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Os tempos são outros, mas o Grande ABC ainda é dos metalúrgicos

Publicado: 03 Maio, 2010 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Conhecido como berço das montadoras no País, o Grande ABC é, ainda, a região dos trabalhadores metalúrgicos, mesmo com as mudanças econômicas dos últimos anos e o florescimento de empresas de serviços e comércio na região, segundo especialistas.

O emprego nas fabricantes locais de veículos se mantém como referência no País, apontam os analistas, pelos bons salários (em média R$ 3.300), pelos benefícios oferecidos e pela possibilidade de se construir carreira nessas companhias, entre outras vantagens.

Marcelo Felix, 38 anos, é um dos que fez sua trajetória profissional dentro de uma montadora. Supervisor de produção da Volkswagen, ele conta que iniciou na empresa, com 14 anos, ao passar no disputado teste (1.200 candidatos para 200 vagas) para a escola do Senai dentro da fábrica da unidade Anchieta.

Felix fez Senai durante dois anos, passou por estágio na produção da empresa em 1988, e foi efetivado nesse ano. Aos poucos foi subindo na carreira, sempre buscando se aprimorar nos estudos. Fez escola técnica e depois faculdade de tecnologia de processamento de dados e pós-graduação em gerenciamento de manutenção. A companhia bancou cursos, como o de visão de negócios, ministrado pela FGV, e um programa de gestores de fábrica.

De origem simples (pai taxista e mãe costureira, que só cursaram até a quarta série), Felix coordena hoje equipe de cerca de 700 pessoas na fábrica. "Tudo que eu consegui foi através da Volkswagen", afirma, com orgulho.

Outro trabalhador desse ramo, Celso Luiz da Silva, 43 anos, que trabalha há 20 anos na General Motors, cita diversas vantagens de trabalhar em montadora.

Além de bons salários, cursos pagos pela empresa, seguro-saúde, plano odontológico e ônibus fretado para levar para o trabalho, por exemplo, Silva destaca a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) - neste ano, os empregados pleiteam R$ 8.000. "Quem entra não quer sair mais", afirma o metalúrgico, que é avaliador de veículos da área de qualidade e diretor de base do sindicato de São Caetano. Ele sonha em ver, no futuro, seus filhos também empregados na GM.

FAMÍLIA - O soldador Nélio Profírio, 44 anos e há 19 na Mercedes-Benz, incentivou sua filha, de 21 anos, que entrou recentemente na empresa. E ele não poupa elogios. "A Mercedes é um dos melhores lugares para se trabalhar, mesmo entre as indústrias metalúrgicas", afirma.

Profírio, que também é sindicalista (é diretor de base do sindicato dos Metalúrgicos do ABC) lembra que, ao longo do tempo, o trabalho de soldagem foi sendo automatizado.

"Em 1995, a montadora fez uma reestruturação produtiva. Já tinha alguns robôs, mas o número dobrou, e foram colocadas novas tecnologias de controle de qualidade." Por conta dessa evolução, ele fez Senai, bancado pela Mercedes, para se adaptar às novas exigências. "A montadora investe bastante no trabalhador", acrescenta.

Profissionais do ramo são qualificados e bastante politizados

Para o coordenador do curso de Economia da Fundação Santo André, Ricardo Balistiero, os metalúrgicos, principalmente da montadora, são referência, por serem muito qualificados e politizados. "Conseguiram chegar nessa condição por muito luta e qualificação", afirma.

Ele cita que as negociações de data-base de outras categorias se baseiam em reajustes obtidos pelo segmento e também espelham a forma de organização das campanhas salariais.

Para Balistiero, o setor deve se manter, por muitos anos, ainda como o prinicipal da região. Segundo ele, prova disso é que nenhuma grande montadora saiu daqui. E os investimentos das fabricantes de veículos voltaram com força neste ano nas plantas fabris do Grande ABC.

O presidente da CNM/CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos), Carlos Grana, concorda. "A montadora é o carro-chefe da economia local, e o emprego nessas empresas é almejado por muita gente. Isso, porque se conquistou um ambiente de trabalho bem melhor que a média nacional", avalia.

Segundo o sindicalista, vantagens como plano de cargos e salários, que foi alvo de negociação com os sindicatos ao longo da década de 1990, e PLR que gira hoje em R$ 8.000 a R$ 9.000, o que justifica a disputa por vagas nessas companhias. "E a montadora tem baixíssima rotatividade, gira em 3% ano, contra 30% da média nacional das indústrias metalúrgicas".

Mulheres também atuam na produção

Também há espaço para mulheres na linha de produção das montadoras. Rosimeire Andrade Moreira, 42 anos, está há 17 na General Motors. Ela entrou como tapeceira de bancos, na época em que essa atividade era feita dentro da montadora (cinco anos depois esse serviço foi terceirizado).

Passou pela montagem de portas, onde ficou por cerca de um ano, indo depois para a linha final, área em que testa a parte elétrica dos carros que saem da linha de montagem. Em seu setor são 120 homens e só três mulheres. "Mas o relacionamento é bom, respeitável", assinala.

Um de seus filhos de Rosimeire, de 27 anos, depois de passar pelo Senai, também está na GM, na área de funilaria. "A montadora já faz parte da minha vida", afirma a metalúrgica, cujo marido trabalha na seção de engenharia experimental da fabricante.

Dados da subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatística Socioeconômica) no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC apontam que as mulheres são 14,1% do total de 97,4 mil metalúrgicos em quatro municípios (São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra).

COPA - Terezinha Rodrigues Gomes, 56 anos, trabalha há 26 anos na Ford, de São Bernardo. Copeira da presidência da empresa, ela também passou (durante um ano e meio) pela produção: na área da pintura, detectando pequenos defeitos. "As mulheres são detalhistas", afirma.

Dessa experiência - em período em que houve mudanças na diretoria -, ela diz que aprendeu a importância de fazer tudo, da copa até o trabalho no chão-de-fábrica, com amor e responsabilidade.

Fonte: Diário do Grande ABC