Rumo ao Encontro de Mulheres da CUT, Metalúrgicas debatem emprego, direitos e o tempo de trabalho e lazer
Reunidas virtualmente, junto com convidadas, as mulheres do ramo da indústria avaliaram dados e fatos reais para definir prioridades contra desigualdade e por mais mulheres nos sindicatos e nos cargos de poder
Publicado: 01 Março, 2021 - 00h00
Escrito por: CNM CUT
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Plenária Mulheres Metalúrgicas da CUT |
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O tema da Plenária das Mulheres da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), “o tempo das mulheres não cabe no relógio do capital”, que aconteceu na manhã do último sábado (27), foi o “motor” que acalentou o debate e emocionou as trabalhadoras durante as três horas de encontro que foram debatidos assuntos como emprego, direitos e o tempo de trabalho e lazer. Assuntos que serão levados para o Encontro Nacional das Mulheres da CUT no segundo semestre neste ano.
Para as mulheres decidirem suas prioridades da luta, a CNM/CUT organizou um painel de debate com a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Juneia Batista, que fez a análise de conjuntura e falou da importância do encontro para a luta das mulheres na Central por uma país mais justo. A economista e técnica da subseção do Dieese na CNM/CUT, Renata Filgueiras, apresentou dados e fez uma análise do perfil da mulher metalúrgica e da inserção delas no mundo do trabalho.
E a engenheira agrônoma, mestre pelo Programa de Estudos da Integração Latino-Americana (PROLAM-USP), integrante da equipe Sempreviva Organização Feminista (SOF) e militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Miriam Nobre falou do aumento do tempo da exploração do capital e seus impactos na vida das mulheres. Ela é autora do artigo “o tempo das mulheres não cabe no relógio do capital”, publicado no Brasil de Fato, e que inspirou o nome da atividade das metalúrgicas da CUT.
O debate também destacou que sempre são elas as mais impactadas com o desemprego, desigualdades, retirada de direitos e são as mais demitidas e ganham menos, apesar de serem mais estudadas. A concentração da responsabilidade das tarefas domésticas e do cuidado também foi apontado, o que tem piorado em tempos de pandemia.
O presidente da CNM/CUT, Paulo Cayres, e o Secretário-Geral da CNM/CUT, Loricardo Oliveira também participaram da Plenária e falaram sobre as ações práticas que a entidade tem feito e vai fazer para mudar a realidade e ampliar a participações das mulheres no mundo do trabalho e nos sindicatos.
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Marli Mello |
Desafios das mulheres
A secretária da Mulher da CNM/CUT, Marli Mello, disse que o movimento sindical e as mulheres do ramo têm muitas tarefas pela frente, num cenário que só se aprofunda as desigualdades.
Segundo ela, é preciso falar cada vez mais do tempo das mulheres e das dificuldades que elas têm para se empoderar e mudar a realidade da sua vida, do seu trabalho e no movimento sindical.
“As mulheres sempre trabalharam mais que os homens e sempre foram as que cuidaram mais e as mais demitidas em momentos de crise, mas é preciso politizar o tempo porque tá muito desigual e tem impacto no trabalho e no sindicato. A gente as vezes desliga a câmera numa reunião porque precisamos passar a vassoura na casa, dar banho na criança e este tempo é bem diferente da maioria dos homens. A sobrecarga e a exaustão das mulheres estão ficando cada vez pior e isso precisa ser combatido e é por isso que precisamos nos manter juntas”, afirmou.
A redução de jornada de trabalho, a luta pelo tempo livre para descansar a mente e dar uma gás para produzir mais e conseguir participar, sem culpa, da vida cotidiana das entidades sindicais também foram discutidos.
“Precisamos mesmo discutir como teremos mais tempo para nós mesmas e nos empoderar para seguirmos juntas para uma transformação no mundo do trabalho e da vida das metalúrgicas e das mulheres de todo país. Precisamos estar nos sindicatos, nos espaços de poder para falar com propriedade nossos desejos e angústias”, ressaltou Marli.
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Juneia Batista |
Rumo ao Encontro Nacional das Mulheres da CUT
A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Juneia Batista, disse que esta plenária é parte do Encontro Nacional de Mulheres da Central que vai pensar estratégicas para as lutas das mulheres, assim como acontece desde 1986, para fora e para dentro da entidade.
As mulheres da CUT, de todas as categorias, pensam, planejam e constroem plenárias regionais e estaduais e debatem juntas propostas de ações, para fora e dentro do movimento sindical, na luta pela igualdade e ampliação das mulheres nos espaços de poder da Central.
“Foi depois de encontros como este que acontecem há mais de 30 anos que a gente conseguiu aprovar a luta pela legalização do aborto, por creche e fizemos grandes lutas, como por exemplo a batalha contra a reforma da previdência. E para dentro da nossa CUT, que juntas conseguimos a cota mínima de participação das mulheres na direção, a paridade de gênero, um protocolo contra o assédio moral e sexual para dentro da Central e agora queremos mais. Queremos uma mulher e negra para a presidência da maior central do país”, afirmou.
Além das metalúrgicas, a ideia do Encontro Nacional é que todos os ramos de atividades e as estaduais da CUT, que tenham representação de mulheres, se reúnam na Região e no Estado e levem proposições e ações comuns que fortaleçam a luta das mulheres no trabalho e nos sindicatos.
“Nos mulheres precisamos ocupar os espaços de luta mesmo quando a gente se sente fragilizada, com medo, pressionadas e tendo de cuidar de casa, filho, dar atenção ao marido, trabalhar e ainda ser dirigente sindical. Por isso precisamos lutar por nossos direitos e contra a desigualdade que vivemos neste país. A gente estuda, estuda e sempre está atrás, não dá para continuar assim”, disse a Secretária de Políticas Sociais da CNM/CUT e uma das coordenadoras na Plenária, Kelly Galhardo.
