Escrito por: CNM CUT
Se considerar apenas tamanho, nem de longe a Villares Metals chega perto da CSN, da Usiminas ou da AcerlorMittal Tubarão. O que esses mastodontes brasileiros do aço têm de capacidade para despejar aço de seus altos-fornos em doze meses, ela levaria de 56 a 75 anos para atingir o mesmo volume. Super especializada, com aços de sofisticadas aplicações - desde válvulas de motores de automóveis, trens de pouso de aviões, instrumentos cirúrgicos até implantes dentários -, a empresa quer também garantir fatia maior em três áreas de negócios em expansão no Brasil: extração de petróleo, produção de açúcar e etanol e fabricação de torres para geração de energia a partir dos ventos.
Essa é a missão recebida pelo engenheiro mecânico Harry Peter Grandberg desde o primeiro dia de novembro, quando assumiu a presidência da empresa. Paulista, com 45 anos, fluente em alemão - "idioma preservado pelos pais" - e em outras três línguas, o executivo vê um cenário promissor para a empresa no mercado brasileiro. "O Brasil demandou muito em 2010 e isso se mantém firme neste ano. Crescemos 25% acima do orçado".
Encravada numa ampla área arborizada em Sumaré, a 120 km de São Paulo, às margens da rodovia Anhanguera, a Villares Metals é a única fabricante de aços de alta liga no Hemisfério Sul, com liderança no mercado latino-americano. Tem capacidade de 101 mil toneladas de aço por ano e já opera acima de 90 mil. Faz os aços conhecidos como especiais longos, obtidos com misturas de ligas de níquel e cromo e outros metais para ganhar ultra resistência. Em geral, são usados em atividades de alto impacto, como o pouso de um Embraer 195 ou um Airbus 330, ou de elevado desempenho, como peças para cabeças de poços de petróleo.
Na estratégia de crescimento da VM, Grandberg explica que ninguém consegue fugir do óbvio. "O gigantesco plano de investimento da Petrobras é a grande vedete do momento". O desafio, diz, é entender como será a tecnologia na exploração do pré-sal e que tipos de aço serão necessários para suportar esse novo ambiente da indústria petrolífera, com extração em águas ultra profundas.
Por isso, uma das iniciativas é montar um posto avançado de pesquisa e desenvolvimento de aplicações de seus aços, no Rio, ao lado da estatal e de seus grandes fornecedores, como fabricantes de tubos. "Esse é um mercado que olhamos com afinco no momento e para o qual estamos contratando pessoas, apostando em pedidos futuros de nossos aços".
Outro olhar se dirige para o setor de açúcar e etanol que, na sua avaliação, está voltando com força depois da crise que viveu dois a três anos atrás. O mercado nessa indústria são as usinas. O objetivo é vender eixos para moendas da cana, fabricados com aço inoxidável. "É um ambiente altamente corrosivo, com operações intensivas e sob forte pressão. Precisa de material de alta resistência", diz. Nesse mercado, a aposta é tanto nas novas instalações quanto na substituição de equipamentos das antigas.
A geração de energia a partir dos ventos, setor que ganha espaço no Brasil - principalmente no Nordeste -, surge como mais um importante mercado que aguça o apetite de vendas da empresa. O alvo são as instalações de torres eólicas. O motor central da torre, para fazer girar as pás, tem exigido aço de alta resistência, obtido com mistura de ligas metálicas. Dois outros mercados nobres são o aeronáutico e o automotivo.
No primeiro, a empresa já é fornecedora dos jatos da Embraer - seu aço está presente nos trens de pouso e em dobradiças, por exemplo - e recentemente foi qualificada por um grande fornecedor da Airbus, a Messier-Dowty. A fabricante francesa de sistemas de trens de pouso quer ter a VM como supridora de aço aeronáutico, o V300MQA, para o programa do jato Airbus 330. Desde 2005, a siderúrgica fabrica esse tipo de material na sua usina.
