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“Trazer mulheres para dentro do Sindicato é difícil”, afirma a diretora do STIMMMESL, Simone Peixoto

Confira a entrevista completa com a metalúrgica de São Leopoldo

Publicado: 08 Outubro, 2021 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Crédito: Divulgação
Diretora no STIMMMESL Diretora no  STIMMMESL
Diretora no STIMMMESL 

Simone Ribeiro Peixoto tem 48 anos, é metalúrgica, sindicalista e moradora de São Leopoldo. É também mãe da Mariana, de 18 anos, de quem fala com um sorriso no rosto. “Minha filha tem consciência de classe”, se orgulha. Antes de compor a direção do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL), ela integrou CIPAS e comissões de negociação de PLR, “por ser um pouco metida e conversar com todo mundo”.

Na entrevista desta sexta (8), Simone fala sobre como enfrenta o machismo no chão de fábrica e no movimento sindical. Aborda também a tarefa árdua que é trazer mulheres para dentro da entidade e os desafios para o próximo período. “Hoje, aqui no Sindicato só temos duas mulheres. São duplas, triplas jornadas. As mulheres chegam em casa tem que cuidar da casa, dos filhos, muitas ainda estudam e ter mais esse compromisso fica difícil”, diz ela.

Confira a entrevista:

Conte um pouco da sua história? Como entrou no movimento sindical?

Eu trabalho no ramo metalúrgico desde 2006. Fiz parte da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) na empresa que trabalhava, a Taurus. E sempre quando tinha algum problema eu entrava em contato com o Sindicato porque era sócia. O presidente, na época, me fez um convite pra entrar na chapa que disputaria a direção e eu não quis, ficou para a próxima… Só que o Sindicato foi fazer uma assembleia na fábrica e eu estava bem na frente ouvindo o Sindicato falar, a gerência da empresa foi fotografar e eu sai na foto, no outro dia fui desligada da empresa. Fiquei um tempo procurando vaga no ramo metalúrgico porque é um dos ramos que paga melhor e peguei na empresa que estou hoje, a Delga e ali também entre na CIPA, por ser um pouco metida e conversar com todo mundo. Os sindicalistas da empresa me convidaram pra fazer parte da comissão de negociação da PLR da empresa em 2016, teve votação para escolher os representantes, fui uma das mais votadas e participei da comissão. Foi neste ano que conseguimos um avanço bem grande e eles gostaram da minha participação, me convidaram para participar no outro ano, mas aí eu preferi não participar, pois estava com problemas com a filha em casa. No outro ano novamente, me convidaram aí participei, fui a mais votada para a comissão de novo e aí sim, teria eleições no Sindicato, me convidaram para entrar e dessa vez, aceitei.

Qual a importância das mulheres ocuparem seus espaços?

A mulher tem que ser mais valorizada e ocupar os espaços que estão sendo abertos para nós, é uma grande vitória. O empoderamento feminino, como a gente fala, porque vivemos numa sociedade machista e patriarcal, estamos com esse desgoverno também, totalmente machista que não apoia as mulheres em nada. Onde tiver uma chance e uma mulher conseguir tomar um lugar de destaque, ela tem que ir. Uma tem que ajudar a outra, como falamos, uma sobe e puxa a outra. Mas é bem difícil, temos apoio das mulheres em si. Os homens são poucos os que apoiam para tu conseguir fazer algum trabalho, alguma coisa.

O chão de fábrica e o movimento sindical é bastante machista. Como você lida com isso?

Tem que ter muito jogo de cintura. Na empresa onde trabalho, tínhamos um gerente de produção que era totalmente machista. Era uma briga. Ele foi machista e estúpido comigo uma vez, os guris do Sindicato deram uma amenizada e ele não fez mais isso. Ele trabalhava com uma pessoa do PCP na sala, era mulher, ele deu opção pra ela de trocar de turno ou ia para a tarde ou noite, pois não queria trabalhar com ela. Além de ser mulher, é negra. Ela foi para a noite e ficou um ano e pouco, quando acabou o turno da noite e tiveram que demitir o pessoal, ela foi uma das primeiras que ele mandou embora.

 Na tua opinião, qual o principal desafio das mulheres no movimento sindical?

Enfrentar o machismo dos próprios colegas do Sindicato que te ouvem, mas não te apoiam e tentar convencer as trabalhadoras da categoria a entrarem para o Sindicato. Não a serem sindicalistas, mas se associarem. Se tu conseguir fazer isso já é uma grande vitória, trazer mulheres para dentro do Sindicato é difícil.

A que se deve essa dificuldade? As duplas, triplas jornadas das mulheres? Ao fato do Sindicato ser mais um compromisso? Ao machismo? Olhar para a direção do Sindicato e não se sentir representada?

Um pouco é isso. Elas olham e só tem homens. Hoje, aqui no Sindicato só temos duas mulheres. É como tu falou também, são duplas, triplas jornadas. As mulheres chegam em casa tem que cuidar da casa, dos filhos, muitas ainda estudam e ter mais esse compromisso fica difícil. Se tu faz uma assembleia, uma atividade aqui são poucas as que vem porque elas já estão cansadas, trabalharam o dia inteiro, não tem disposição para vir. Eu mesmo, venho porque sou da direção, chego em casa, tomo um banho, coloco meu pijama e tu não me tira mais de dentro de casa. Se tenho que fazer alguma coisa faço tudo antes, porque depois não faço mais nada. E tiro por mim o que as outras mulheres passam também. Elas estão cansadas.

*Veja toda a matéria e imagens na publicação original no site do STIMMMESL