ficar em 65% em 2008." O lucro consolidado do grupo no ano passado foi de R$ 27 milhões.

Fonte: Valor