Escrito por: CNM CUT
Neste momento de comemorações do 1º de Maio, a partir de hoje a Tribuna do ABC publica uma série de artigos sobre o tema, que mesmo quando defendiam interesses de grupos, apontavam para a necessidade de uma sociedade justa
Revoltas e revoluções marcaram a história do Brasil desde que Portugal iniciou o processo de colonização. Primeiro, foram os índios, que lutaram contra a ocupação de suas terras por parte dos brancos.
Depois, setores da sociedade combateram o poder constituído por várias questões, seja política, comercial, religiosa ou de raça. Essas lutas permearam toda a história da constituição da sociedade brasileira, tanto no período do Brasil Colônia quanto na Monarquia e na República.
Neste momento de comemorações do 1º de Maio, a partir de hoje a Tribuna publica uma série de artigos sobre essas lutas que, mesmo quando defendiam interesses de grupos, apontavam para a necessidade de uma sociedade justa.
No Norte, potiguares resistem aos portugueses
Os índios não aceitaram passivamente a ocupação de suas terras pelo homem branco. Desde o início da colonização do Brasil os portugueses enfrentaram inúmeras revoltas indígenas e os exemplos de resistências mais significativos foram a Guerra dos Potiguares, ao Norte e Nordeste, e a Confederação dos Tamoios, no Sudeste.
A Guerra dos Potiguares aconteceu entre 1586 e 1599, mas os conflitos tiveram início tão logo foi criado o regime de capitanias hereditárias, em 1535, quando os portugueses começaram a implementar uma política de ocupação de terra.
Foi um fracasso a primeira expedição, ocorrida em 1536, para ocupar duas capitanias onde hoje estão Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão.
Eram 10 navios conduzindo 900 soldados, que partiram de Pernambuco para fundar uma colônia na foz do Rio Grande, hoje Natal. Lá chegando, foram expulsos pelos índios potiguares com dezenas de baixas.
Era forte a reação dos potiguares à presença branca, mesmo depois que os portugueses conseguiram criar um arraial no Rio Grande, provavelmente em 1582.
A partir do povoado, os soldados passaram a realizar expedições contra as aldeias e somente numa delas foram mortos e cativos mais de 1.500 índios.
Por seu lado, os potiguares promoviam freqüentes ataques ao arraial, muitas vezes com cerco que duravam várias dias.
Os jesuítas, que já faziam trabalho de catequese na região, insistiam para que as duas partes negociassem um tratado de paz.
Essa oportunidade aconteceu com a prisão do líder Ilha Grande. Ele concordou em procurar outros chefes potiguares do Rio Grande, que foram até a fortaleza e fizeram as pazes.
Em julho de 1599 foi a vez de celebrar as pazes com os índios potiguares que viviam no interior, possibilitando a fundação da cidade do Rio Grande em dezembro do mesmo ano.
No Sudeste, índios lutam contra escravização
A revolta chamada de Confederação dos Tamoios aconteceu entre 1556 e 1567. As nações indígenas dos tupinambás, aimorés e temiminós, que ocupavam o litoral paulista e fluminense, entre Bertioga e Cabo Frio, se levantaram contra os brancos, que queriam mão-de-obra escrava para a colonização.
O nome Tamoio vem do tupi Tamuya e quer dizer o mais antigo.
Os portugueses tinham a colaboração dos índios guaianazes, já que João Ramalho se casou com Bartira, filha do cacique Tibiriçá, e passou a pertencer à tribo.
Em 1556, portugueses e guaianazes se lançam contra a aldeia tupinambá fazendo muitos escravos, entre eles o chefe Caiçuru.
Seu filho, Aimberê, reúne outras tribos numa confederação e tenta também o apoio dos guaianazes. O chefe Tibiriçá foi contatado e disse concordar com a proposta.
Um encontro foi marcado. Quando os tamoios chegaram, Tibiriçá, que permanecia fiel aos portugueses, lançou os guaianazes contra eles e iniciou-se uma feroz batalha.
Os tamoios impuseram pesadas perdas aos guaianazes, inclusive com a morte de Tibiriçá.
Antes que os vencedores se reorganizassem querendo desfechar um ataque final aos portugueses, os jesuítas Manoel da Nóbrega e Anchieta interferiram propondo uma trégua, que foi conseguida depois da libertação dos índios escravizados.
A maior parte desse conflito aconteceu na região cortada hoje pela Rodovia dos Tamoios, que liga o Vale do Paraíba ao Litoral.
O conflito mostrou aos portugueses a dificuldade de usar escravos indígenas, reforçando a escravidão africana.