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A década do INTEGRAR

Publicado: 01 Novembro, 2005 - 15h27

Escrito por: CNM CUT

por Juliana Pires

Meados da década de 90: os metalúrgicos (as) precisam mais do que força para combater o desemprego e a precariedade das condições de trabalho e o Brasil sofre com a política neoliberal de FHC. Neste contexto, surge o Programa Integrar. Iniciativa pioneira da Confederação Nacional dos(as) Metalúrgicos(as) da CUT, busca a criação de alternativas de políticas públicas de formação, qualificação e requalificação para o trabalho, geração de emprego e renda e combate ao desemprego e à exclusão social. Hoje, os resultados são visíveis: cerca de 350 mil trabalhadores(as) contemplados(as) em todas as regiões do país no programa mais inovador de formação do(a) trabalhador(a) brasileiro(a).

O Programa foi implementado primeiramente no estado de São Paulo em 1996 e se ampliou a partir de 1997 para os estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. E em 1998, Pará, Santa Catarina e Paraná iniciaram seus cursos ao mesmo tempo em que Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia realizavam suas primeiras oficinas pedagógicas. No ano seguinte, 1999, Pernambucoiniciou seus cursos e Mato Grosso do Sul e Alagoas desenvolveram Oficinas Pedagógicas. Em 2000, o Programa Integrar, com todas suas ações, é realizado no Estado de Alagoas.

Para o Coordenador Nacional do Instituto Integrar e Secretário de Políticas Sindicais da CNM/CUT, Marino Vani, o programa é uma das melhores e mais importantes idéias dos(as) trabalhadores(as) na área a educação no Brasil nas últimas décadas. Marino acrescenta ainda que a proposta de educação integral é uma possibilidade de contribuir para a formação de quadros dirigentes que fortaleçam a negociação coletiva de interesses entre trabalhadores(as) e patrões, buscando a transformação das relações entre o capital e o trabalho. A razão para o sucesso do Integrar pelo Brasil afora é a metodologia utilizada pelo programa e seu público alvo entre outros elementos. A educação e formação profissional contemplam não só os(as) trabalhadores(as) desempregados(as), mas também aqueles(as) que estão empregados(as) e os dirigentes sindicais. Além disso, o programa se destaca por valorizar os saberes que os(as) trabalhadores(as) têm, com base em suas experiências de vida, de trabalho e de luta.

O Programa acontece a partir de várias modalidades: Programa Integrar para Trabalhadores(as) Desempregados(as), Programa Integrar para  Trabalhadores(as) Empregados(as) (PIE) e ProgramaIntegrar para a Formação de Dirigentes Sindicais (PIFDS) que buscam articular os conhecimentos gerais com a formação para o trabalho, certificando em nível de ensino fundamental e médio e fomentando a organização coletiva e o desenvolvimento de alternativas de mais renda.

Além desses, o Integrar desenvolveu cursos de extensão sobre Economia do Trabalho e Sindicalismo em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e de Gestão Pública, em parceria com a Universidade Federal de São Carlos(UFSCAR).

Há ainda o programa Gestão Estratégica da Informação e Formação de Dirigentes de Base, o programa de Gestão e Planejamento e Economia Solidária, os cursos de informática, as ações de formação em economia solidária, o Programa Integrar para a Inclusão Digital e a Economia Solidária na Perspectiva do Desenvolvimento Integral além dos programas com a juventude.

Para Almir Santos, 21 anos, educando do Consórcio Social da Juventude na oficina de ação de apoio ao desenvolvimento escolar pelo Instituto Integrar de Salvador/BA, as aulas do Integrar levaram os(as) alunos(as) para uma avaliação e atuação crítica sobre a conjuntura e sobre a relação de forças do país. Enquanto educando mantive as minhas características de altivez e de questionamento, típicas do comportamento juvenil. Intercambiar, potencializar, mobilizar para a construção de espaços e ações de inclusão são verbos comuns no dia-a-dia dos que foram beneficiados com projetos como esse.

Segundo Marino, o Programa Integrar fomenta com os trabalhadores o desenvolvimento intelectual, a percepção, a abstração, elaboração, gestão e principalmente as respostas e ações sobre a realidade. Mais do que isso, representa de forma concreta a esperança de que é possível construir um novo mundo, uma nova forma de pensar e agir sobre os desafios colocados à sociedade, finaliza.