Mundialmente, a VM é o segundo maior fabricante de aços válvula, de uma lista de poucos players. Nesse mercado, atende as montadoras e seus grandes sistemistas, como Eaton, TRW, Mhale e Sifco, entre outros. Pela sua vizinha Honda, foi homologada como única fornecedora de material para moldes de projetos ligados ao Honda Civic.
A VM não entrega apenas aço. Em suas instalações, de onde saem dos laminadores enormes blocos de até 23 toneladas e tarugos de dois mil quilos, que serão cortados e laminados antes de ir para os clientes, a empresa faz peças sob encomenda. Para a Sifco, maior fabricante de componentes de suspensão dianteira de veículos, fez um virabrequim de 37 toneladas de peso. Com isso, passou a substituir componentes que até agora eram importados.
Em sua carteira de clientes estão também companhias como a GE. Em dezembro, foi aprovada para entregar à americana eixos forjados de grande motores elétricos. O contrato inseriu a VM entre os três fornecedores da GE no mundo para esse tipo de peça. "Podemos vender tanto para a Gevisa, em Campinas (SP), quanto para a unidade canadense Peterborough", afirma o executivo.
Com essa homologação, a empresa acredita que se abriram novas oportunidades na indústria dedicada ao setor de óleo e gás, passando a vender aço a fabricantes de máquinas e equipamentos usados na construção de plataformas e refinarias de petróleo.
Material da Ásia cresce e incomoda
O foco da Villares Metals é o mercado interno, mas a siderúrgica tem destinado à exportação cerca de 30% do volume produzido, em grande parte de aço-ferramenta. O principal mercado são os Estados Unidos, Em aço-válvula, compete globalmente, atendendo a indústria automotiva. O câmbio, e custos logísticos, são os maiores entraves para ter uma presença maior no mercado externo, diz Harry Peter Grandberg, presidente da companhia.
Quando se trata da concorrência das importações, a preocupação maior do executivo é a entrada de material indiano. "Eles têm um amplo leque de produtos, mas, por enquanto, ainda não são volumes assustadores", diz. "Mas se o câmbio continuar como está, as importações, puxadas por canais de distribuição, podem aumentar", acrescenta.
Já a competição chinesa no aço especial de alta liga ainda é pequena por ora, diz, mas o que se observa é uma quantidade grande de componentes e peças entrando no país, o que reduz o mercado doméstico para a VM.
Desde que adquiriu a Villares Metals em 2004, do grupo espanhol Sidenor, a austríaca Böhler-Uddeholm (BU) - líder mundial na produção de aço de alta liga - já investiu na empresa cerca de US$ 250 milhões em modernização do parque fabril, com instalação de laminador maior e moderno, e ganho de produtividade.
Em 2008, em plena onda de fusões e aquisições da indústria siderúrgica mundial, a BU foi comprada pela também austríaca Voestalpine, passando a compor um conglomerado com cinco divisões de negócios com faturamento na casa de € 10 bilhões - de 1º de abril a 31 de dezembro, a receita atingiu € 7,94 bilhões.
No ano fiscal encerrado em 31 de março de 2010, a Voestalpine obteve € 8,5 bilhões e a divisão de aços de alta liga respondeu por € 2,35 bilhões. A subsidiária brasileira, informou Grandberg, contribuiu com cerca de 10%.
Esse mercado, informa o executivo, cresce a taxas de 2,5% ao ano. Uma nova expansão não está ainda nos planos da BU, pois demandaria a instalação de um novo forno, o que é bem caro. "Com investimento em otimização das instalações podemos crescer 10%".
Nascida como Eletrometal há quase 70 anos, a empresa passou a se chamar Villares Metals quando foi incorporada à Aços Villares em 1996, que em 200 foi comprada pela Sidenor. É uma siderúrgica semi-integrada, com forno e aciaria elétricos. Hoje, emprega 1450 funcionários em Sumaré.
Fonte: Valor