Escrito por: CNM CUT

Fabricante de motores: dono da Lifan quis levar fábrica do Brasil

A idéia era desmontar a Tritec e reconstruí-la na China

O empresário chinês Yin Mingshan, de 70 anos, foi notícia no mundo todo quando anunciou em 2006 que pretendia comprar uma fábrica de motores de carros no Brasil, desmontá-la e reconstruí-la a 17,6 mil quilômetros de distância, em Chongqing, onde fica o quartel-general do Grupo Lifan, um dos maiores produtores de motocicletas do país asiático.

O negócio não saiu por resistência do governo brasileiro, e a fábrica da DaimlerChrysler e da BMW, localizada em Campo Largo (PR), acabou vendida para a Fiat. Mas Yin continua de olho nela, apesar de ter desistido da idéia da transferência. Também está determinado a investir no Brasil na produção de biocombustíveis e na fabricação de motos e carros, negócio no qual entrou há pouco mais de dois anos.

"Se nós ainda pudermos falar sobre a compra da fábrica de motores, será muito dinheiro, algumas centenas de milhões de dólares. Mas, se formos considerar somente a construção de uma montadora, será menos de US$ 100 milhões. Se o investimento em biocombustíveis for bem-sucedido, o valor total será superior a US$ 100 milhões", disse o empresário na sede da Lifan, em Chongqing, no centro-sul da China.

Acusado de contra-revolucionário no fim da década de 50, Yin Minghsan passou 20 anos de sua vida entre a prisão, a zona rural e campos de trabalho forçado, enfrentando ainda eventuais sessões públicas de humilhação promovidas por guardas vermelhos durante a Revolução Cultural, entre 1966 e 1976.

Entre os livros que o marcaram naquele período estão Seara Vermelha e São Jorge dos Ilhéus, do brasileiro Jorge Amado (1912-2001), que considera "obras-primas". Outro elemento de ligação com o Brasil é a paixão pelo futebol, que o levou a comprar um time profissional em 2000, o Chongqing Lifan, que disputa a segunda divisão e conta com um brasileiro, Alberto Conceição dos Santos. Apesar disso, nunca visitou o Brasil, o que espera fazer até 2009.

Reabilitado após o início do processo de reforma e abertura, em 1978, Yin começou seu negócio em 1992, quando tinha 55 anos. Hoje, é um dos mais bem-sucedidos empresários do país e tem ótimas relações com o governo. Apesar de não ser filiado ao Partido Comunista, tem uma bandeira da organização na sua mesa e, desde 2003, integra a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, órgão de aconselhamento do governo - pelo menos em tese.

A Lifan tem 13,7 mil empregados e suas vendas aumentaram 12 vezes nos últimos 10 anos, para US$ 1,6 bilhão em 2007. As exportações atingiram no ano passado US$ 409,6 milhões, uma alta de 14.400% em relação a 1998. As motos são vendidas a 128 países e os carros, a 47.

A ambição de Yin é transformar sua empresa em uma grande montadora de veículos, dentro do hipercompetitivo mercado chinês. Sua meta é fabricar 300 mil unidades em 2015, o que significa multiplicar por dez a produção em relação a 2006, quando lançou o sedã Lifan520, que utiliza motores Tritec importados da fábrica no Brasil que sonhava comprar.

A China é hoje o segundo maior mercado automobilístico do mundo, com vendas que podem chegar a 9,5 milhões de unidades este ano. A fatia das empresas chinesas nesse total é de 28%, segundo a consultoria J.D. Power, e as grandes do setor são Chery, Geely e Great Wall.

O mercado externo é crucial para a Lifan: apesar de exportar um terço da sua produção, o grupo obtém fora da China dois terços de seus lucros. E, apesar de pregar a inovação, Yin reconhece que utiliza a cópia como estratégia de crescimento. Mas afirma que só se apropria de elementos que não são mais protegidos por patentes. "Nós copiamos para crescer e isso não está errado. Mas só copiamos aquelas tecnologias que não estão mais sob a proteção da lei de patentes. Se as pessoas que desenharam calças e saias pedissem patentes e se comportassem como os japoneses, então todo mundo que anda nas ruas deveria pagar por usá-las." A japonesa Honda já iniciou várias ações contra a Lifan e, em 2005, conseguiu impedir que a concorrente continuasse a fabricar motos com a marca Honga.

Fonte: O Estado de S.Paulo