A repercussão do Programa Integrar vai além das fronteiras geográficas ou do universo do trabalho conforme comprova Judith Marshall, coordenadora do fundo humanitário Steelworkers, do Canadá. O Integrar ganhou fama em todo mundo como resposta criativa às questões de educação integral do trabalhador, avalisa.

O Integrar hoje

Atualmente o Programa Integrar acontece nos estados da Bahia e Rio Grande do Sul. Na Bahia o programa foi iniciado há sete anos com as oficinas pedagógicas. Em 1999, implantou-se três núcleos do ensino fundamental com educandos de Salvador, Simões Filho, Camaçari, Dias d'Avila, Ilhéus e Itabuna. Essas turmas foram certificadas pelo Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia(CEFET) em 2001. Além disso, as parcerias com prefeituras de diferentes cidades elevaram a escolaridade com certificação de mais de 1.380 trabalhadores.

Cursos de Gestão e Planejamento, Alternativas de Organização Popular e Inclusão Digital aconteceram entre 1999 e 2001. A partir de 2003 através da parceria com o Programa Primeiro Emprego, jovens da região metropolitana de Salvador participaram da Oficina de Qualificação Profissional, Gestão e Planejamento.

Já no Rio Grande do Sul o Programa formou, desde 1997, mais de 2.600 trabalhadores(as) no ensino fundamental e médio em 15 municípios. Além disso, desde 2003, o Instituto mantêm junto com vários sindicatos dos metalúrgicos cursosque contribuem com o processo de inclusão digital. Uma parceria com a Secretaria de Educação de Gravataí contribui com os Centros Regionais de Educação de Jovens e Adultos(CEREJAs), no debate e organização da geração de trabalho e renda a partir da articulação com o currículo escolar. Em 2005, em parceria com a Petrobras e por meio do Programa Fome Zero, foi implantado o Programa Integrar de Inclusão Digital e Economia Solidária para 3.500 trabalhadores em 12 municípios do estado.

Para Lírio Segalla da Rosa, secretário de formação do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre/RS, o programa Integrar além de recuperar a auto-estima demonstra que nós trabalhadores temos uma proposta bem sucedida para a educação. Isto é um desafio para os dirigentes.

Os números do Integrar

Atividades de formação com cerca de 350 mil trabalhadores(as) desempregados(as), empregados(as) e dirigentes sindicais no Brasil.
10.383 trabalhadores(as) certificados(as) em nível de ensino fundamental.
1.058 trabalhadores(as) certificados(as) em nível de ensino médio.
90 dirigentes sindicais certificados no curso de extensão universitária de Economia do Trabalho através da parceria com Unicamp.
30 dirigentes sindicais certificados no curso de extensão universitária de Gestão Pública através de parceria com a Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR

Parcerias e articulações com várias entidades no Brasil como os centros federais de educação tecnológica (CEFETs), secretarias do trabalho, de desenvolvimento e de educação dos governos estaduais e municipais, universidades, organizações não-governamentais (ONGs), entre outras. Publicação de cerca de 160 documentos entre materiais didático-pedagógicos, sistematizações, estudos e pesquisas, revistas, folders e cartazes.

Educação Integral. Nossas lutas e conquistas.

por Marino Vani

No ínicio poucos e poucas acreditavam, sequer sonhávamos. Não tínhamos muitas certezas, mas uma era evidente, precisávamos lutar e conquistar uma educação transformadora. Hoje, depois de 10 anos e após sistematizarmos o acúmulo da educação popular latino americana, brasileira, com participação, construção coletiva e conquistas, construímos e consolidamos a proposta da educação integral: o Integrar.

Temos uma das melhores experiências de educação de massas e quadros dirigentes do Brasil e talvez do mundo. É nosso papel, dos dirigentes, sindicatos, federações e CNM/CUT levar esta idéia a todos(as) os(as) trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.

Precisamos consolidá-la, construi-la como política de estado de governos municipais, estaduais e federal. É nosso papel negociarmos, pactuarmos e contratarmos a educação integral nos espaços públicos e em todos os locais de trabalho deste país.

Os(as) trabalhadores(as) merecem, têm este direito e nós, somente nós, dirigentes que temos uma causa e uma estratégia que passa pela resistência propositiva temos a capacidade para esta conquista.

Parabéns a todos e todas que lutaram, negociaram e construíram esta idéia que é o Integrar.

Vamos à luta, pois a utopia é possível se tentarmos. Viva a classe trabalhadora, viva a nossa luta, E VIVA O INTEGRAR!