Dia da Consciência Negra: Um Chamado à Igualdade no Mundo do Trabalho
Publicado: 19 Novembro, 2024 - 00h00 | Última modificação: 19 Novembro, 2024 - 19h06
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o Brasil reflete sobre o legado de Zumbi dos Palmares e a resistência histórica da população negra. É também um momento para destacar os desafios que ainda persistem no combate ao racismo e à discriminação, especialmente no mundo do trabalho, onde desigualdades estruturais continuam a impactar profundamente a vida de trabalhadores e trabalhadoras negras.
Um Mercado de Trabalho Desigual
Segundo a Subsção do Dieese da CNM/CUT 2024, o Brasil é um país marcado pelas desigualdades de raça e gênero, que permeiam as relações sociais, definindo os espaços de mulheres e homens, negros e brancos no mercado de trabalho, em todas as atividades. Apesar da maioria da população ser negra no Brasil (56% em 2023), negros e negras enfrentam mais dificuldades de inserção e permanência no mercado de trabalho.
A inserção dos negros metalúrgicos no mercado de trabalho de acordo com o Dieese, passou de 2,26 milhão de metalúrgicos/as em 2022 para 2,29 milhões em 2023, aumento de 1,4%. São 783,3 mil metalúrgicos negros/as (34,2%), aumento de 11,3% em relação a 2022 (704,0 mil). Destes, 141,3 mil são mulheres (18%) e 642,0 mil são homens (82%).
Os dados do Dieese revelam que as regiões Norte e Nordeste concentram a maioria dos metalúrgicos/as negros/as no país, sendo o Norte, 81,30% negros e no Nordeste, 64,4%. As demais regiões se apresentam os seguintes dados: no Centro Oeste, 53,2%; no Sudeste, 34,3% e no Sul, eram 15,2% de negros. Ao considerar a remuneração, os(as) metalúrgicos/as negros(as) receberam, em média, 71,8% da remuneração média dos não negros, em 2023, uma variação nominal de 6,3% em relação a 2022.
Ao considerar a inserção dos(as) trabalhdores negros e negras nos segmento da CNM/CUT, pecerbe-se que, a presentaça em Outros Materiais de Transporte se destaca com 65,5% de trabalhadores negros/as (produz motocicletas, veículos ferroviários e suas partes); Naval está na segunda posição, com 55,8% de negros/as; Eletroeletrônico e Siderurgia concentram 43,5%; Bens de capital teve 37,1% de negros em 2023. Os segmentos com menor participação de mão de obra negra são o Aeroespacial (25,3%) e o Automotivo (31,9%), que possuem os maiores salários e as menores taxas de rotatividade do ramo metalúrgico.
Os dados indicam que há uma barreira de entrada para a população negra na categoria, que não vem sendo, efetivamente, removida. Entre 2019 e 2021, houve crescimento de 10,4% no número de metalúrgicos negros.
Além da segregação racial, os dados explicitam a discriminação de raça e gênero, observada nas diferenças de remuneração entre mulheres e homens negros, na comparação com homens não negros.
Em todos os aspectos analisados, seja por região, segmentos, posição na ocupação e faixas de escolaridade, os metalúrgicos e metalúrgicas negros/as possuem rendimentos inferiores aos não negros.
Os dados evidenciam a materialização do racismo estrutural no Brasil e que ele afeta diretamente as condições de trabalho da população negra, de modo que, os (as) que ocupam os postos de menor remuneração, têm menos acesso a oportunidades de crescimento e enfrentam maiores índices de informalidade. Mesmo com qualificação equivalente, recebem, em média, salários inferiores aos de trabalhadores brancos em cargos semelhantes.
Além disso, a discriminação é frequentemente evidenciada em práticas como a exclusão de processos seletivos, a sub-representação em cargos de liderança e a concentração em atividades mais precarizadas e insalubres. Essa realidade perpetua um ciclo de desigualdade que afeta não apenas o presente, mas também as gerações futuras.
A Importância de Combater o Racismo no Trabalho
O racismo no ambiente de trabalho não é apenas uma questão de preconceito individual, mas de estruturas sistêmicas que limitam as oportunidades da população negra. Por isso, o enfrentamento a essas práticas deve ser prioridade para empresas, sindicatos e o poder público.
Algumas ações necessárias incluem:
- Políticas de Diversidade e Inclusão: Implementação de programas que garantam igualdade de oportunidades, desde o recrutamento até o desenvolvimento profissional.
- Ações Educativas: Treinamentos e campanhas de conscientização sobre racismo estrutural e preconceito no ambiente corporativo.
- Valorização da Identidade Negra: Promoção da cultura afro-brasileira como parte essencial da identidade organizacional.
- Fiscalização e Responsabilização: Aplicação rigorosa das leis que coíbem práticas discriminatórias no trabalho.
Garantir Condições Dignas de Vida e Trabalho
A promoção da igualdade no trabalho vai além do combate à discriminação. É fundamental garantir condições dignas que permitam aos trabalhadores e trabalhadoras negras prosperarem. Isso inclui:
- Remuneração justa e equitativa;
- Saúde e segurança no trabalho, especialmente em setores onde predominam trabalhadores negros;
- Acesso a benefícios e direitos sociais, reduzindo as desigualdades econômicas e sociais.
- Fortalecimento e ampliação da presença dos trabalhadores(as) negro(as) – garantir a pauta dos(as) trabalhadores(as) negros(as) nos processos de negociação coletiva e apresentação de cláusulas a exemplo da cláusula da CNMCUT referente ao combate ao racismo e a discriminação no mudo trabalho;
Um Chamado à Transformação
O Dia da Consciência Negra não é apenas uma data para celebração da cultura e história afro-brasileira, mas também um alerta para os desafios que precisam ser enfrentados coletivamente. Erradicar o racismo no mundo do trabalho é uma etapa crucial para construir uma sociedade mais justa, onde todos tenham as mesmas oportunidades de crescimento, segurança e bem-estar.
Que este 20 de novembro inspire ações concretas e transformadoras. O Brasil só será verdadeiramente democrático quando a igualdade racial for uma realidade em todos os espaços, inclusive no mercado de trabalho.
Christiane Aparecida dos Santos
Secretária de Igualdade Racial da CNM/CUT