Escrito por: CNM CUT
A Whirlpool, fabricante das marcas Brastemp e Consul, vai acelera o número de lançamentos no país em pelo menos 20% neste ano. Em 2007, lançou mais de 100 itens, ritmo equivalente a dois novos produtos por semana.
Embora a melhora da eficiência energética seja um dos apelos dos lançamentos, e o consumidor se mostre mais sensível a essa questão, por enquanto, a principal atração ainda são os novos acessórios incorporados à linha branca.
"O consumidor responde mais do que no passado ao apelo da eficiência energética. Há alguns indicativos de que está começando a trocar o refrigerador por conta disso, mas isso ainda não é o maior motivador da troca, e sim o acessório novo", diz o vice-presidente de Desenvolvimento de Produtos, Rogério Martins. A Whirlpool melhorou, na última década, em cerca de 50% a eficiência energética das geladeiras. A meta é melhorar em mais 20% nos próximos 10.
Diante desse comportamento, a estratégia da empresa é lançar produto com novo design ou novo acessório e que consuma menos energia. E, na fábrica, reduzir custos. Um exemplo desse tripé da área de inovação é a geladeira Consul de uma porta, com compartimento do lado de fora da porta que permite encher um copo de água, por exemplo, sem abrir a geladeira. Neste caso, os custos de fabricação foram reduzidos em cerca de 50%. É um dos produtos de maior venda da empresa.
Recentemente, a Whirlpool fechou um acordo com a Braskem para aumento, de 30% para 70%, do uso do polipropileno nas suas lavadoras. O plástico já chegou a vários produtos em substituição ao aço, como a parte interna do refrigerador, por exemplo, e nos gabinetes das lavadoras. "Em algumas situações, ele é mais competitivo, mas não em todas as soluções", diz Humberto Barros Silva, gerente geral de manufatura. No gabinete do refrigerador, por exemplo, esse tipo de plástico dificilmente é aplicado, ainda que tenha existido uma experiência em 2001. "Para viabilizar um gabinete de um refrigerador em plástico fica mais caro", diz.
Ainda que haja mudanças nos modelos e avanços na eficiência energética, a tarefa de convencer o brasileiro a substituir a geladeira antiga por uma nova não é fácil. Há décadas, o tempo médio de troca de um refrigerador está em 15 anos. A linha branca tem cada vez mais concorrido com outras prioridades de compra das famílias. "Temos que ser atrativos da mesma forma que é atrativo renovar carro e mudar de aparelho de celular", considera Martins.
A área de inovação recebeu recentemente investimentos de R$ 10 milhões, aplicados no centro de pesquisas em Rio Claro (SP). Além deste, há outros dois centros de pesquisa, localizados em Joinville (SC). Nos últimos anos, a Whirlpool vem realizando uma aproximação maior com universidades a partir do Prêmio Inova, que premia idéias de pesquisadores aplicadas à linha branca, e também vem ficando mais perto do consumidor, com um programa que o leva para dentro da fábrica para dar palpites sobre seus produtos.
"Temos investido, além do suporte tecnológico, em garantir o entendimento daquilo que o consumidor espera do produto", diz Martins. "É preciso investir em atratividades que façam sentido para o consumidor. Muitos dos nossos concorrentes mundiais procuram trazer soluções mundiais para os consumidores brasileiros. Pegam um produto de refrigeração que vendem em Moscou, Nova York ou Cidade do México, e trazem também para o Brasil. Mas o consumidor tem suas particularidades, ainda que existam muitas tendências globais".
Para entender o consumidor, em Joinville, atualmente de 20 a 30 pessoas por mês são convidadas a passar algumas horas no Laboratório de Usabilidade, diante de um produto da empresa, fazendo observações, deixando filmar suas ações e indagações sobre o eletrodoméstico. Esse laboratório, antes com 8 profissionais, há poucos meses passou para 12, e sua área física foi aumentada, com a experiência com a marca Consul sendo separada da experiência com produtos Brastemp e KitchenAid, pela própria divisão de público-alvo de cada marca, sendo essas duas últimas voltadas à classe de renda mais alta.
A empresa também tem invertido essa experiência, levando funcionários da área de desenvolvimento de produtos até a casa do potencial cliente. Não basta mais uma pesquisa teórica sobre hábitos de consumo no interior de uma cidade, é preciso passar um período observando como aquele consumidor se comporta. "Ele precisa ver como a pessoa come e o que ela come", diz Martins.
Além disso, no caso das universidades, por meio do Prêmio Inova, que neste ano teve sua segunda edição, a empresa vem montando parcerias com universidades, conseguindo não só ter acesso a projetos de inovação, mas também a um mapeamento dos centros de competência em linha branca no país. "Se eu tiver no futuro que trabalhar, por exemplo, com uma parceria na área de vibração, sei qual é a universidade que vai me sustentar melhor. Também tenho crescimento natural dos centros de desenvolvimento da empresa, então eu sei quais são os celeiros. Se eu preciso de um talento ou se o identifico mesmo sem precisar, eu trago ele para a empresa", explica Martins.
A empresa, que detém 40% do mercado brasileiro de linha branca, aplica 2,5% do faturamento anual em P&D. Segundo Martins, a empresa vem mantendo sua participação mercado em 40%, um patamar que ele considera bom, considerando o aumento da concorrência no segmento, principalmente com importados. O faturamento da Whirlpool S/A, que compreende a unidade Eletrodomésticos no Brasil e a Embraco no Brasil e no exterior, no ano passado foi de aproximadamente R$ 6 bilhões.
Fonte: Valor