Escrito por: CNM CUT
Os familiares de Gilberto Toledo Pires de Almeida fizeram no dia 21 de março, que marca um mês da morte do funcionário da Gerdau da Bahia em uma explosão, um memorial na portaria da Empresa, com a intenção de que este episódio tão trágico não caia no esquecimento da sociedade baiana e brasileira.
Até o momento a família não recebeu nenhum relatório dos órgãos competentes.
Abaixo, o memorial feito pela família de Gilberto:
O dia 21 de Fevereiro de 2007 jamais será esquecido por nossa família, pois nesse dia perdemos nosso ente querido de forma muito cruel. Como de costume Gilberto Toledo Pires de Almeida Beto/Betinho para familiares e amigos) saiu para trabalhar às 13h e não mais retornou para o seio de sua família.
Por volta das 23h fomos informados que o nosso amado filho e irmão faleceu vítima de acidente de trabalho quando efetuava serviço de manutenção na empresa Gerdau-BA, onde trabalhava há 2 anos e oito meses como Técnico de Mecânica.
Até então sabemos que Gilberto preparava-se, acompanhado de outro colega, para trocar o miolo do forno na aciaria quando foram surpreendidos por uma explosão na plataforma acima do forno. Gilberto caiu às 18h20 da quarta feira dentro do forno que continha aço fundido a uma temperatura estimada em 1300ºC. Sendo que seu corpo só foi localizado duas horas depois e seu resgate foi feito pelos próprios colegas. O outro funcionário de prenome Marcos, que estava com Gilberto, foi arremessado para fora do forno sofrendo escoriações.
O nosso sentimento é de pesar e de indignação por perder uma pessoa tão querida e especial de forma tão drástica. Um jovem de 27 anos em pleno vigor de sua vida e que tinha muitos sonhos e objetivos: aspirava dar continuidade ao curso de Engenharia Mecânica; realizar as qualificações de Inspetor de Soldagem e Ultra-som; constituir sua família; dentre muitos outros, que foram brutalmente interrompidos.
É inconcebível aceitar que em pleno século XXI, um trabalhador morra de maneira tão brutal (carbonizado dentro de um forno) no exercício de seu trabalho em uma siderúrgica multinacional que opera em 9 países da América do Sul, América do Norte e Europa.
Nem nos países que praticam a pena de morte, os assassinos mais perigosos morrem de maneira tão cruel. Não tivemos nem o direito de abraçar ou de ver sua fisionomia pela última vez, por que seu corpo ficou carbonizado (torrado). Não conseguimos tirar da nossa memória este fato, que nos deixará para sempre angustiados e atormentados. Como pode uma pessoa sair para trabalhar e não mais retornar para seu lar?
Diante de tal situação ficam alguns questionamentos:
- Como explicar que num período de 4 anos o nosso Gilberto seja a 4ª vítima a morrer em conseqüência de acidentes fatais dentro da Gerdau-BA?
- Como explicar que num forno em que houve uma explosão em (21/02/07) que acarretou numa vítima fatal, seja colocado novamente em operação e volte a explodir em (03/03/07) em um espaço tão curto de tempo, acidentando pessoas e oferecendo risco de novas vitimas fatais?
- Sabe-se que neste forno as explosões eram constantes, sendo assim porque as Engenharias de projeto, manutenção, processo e segurança da Gerdau-BA, nunca tomaram iniciativa de efetuar melhorias na concepção do projeto e processo do forno com a finalidade de minimizar e ou eliminar os riscos de explosões?
- Quantos Beneditos, quantos Djalmas, quantos Gilbertos, quantos outros trabalhadores terão ainda que morrer dentro da Gerdau?
- Se esses acidentes fatais tivessem ocorrido nos Estados Unidos ou Canadá, quais seriam as sanções tomadas pelos Órgãos do Governo destes paises contra a Gerdau e quais os direitos dos familiares da vítima?
O nosso sofrimento e angústia são imensuráveis, pois tudo nos faz lembrar a sua presença: sua bíblia com a dedicatória para sua família, seu riso, seu rosto bonito, seu caráter, sua afabilidade com a família, seu bom humor, suas fotos, sua cama vazia, suas roupas, seus livros, seus certificados de qualificações profissionais, a falta do som da bateria que ele tocava no grupo de louvor da igreja IPI que freqüentamos, uma criança que passa, os jovens da sua idade que passam por mim, as pescarias que fazíamos juntos, o último dia 19/02/07 em passamos juntos (ele, eu e sua mãe) numa pescaria na ponte do funil na ilha de Itaparica, os jovens da nossa igreja, são muitas e muitas coisas e detalhes que sempre lembrarão do nosso querido Betinho.
Que essa morte prematura deste jovem trabalhador sirva de exemplo para uma mudança efetiva nos programas preventivos de segurança na Gerdau para que outras famílias não passem pelo mesmo tormento e sofrimento que estamos passando.
'Porque o Senhor é justo e ama a justiça o seu rosto está voltado para os retos' (Salmo 11:7)
Salvador, 21 de Março de 2007
Gilberto Toledo Garcia de Almeida e Família
e-mail: gilber_toledo@yahoo.com.br
Telefone: (71) 3241-7381 Cel.(71) 8138-2757