Marli disse ainda que é muito importante que as metalúrgicas participem dos encontros da CUT nas Regiões e nos estados e definirem as representantes da categoria para o Encontro Nacional das Mulheres da Central.
“As mulheres deste país são aguerridas e precisam participar destes espaços para mostrar nossa realidade, verdades e fortalecer nossas bandeiras, convenções coletivas e as negociações para fortalecer a luta e o movimento de mulheres. Precisamos de mais mulheres nos sindicatos e na direção de entidades de classe tão representativos como a CUT porque só nós conhecemos nossas dores”, destaca Marli.
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Miriam Nobre |
Desigualdade no ramo metalúrgico
A desigualdade entre homens e mulheres na vida e no mercado de trabalho não é muito diferente quando se trata do ramo metalúrgico, como mostrou os dados apresentados pela economista da subseção do Dieese na CNM/CUT, Renata Filgueiras, ao citar números desta atividade econômica predominantemente masculina às mulheres metalúrgicas. Apenas 18,2% da categoria é mulher.
Um dos estudos apresentados por ela às metalúrgicas mostra que as mulheres estão saindo do ramo metalúrgico, principalmente das funções consideradas valorizadas.
Segundo ela, isso ilustra as relações de gênero estruturantes do mercado de trabalho, em que as mulheres possuem impedimentos de ingressar em determinadas atividades com forte valor social agregado porque o setor metalúrgico, assim como outros ramos industriais, ainda se organiza baseado nos princípios de separação entre trabalhos masculinos e femininos e de hierarquia, ou seja, de que o trabalho dos homens valem mais do que o de mulheres.
“As mulheres que antes eram mais presentes no setor de bens e capitais, com maior renda e em funções mais valorizadas, migraram para setores considerados com características femininas, a exemplo do eletroeletrônico, cujos rendimentos são menores e apresentam a maior diferença do ramo metalúrgico, sendo 30% inferior em relação ao masculino. E, independentemente do segmento de atuação, a remuneração é sempre inferior à dos homens”, explica Renata.
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Renata Filgueiras |
Trabalho não remunerado e o novo normal que queremos
Além das diferenças de remuneração, de participação nas ocupações, jornada de trabalho e nível de rotatividade entre homens e mulheres no ramo metalúrgico, as mulheres exercem uma série de atividade não remuneradas fora dos locais de trabalho e que são apropriadas pela organização capitalista, segundo a técnica do Dieese.
Segundo ela, a hipótese é de que estas desigualdades pressionem as remunerações tanto de homens e mulheres, para um nível menor, aprofundando as desigualdades no setor.
Para Juneia, a pandemia e um nova revolução industrial estão aprofundando as desigualdades e diminuindo o tempo das mulheres. Ela fala também que a tecnologia deveria ser usado a nosso favor para trabalhar menos e termos mais tempo de alegria e diversão.
“A gente não quer mais o velho normal, mas também não queremos este novo, que estamos trabalhando muito mais e acelerando a diferença entre homens e mulheres na vida e no trabalho. É preciso ocupar mais o tempo ficando entre nós e fazendo esta construção desta sociedade que queremos”, frisou.
O tempo, a tecnologia, a alegria e uma nova economia
A engenheira agrônoma, mestre pelo Programa de Estudos da Integração Latino-Americana (PROLAM-USP), integrante da equipe Sempreviva Organização Feminista (SOF) e militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Miriam Nobre participou da Plenária das Mulheres. Ela foi responsável pelo nome da atividade “o tempo das mulheres não cabe no relógio do capital” devido a um artigo dela publicado no Brasil de Fato.
Entre os temas abordados no em sua coluna, Mirian destaca a redução de jornada de trabalho sem prejuízos financeiros e sociais e o direito ao tempo, como prioridades para uma vida ou um trabalho mais saudável.
Ela disse em seu artigo, que escreveu baseado em outro texto “O tempo de nossas vidas: reflexões sobre trabalho e temporalidade”, do historiador canadense Bryan Palmer, que os avanços tecnológicos da digitalização significaram um maior controle sobre as horas e a demanda pela disponibilidade total do tempo das trabalhadoras e trabalhadores. As “horas livres”, que sempre foram mobilizadas para o disciplinamento, agora são também mercadoria para o consumo da indústria do entretenimento.
Miriam disse que é preciso mudar isso e construir mais tempo de alegria com menos tempo de trabalho.
“O capital diminuiu o tempo livre a gente chega assim nesta crise sanitária. Não é possível que a gente precise trabalhar 44 hoas semanais com tanta tecnologia, temos que usá-la a nosso favor. Tem que se diminuir esta extração de tempo do capital e construir mais tempos livres e de alegria”, disse.
Segundo Mirian, é preciso também reinventar uma economia com ajustes de valores de uma sociedade que não seja racista, machista e nem homofóbica.
“É preciso uma economia mais sustentável e que seja mais coletiva pensando sempre em tempos de alegria, livre para termos lazer e cultura, que são fundamentais para a gente se reconhecer como ser humano e interdependentes. É preciso reconhecer que todos precisamos de cuidados e redistribuir isso melhor e não responsabilizar só as mulheres”.
“A gente precisa pensar como é que vamos resgatar o direito ao nosso próprio tempo e desfrutar de sossego e momentos que a gente consiga viajar, ver novos horizontes e superar esta desigualdade patriarcal e racista”, finalizou Mirian.