Escrito por: CNM CUT
Com peças importadas da China, montadora de motos baratas enfrenta a Honda no mercado e na Justiça
A Brasil & Movimentos, dona da marca Sundown, vai aumentar sua capacidade de produção de 72 mil para 210 mil motocicletas anuais no ano que vem. A fábrica na Zona Franca de Manaus será ampliada e haverá contratações. A marca também vai lançar modelos mais potentes, na faixa de 400 a 600 centímetros cúbicos (cc), segmento em que ainda não atua. A empresa é parceira de duas montadoras chinesas e tem conseguido produzir motos no País com custos inferiores às da concorrência. Cerca de 60% das peças são importadas da China.
O anúncio de ampliação da fábrica ocorre num período em que a Brasil & Movimentos trava um embate jurídico com a japonesa Honda e assiste ao envolvimento do nome Sundown em um escândalo que levou à prisão os antigos donos da marca.
A briga com a gigante Honda, dona de 82% do mercado brasileiro de motocicletas, envolve denúncia de plágio de produto, um porta-capacete instalado embaixo do banco dos modelos Web 100 e Evo. No dia 17, a Honda obteve na Justiça tutela antecipada (medida concedida antes do julgamento do mérito de uma ação) estabelecendo a suspensão da fabricação e venda dos modelos da Sundown.
Duas semanas depois, a Justiça derrubou a liminar, após a Brasil & Movimentos apresentar sua defesa. Nos documentos, a fabricante brasileira informa ter identificado 49 patentes anteriores às da Honda de produtos similares. O registro da invenção da Honda no Brasil data de 1998, mas a Sundown localizou documentos de empresas americanas de nove anos antes.
'Agora, a Honda é que terá de provar quem quebrou a patente de quem', diz o diretor comercial de motos da Brasil & Movimento, Rogério Scialo. A ação ainda está na Justiça do Rio, onde foi aberta pela Honda do Japão. A Honda não quis comentar o tema. Informou apenas que ainda analisa o despacho da Justiça.
Scialo questiona os motivos que teriam levado a Honda a mover a ação de quebra de patente. 'Por que uma empresa que praticamente detém o monopólio do mercado de motos no Brasil se preocupa com uma empresa tão pequena como a nossa?'
Ele mesmo responde: em cinco anos, a marca Sundown aumentou sua participação no mercado de 0,2% para os atuais 4,3%. No primeiro semestre, a marca vendeu 27,3 mil motos, 83% mais em relação ao mesmo período de 2005. A líder Honda cresceu 20% no período, com 514 mil unidades, igual proporção em que o mercado total aumentou, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo).
A estratégia da CBB (Companhia Brasileira de Bicicletas), que no ano passado mudou a razão social para Brasil & Movimento e abriu seu capital, é atuar no segmento de motos populares. O modelo mais barato da marca é o Hunter 90, vendida a R$ 3,38 mil. No lançamento do produto, em junho, a empresa fez uma promoção a R$ 2,99 mil e recebeu 4 mil encomendas. A moto mais barata da Honda, a Biz 125, custa R$ 4,89 mil.
O carro-chefe da Sundown é a Web 100, oferecida a R$ 4,8 mil e responsável por 45% das vendas da marca. As motos da Sundown são desenvolvidas na China pelas parceiras Jinan Qingqi Motorcycle e Chongqing. 'O desenvolvimento é conjunto, pois temos 140 funcionários lá, entre brasileiros e chineses', conta Scialo.
Segundo ele, a empresa importa 60% das peças - que em média custam cinco vezes menos -, agrega o restante em Manaus e faz a montagem. A fábrica da Zona Franca tem 250 trabalhadores. Incluindo a sede administrativa em São Paulo são 1,1 mil empregados. Novas parcerias com empresas da Índia e da Itália estão em estudo.
Marca está envolvida em investigação da Polícia Federal
Em junho, pouco antes do início da disputa jurídica com a Honda, a direção da Sundown viu a marca ser envolvida na operação Pôr do Sol, realizada pela Polícia Federal do Paraná. O antigo dono da marca, Isidoro Rozemblum, e seus dois filhos foram presos por fraudes como remessa ilegal de dinheiro ao exterior. O atual presidente da Brasil & Movimento, Antonio Carlos Romanoski, apressou-se em explicar que a marca foi adquirida há seis anos e que nada tem a ver com as fraudes.
A Polícia Federal do Paraná, porém, informa que os antigos donos ainda têm participação na empresa atual e que todas as irregularidades estão sendo investigadas. 'É um processo que envolve pessoas, e não a empresa', explica um porta-voz.
Scialo insiste que todas as ações da atual companhia pertencem aos grupos brasileiros Top Hill Participações, do investidor Jaime Margoles, e Airumã Participações, de Claudio Rosa, fundador da CR da Amazônia Indústria de Bicicletas, razão social mais tarde alterada para CBB e, no ano passado para Brasil & Movimentos, que deve lançar ações na Bolsa ano que vem. A Sundown quer chegar a 2010 com 10% do mercado. Atualmente com 151 concessionárias, a empresa também produz bicicletas e aparelhos de ginástica.
Fonte: O Estado de São Paulo