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26 de agosto: o dia em que a Iveco conheceu a união dos metalúrgicos

Sem temer a presença policial e as atitudes covardes da empresa, o movimento sindical metalúrgico foi à Sete Lagoas-MG, realizou uma grande manifestação e apresentou seu cartão de visitas à Iveco/Fiat, que é sem dúvidas, a pior montadora para se trabalhar no país

Publicado: 27 Agosto, 2008 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

A terça-feira, 26 de agosto de 2008, entrará para a história do sindicalismo metalúrgico brasileiro. Pela primeira vez os patrões presenciaram um grande ato promovido pela categoria na portaria da Iveco de Sete Lagoas, interior de Minas Gerais. A planta é conhecida por pagar os piores salários do país para montadoras, pela práticas anti-sindicais e tudo o que é possível e imaginável do ponto de vista da exploração, coação e precarização no local de trabalho.

Assista ao vídeo da manifestação

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Leia aqui o boletim informativo distribuído em Sete Lagoas

Com caravanas que partiram dos Sindicatos Metalúrgicos do ABC, Taubaté, Sorocaba, BH/Contagem, Santa Luzia, Betim, Juiz de Fora, Vespasiano e Timóteo, os metalúrgicos da CUT ocuparam as áreas de acesso da fábrica por volta das 14h30, para assim, conversar com os trabalhadores durante a troca de turnos.

Logo no início do dia, a montadora informou aos sindicalistas que não receberia a comitiva da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), que pretendia entregar a Pauta Nacional de Reivindicações da Categoria, assinado em conjunto com a CNTM, ligada à Força Sindical. Esta seria a sequência dos atos de entrega que começaram no dia 10 de julho na Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), em São Paulo e que se repetiu no dia 31 de julho na Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG). Os metalúrgicos exigem a reposição das perdas salariais, aumento real, valorização no piso, avanços nas cláusulas sociais e de saúde e principalmente, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução nos salários e limitação nas horas-extras.

Como todo bom anfitrião, a montadora, que pertence ao Grupo Fiat, solicitou reforço policial - inclusive do Batalhão de Choque - para recepcionar os companheiros que enfrentaram horas de estrada para mostrar aos colegas de Sete Lagoas, a exploração pela qual passam e não percebem, já que para muitos, é o primeiro emprego fora da área rural e em um local onde o direito à liberdade sindical é brutalmente ferida, com perseguições e demissões, inibindo assim que as informações sobre condições de trabalho, PLR e tudo o que é conquistado em outras regiões do país possa chegar a estes trabalhadores da maneira correta.

Empresa obrigou funcionários a entrarem pelos fundos. Sem sucesso. - Foto: Valter BittencourtEmpresa obrigou funcionários a entrarem pelos fundos. Sem sucesso. - Foto: Valter Bittencourt

Seguindo à risca a tradição de omissão e covardia quando o assunto é a luta por mais e melhores direitos, a empresa obrigou os ônibus que transportavam os funcionários que entravam para o turno da tarde a seguir pelos fundos, impedindo que todos tivessem acesso ao boletim informativo da Federação dos Metalúrgicos de Minas Gerais (FEM/CUT-MG), que mostrava de forma clara e objetiva a exploração da mão-de-obra metalúrgica na região. De nada adiantou. Assim que souberam, os sindicalistas foram para o local, distribuíram os boletins e conversaram com os colegas sobre as diferenças desproporcionais que acontecem em Sete Lagoas.

"Enquanto um metalúrgico das montadoras de SP ganha em média de R$ 3,3 mil a R$ 3,6 mil para uma jornada de 40h semanais, aqui os companheiros ganham em média R$1,2 mil e ainda trabalham 44h na semana. Por isso, viemos de São Paulo para conversar com os trabalhadores na Iveco com o objetivo de que eles se somem aos metalúrgicos do Brasil na luta pelo Contrato Coletivo Nacional de Trabalho", disse o secretário-geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Valter Sanches.

Sindicalistas caminham em frente a planta da Iveco, em Sete Lagoas - Foto: Valter BittencourtSindicalistas caminham em frente a planta da Iveco, em Sete Lagoas - Foto: Valter Bittencourt

O ato, que ficará marcado como o primeiro passo de uma nova jornada de lutas e conquistas para os metalúrgicos na cidade demonstrou a força empenhada pela categoria na Campanha Salarial Unificada 2008. "Com a pauta unificada, esperamos melhorar as condições de trabalho na Iveco, já que os trabalhadores na linha de produção trabalham tão bem quanto os companheiros paulistas, gaúchos e de outras regiões do país", declarou Ernani Geraldo Dias, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sete Lagoas, que pertence à base da CNTM/FS.

Na tentativa de pressionar os trabalhadores, a empresa monitorava a entrega dos informativos com filmadoras e máquinas fotográficas. Um trabalho inútil, já que a maioria dos metalúrgicos não se intimidou e recebeu com ineditismo as informações que a empresa pratica a pior política salarial entre as montadoras. Já distante das lentes maldosas, apoiaram irrestritamente a primeira grande manifestação no local de trabalho.

Policial segura bomba de efeito moral enquanto conversa com sindicalistas - Foto: Valter BittencourtPolicial segura bomba de efeito moral enquanto conversa com sindicalistas - Foto: Valter Bittencourt

"Não aceitamos este tipo de conduta da PM e da Iveco. Queremos passar para eles essa vontade de lutar por melhores condições de trabalho, nesta que é a pior empresa do ranking, entre as montadoras", desabafou Henrique Alexandre de Almeida Ribeiro, do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora, que assim como todos, presenciou em determinados momentos, os policiais segurando bombas de efeito moral e armas de grosso calibre, num claro sinal de que o trabalhador muitas vezes é tratado como marginal.

Ao presenciar tais atitudes, o secretário de Organização da CNM/CUT e membro da FEM/CUT-MG, Ubirajara de Freitas deixou claro que a luta no Iveco está apenas começando. "O respeito que nós tínhamos por essa empresa agora acabou. Podem chamar o reforço policial que for necessário, que não vão calar a voz da classe trabalhadora."

Nem a presença da PM intimidou os trabalhadores na Iveco - Foto: Valter BittencourtNem a presença da PM intimidou os trabalhadores na Iveco - Foto: Valter Bittencourt

"A experiência que os trabalhadores na Iveco passaram com este ato foi ímpar, pois falta muito para que eles tenham a condição de salário e trabalho como já possuem os companheiros de SP. O objetivo da CNM/CUT é que todos no setor auto tenham um piso nacional de salários. Não podemos aceitar que uma empresa do porte da Fiat pague um terço do salário de outras regiões", disse o secretário de Finanças da CNM/CUT, José Wagner de Olivera.

Marcos Marçal, presidenta da FEM/CUT-MGMarcos Marçal, presidenta da FEM/CUT-MG

Depois da bem-sucedida ação com os trabalhadores, os sindicalistas deixaram o aviso. "Vamos demonstrar para a direção da empresa que não adianta usar de artifícios. A prepotência não vai prevalecer sobre a vontade dos trabalhadores", afirmou o presidente da FEM/CUT-MG, Marcos Marçal. Já o secretário de Formação da CNM/CUT, Paulo Cayres, concluiu: "Esse é apenas o começo."

Valter Bittencourt - Imprensa CNM/CUT