Escrito por: CNM CUT

Usiminas quer ser autossuficiente em energia em 2015

A Usiminas está tomando medidas de corte de custo e aumento de competitividade para se adaptar aos novos tempos da siderurgia, num mundo onde existem hoje 500 milhões de toneladas de aço excedentes no mercado global. Wilson Brumer, presidente a companhia, disse que a siderurgia no mundo tem de passar por um outro repensar. No caso da Usiminas, ele destacou que a companhia está eliminando gargalos, integrando a siderurgia com a mineração e trabalhando para ficar autossuficiente em energia até 2015. O projeto da companhia é investir numa nova termelétrica em sua unidade de Cubatão para aproveitar os gases locais e depois fazer alguma aquisição - que não é para o curto prazo - para produzir os 400 megawatts que compra no mercado. A usina hoje só produz 100 MW do total de 500 MW que consome.

Hoje, segundo Brumer (foto), a empresa está integrando a mineração. Quando a mina J.Mendes foi adquirida, em 2009, produzia 3,5 milhões de toneladas de minério. Este ano vai chegar a 7 milhões de toneladas e em 2015 vai chegar a produzir 29 milhões de toneladas. Brumer não confirma que a empresa está investindo mais em minério do que em aço. “Estamos fazendo um balanço adequado na mineração e na siderurgia, mas não podemos  esquecer que a siderurgia hoje, mais do que falar em quantidade, tem de falar em aumento de competitividade”.

Uma das coisas importantes que ela considera que a companhia está fazendo é investir em energia. A empresa é uma grande dependente de compra de energia. “Consumimos 500MW e geramos 100MW. A gente quer ir buscando a autossuficiência de energia. Primeiro começamos com um processo de autossuficiência interna.Temos gases que podemos aproveitar, troca de motores, de equipamentos, processos que vão nos gerar parte dessa economia. Em 2015 queremos ser autossuficientes”, declarou.

No campo energético, ele disse que primeiro a empresa vai buscar a eficiência interna. “Temos em Cubatão muita geração de gases que hoje ainda são jogados na atmosfera. Queremos implantar uma termelétrica lá e, eventualmente, até num terceiro estágio, quem sabe algum ativo, uma aquisição, mas não é a prioridade neste momento”.

Brumer disse que a situação financeira da Usiminas é confortável. “Recebemos R$ 2,3 bilhões do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], sendo R$ 300 milhões do laminador e o resto para investir”, frisou Brumer.

No ano passado, a empresa inaugurou uma nova linha importante principalmente para atender o setor naval. É chamada de CLC, uma nova tecnologia da Nippon Steel para atender principalmente a indústria de óleo e gás, indústria naval e tubos de grande diâmetro, além de outros segmentos industriauis. No início deste ano, em maio, inaugurou uma nova linha de galvanização para atender indústria automotiva, eletrodomésticos e construção civil. Em 2010, inaugurou nova coqueria na estratégia de redução de custos e aumento competitividade. No início do ano que vem, no primeiro trimestre, fica pronto um novo laminador de tiras a quente.

Para estes investimentos e outros futuros de modernização e eficiência, a Usiminas se  antecipou do ponto de vista financeiro à crise mundial, disse Brumer. Especificamente para o laminador, a empresa obteve crédito de R$ 300 milhões do BNDES. Ao mesmo tempo fez duas operações onde não sacou o dinheiro. “Uma a nível internacional onde captamos US$ 700 milhões em linha de crédito através de um consórcio de bancos liderados por bancos japoneses. E, no caso do BNDES, fizemos uma linha de crédito de R$ 2,2 bilhões, também na mesma linha, para os recursos serem liberados à medida que tivermos projetos a ser apresentados. A linha é de cinco anos. Se quisermos fazer investimentos já temos ‘funding’ financeiro”, comemorou.

O CEO informou que a siderúrgica tem uma dívida bruta de R$ 9 bilhões escalonada na média de sete anos e em caixa R$ 5,5 bilhões. “Em termos de dívida líquida, uma dívida razoavelmente pequena”.

Brumer disse que a Usiminas desistiu de vez de tocar a nova planta de Santana do Paraíso. “Está  muito caro investir no Brasil, hoje. Para ter ideia, uma tonelada nova de aço no Brasil você gasta US$ 1.800 por tonelada. Na India, US$ 1 000 e na China, US$ 550. No momento em que você tem excesso de capacidade no mundo não há sentido investir em nova planta. O que nós estamos fazendo é muito mais: investir na modernização das plantas e em aumento de competitividade”.

Este ano, a Usiminas certamente fechará seu balanço no azul, como espera Brumer. Ele disse que a baixa margem operacional da companhia no terceiro trimestre (3% da siderurgia e 11,1% no consolidado envolvendo a mineração) é devida ao aumento de custos de matéria-prima, principalmente minério e carvão. A Usiminas é a grande fornecedora no mercado doméstico, por natureza não é grande exportadora. O Brasil não é grande exportador de produtos acabados de aços mais elaborados, é muito mais de semi elaborados, nós estamos inclusive com redução de capacidade operativa, de 70%. A siderurgia tem que operar no mínimo com 90%”, reconhece Brumer. “Mas nós vamos recuperar”.

Brumer, face a situação atual da siderurgia, não vê condição para aumento de preços do aço, pelo menos enquanto o mercado não melhorar.

O CEO da Usiminas descarta a compra de novas minas. “Acho que hoje comprar mina não é o melhor negócio. Vai pagar muito caro e não vai agregar valor. Nossa ideia é expandir a antiga J.Mendes e fazer acordos operacionais com nossos vizinhos no entorno”.

Quanto à logística portuária, Brumer informou que a Usiminas se antecipou, fazendo um acordo com a MMX para exportar pelos próximos cinco anos pelo Porto Sudeste, acordo que pode ser renovado por mais cinco anos. A empresa pretende também participar da licitação do porto público da área do meio, em Itaguaí (RJ), projeto da Docas do Rio. O projeto está em audiência pública e a Usiminas vai participar da disputa  via consórcio com outras mineradoras de Minas.

A Usiminas está recuperando uma área adquirida do Estado do Rio, onde está investindo R$ 90 milhões de reais. A empresa pretende, caso vença a concorrência do porto do meio, integrar as duas áreas, abrindo espaço para exportar não só minério, mas outros produtos.

Fonte: Valor