Escrito por: CNM CUT

Projeto da Dell para educação inclui até criação de conteúdo

Cinco anos depois de vir ao Brasil, Michael Dell retornou ao país para comemorar uma década de atuação local da fabricante de computadores e dar mais um passo no profundo plano de reestruturação iniciado em 2007, quando ele reassumiu o cargo de executivo-chefe.

A Dell sempre teve uma presença importante no mercado de equipamentos para grandes empresas, mas sob a nova estratégia está procurando oportunidades entre clientes de pequeno e médio portes, consumidores que compram PCs no varejo e clientes do setor público, principalmente nos segmentos de saúde e educação. É nessa última área que Michael Dell veio apresentar a nova abordagem da companhia.

"O Brasil tem um futuro brilhante nos próximos dez anos", disse Dell, ontem. O mercado brasileiro, afirmou, tem tudo para se tornar o quarto maior comprador de tecnologia até 2015. "Vamos continuar investindo no país sempre que necessário", afirmou o executivo.

A proposta educacional apresentada por Michael Dell não é, meramente, vender computadores para escolas. A companhia pretende equipar toda a sala de aula, numa iniciativa que chega até à formulação de conteúdo interativo, a partir de um serviço de consultoria. O pacote inclui lousa digital, projetor de vídeo, software, computadores e material didático desenvolvido especialmente para o meio digital.

"O aprendizado hoje precisa acontecer por meio de estímulos visuais, auditivos, sinestésicos e colaborativos", afirmou Paul Bell, presidente mundial da unidade para setores público, de saúde e de educação da Dell. Uma sala desse tipo, disse o executivo ao Valor, pode custar de centenas de dólares até US$ 10 mil, dependendo dos equipamentos usados.

Nem tudo que vai entrar na sala conectada terá a marca Dell. Como a empresa não fabrica lousas eletrônicas e equipamentos de rede, a ideia é usar dispositivos de outras empresas, integrando-os na oferta.

Os alvos da companhia são instituições privadas e, principalmente, secretarias de educação. Segundo Bell, é o setor público que tem apostado mais nessa ideia nos países onde a Dell já iniciou essa oferta. No México, onde o projeto começou há quatro anos, existem 60 mil salas de aula em funcionamento sob o sistema. "O Estado não teve que comprar nada. É tudo oferecido como serviço, mediante o pagamento de uma mensalidade", disse o executivo. No Brasil, a compra de tecnologia como serviço ainda é pequena nos orçamentos públicos, mas Bell disse que essa modalidade vem ganhando força. "É um modelo bastante comprovado", afirmou.

Há cerca de três meses, a Dell iniciou um projeto-piloto de salas conectadas na cidade de Hortolândia, interior de São Paulo, onde está sua fábrica no Brasil. Ao todo, o projeto abrange 6 mil alunos em 26 escolas. O projeto, cujo investimento não é revelado, foi bancado pela Dell e pela Intel. O material didático foi elaborado em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). "Estamos em busca de novas alianças", disse Bell.

A criação de conteúdo será um dos desafios para o desenvolvimento do projeto. De acordo com o executivo, ainda são poucas as empresas e editoras que apostam no ensino digital. Além disso, o setor é fragmentado. Ao mesmo tempo, criar uma massa crítica de fornecedores só acontecerá se a ideia for aceita pelas instituições de ensino. "Os desenvolvedores de conteúdo têm que perceber que eles criam conteúdo educativo, independentemente do meio em que é apresentado" disse.

Segundo Ricardo Menezes, diretor de governo e educação da Dell no Brasil, os resultados do projeto piloto serão medidos pela Unesco em agosto do ano que vem. "Chamamos um órgão independente para avaliar o impacto que a sala conectada tem no aluno e na sociedade", disse o executivo. A partir daí, a expectativa é de que começarão a surgir os primeiros contratos. Enquanto isso, a ideia é abordar outro ponto crítico para o sucesso da iniciativa. Segundo Menezes, serão necessários meses de conversas com secretarias de educação para explicar a ideia de que projetos de inclusão digital devem incluir conteúdo e não só a compra de equipamentos.

Na avaliação de Michael Dell, iniciativas como o programa do governo federal "Um Computador por Aluno" (UCA), que prevê a distribuição de computadores a estudantes da rede pública são relevantes, mas não resolvem o problema da inclusão digital.

Fonte: Valor