Escrito por: CNM CUT
A retração do mercado brasileiro de caminhões e os prejuízos no exterior provocados pela alta do dólar levam a Iveco a enfrentar um dos momentos mais difíceis no país desde a inauguração da fábrica, em 2000. Para tentar uma recuperação, foram tomadas duas decisões: a empresa abrirá mão da participação de 50% na composição acionária da fábrica de Sete Lagoas (MG), que passará toda para a Fiat Automóveis, e desativará a sede em São Paulo.
Iveco e Fiat Automóveis, as sócias da fábrica de utilitários em Sete Lagoas, pertencem à mesma companhia, o grupo italiano Fiat. Por isso, não haverá ganho de recursos para o sócio que sai do negócio. Segundo o presidente da Iveco na América do Sul, Jorge Garcia, a mudança na estrutura acionária servirá para diminuir despesas. 'Elimina-se uma sociedade e, assim, simplifica-se a operação', explica.
Outra ação para ganhar eficiência será a desativação da sede da Iveco na América do Sul, que fica em São Paulo. Um prédio de 3 mil metros quadrados na Marginal Tietê, erguido em 1997, será vendido. Menos de um terço dos 90 funcionários permanecerá em um escritório regional.
A nova sede da Iveco ocupará o mesmo prédio do Grupo Fiat em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. Um grupo será transferido para lá e 17 pessoas de São Paulo serão demitidas.
Depois de fechar uma fábrica no Brasil em 1985, a Iveco aderiu à onda de investimentos de montadoras que surgiu a partir dos pacotes de incentivos fiscais do regime automotivo na década de 90.
Em parceria com a divisão de automóveis da Fiat, construiu a fábrica em Sete Lagoas, que consumiu investimentos de US$ 300 milhões. Cada parte arcou com a metade dos recursos na primeira fábrica compartilhada entre as duas empresas no mundo. Ali são produzidos furgões Ducato (Fiat) e Daily (Iveco) e caminhões Iveco.
Desde então, a Iveco deu saltos de participação no mercado brasileiro. O último, no ano passado, acusou crescimento de quase 65%. Mas com a retração dos negócios na agricultura, o mercado de caminhões encolheu. Por ser a menor - dona de 5% do mercado -, a Iveco sofre um impacto maior do que as concorrentes mais fortes, como Mercedes-Benz, Scania, Volvo e Volkswagen.
De janeiro a maio, o mercado de caminhões encolheu 15%. As vendas da Iveco registraram o dobro de queda - 31%. No segmento de pesados, a perda da montadora se aproxima de 50% para uma retração de mercado total de 18%.
Para piorar o quadro, a empresa também sofre com a desvantagem cambial para exportar os utilitários da linha Daily. Garcia explica que as encomendas caíram depois que a empresa reajustou os preços dos veículos exportados em 25% para compensar a valorização do real. O problema também afeta a exportação de componentes do Brasil para a fábrica argentina.
Segundo o executivo, enquanto a operação no restante da América do Sul apresenta lucro, no Brasil, onde se concentra 70% do mercado da região, a companhia amarga prejuízo.
A transferência da sede para uma área mais próxima da fábrica - Sete Lagoas está a 80 quilômetros de Belo Horizonte - garantirá mais eficiência, prevê Garcia. 'E a eficiência é um fator determinante para mudar a posição da Iveco no mercado.'
Fonte: Valor