Escrito por: CNM CUT
A linha de caminhões que será instalada na antiga fábrica de automóveis da Mercedes-Benz ,em Juiz de Fora, será abastecida com componentes produzidos na vizinhança. O processo de nomeação dos futuros fornecedores deve ser concluído em dois meses, segundo o diretor de produção da unidade, Izidro Penatti.
"Queremos colocar os fornecedores próximos à fábrica", afirma Penatti, que mantém a lista em segredo. Espaço é o que não falta. Os prédios da Mercedes-Benz ocupam 170 mil metros quadrados (m2), de uma área de mais de 1 milhão de m2.
A produção de caminhões em Juiz de Fora começará com o modelo leve Accelo, que será fabricado no sistema CKD, por meio do qual os veículos serão montados com conjuntos já prontos, que sairão de São Bernardo do Campo. A linha do Accelo será, depois toda transferida de São Bernardo para Juiz de Fora. É por isso que a empresa tem interesse em atrair fornecedores para Minas.
O segundo modelo que futuramente sairá da linha mineira, o Actros, é hoje importado da Alemanha em várias especificações, inclusive o uso em construção pesada e mineração. É para produzir esse modelo que parte dos trabalhadores será treinada também na Alemanha.
A transformação da fábrica da Mercedes já começa a ser comentada na esfera do governo estadual. A secretária de Desenvolvimento de Minas Gerais, Dorothea Werneck, conta que a linha de pintura já está pronta. A empresa comunicou ao governo mineiro que as adaptações devem estar concluídas até novembro
Já do lado sindical, ainda há dúvidas. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora, Geraldo Majela Werneck, é cético em relação aos planos da empresa. "Para começar a produzir caminhão vai demorar uma eternidade, se é que não vai acontecer um revés. Aqui há mais de dez anos escutamos coisas, que depois não acontecem."
O ceticismo do sindicalista é resultado da longa história de tentativas frustradas para justificar o empreendimento na cidade mineira. Há dois anos, o então governador Aécio Neves (PSDB) chegou a ameaçar abrir um processo judicial contra a montadora, que recebeu um pacote de incentivos para se instalar em Minas Gerais.
Em março de 2010, na véspera de deixar o governo do Estado para se candidatar a uma vaga no Senado, Aécio recebeu uma carta do presidente mundial do conselho do grupo Daimler, Dieter Zetsche, anunciando a transformação da fábrica de Juiz de Fora em produtora de caminhões.
Construída para produzir o modelo compacto Classe A, a fábrica mineira quase sempre funcionou com ociosidade próxima de 80% em relação ao projeto inicial, que previa média superior a 70 mil automóveis por ano. Em uma década, foram feitos cerca de 140 mil carros, número que equivale a menos de um ano de produção em diversas fábricas do Brasil. A produção do Classe A foi interrompida em 2005, quando começaram as tentativas de montagem de modelos luxuosos.
Na carta enviada ao governo mineiro, a direção mundial do grupo Daimler explicou que a velocidade do crescimento do mercado latino-americano de veículos comerciais nos próximos anos deverá superar a capacidade da fábrica de São Bernardo do Campo, que também está recebendo investimentos para ser ampliada. Assim, a unidade mineira seria usada para produção complementar.
Juiz de Fora assume, então, um papel de coadjuvante. Mas a novela da Mercedes em Minas Gerais ainda não acabou. E, levando em conta a expansão da indústria de veículos pesados no Brasil, atuar como coadjuvante nesse caso deverá garantir muito mais prestígio do que o antigo papel de protagonista.
Fonte: Valor