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Acidente no alto-forno da CSN agita mercado de aço

Publicado: 24 Fevereiro, 2006 - 08h00

Escrito por: CNM CUT

O acidente que parou o maior alto-forno da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) na tarde de domingo 22 de janeiro agitou o mercado de aço no último mês. Em uma operação de guerra, Benjamin Steinbruch, presidente da companhia, foi às compras de chapas de aço em várias partes do mundo para não deixar seus clientes da indústria automotiva, de embalagens, da construção civil e de eletrodomésticos sem matéria-prima.

A operação movimentou quase 1 milhão de toneladas, segundo informação da empresa. A preços que variaram de US$ 350 a US$ 380 a tonelada, colocadas no porto de Sepetiba (RJ), a CSN adquiriu aço da Rússia, Ucrânia, de outros países do Leste europeu, da Ásia, do México (Imexa, usina da Mittal Steel), Venezuela e Argentina.

Os preços de placas no mercado da Ásia, com uma procura desse porte, sofreram influencia e chegaram a subir em torno de US$ 20 a US$ 30 a tonelada, segundo publicações especializadas. A CSN garante que conseguiu adquirir material na maioria do casos a preços 10% inferiores aos de mercado.

No Brasil, Usiminas e CST (Arcelor Brasil) informaram que para fevereiro fizeram esforços para alocar cerca de 15 mil a 20 mil toneladas cada uma para a concorrente. Para os próximos meses, tentarão aumentar esses volumes. 'Já estávamos com toda a nossa venda fechada, mas vamos ver o que podemos fazer para deslocar mais placas à CSN', disse Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas.

Segundo a CSN, o reparo do filtro que aspira gases emitidos pelo alto-forno 3 da usina de Volta Redonda ficará pronto até 30 de maio, conforme contrato firmado com a Usiminas Mecânica, controlada da Usiminas da área de bens de capital com experiência em reformas desse tipo de instalação.

A operação começou semana passada com a desmontagem dos equipamentos danificados - apenas o filtro pesa 500 toneladas. Depois de reconstruí-los em terra começará todo uma complexa montagem.
A obra durará 110 dias. Como o alto-forno tem altura de cerca de 100 metros, foi alugado o maior guindaste do país, apto a suportar peso de até 800 toneladas.

Nessa operação, a CSN teve de pechinchar preços com a Usiminas Mecânica, uma vez que a fabricante usará chapas grossas produzidas pela Usiminas para construir o equipamento e suas tubulações.

'Tive muita sorte que o acidente ficou restrito ao filtro e algumas tubulações e não atingiu o alto-forno', confidenciou Steinbruch a executivos do setor. O empresário não quis falar sobre o assunto ao Valor.

A empresa diz estar tranqüila quanto às perdas provocadas pelo acidente. A CSN informou em nota que está coberta por uma apólice de seguro de US$ 100 milhões para o equipamento e por outra de US$ 750 milhões para lucros cessantes. A companhia que lidera o pacote de seguro de toda a usina da CSN, que deve ser de vários bilhões de dólares, é a Unibanco AIG.

O sinistro maior não será do equipamento, cuja reconstrução está avaliada entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões, mas sim de lucros cessantes provocados pela interrupção da produção de placas: por ano, esse alto-forno faz 3,8 milhões de toneladas. Vai ficar parado mais de quatro meses, período em que deixarão de ser produzidas cerca de 1,3 milhão de toneladas. O volume adquirido foi diminuído porque a empresa tinha em estoque 240 mil toneladas de placas.

Agora, a batalha de Steinbruch será obter um acordo o mais breve possível com a Unibanco AIG para receber as perdas, que devem montar bem mais que US$ 200 milhões. Além do valor do reparo do equipamento, a CSN vai pleitear a diferença entre o custo de produção de placas em sua usina - na faixa de US$ 160 a tonelada - e o preço pago para adquirir o produto mundo afora, mais custos de transporte até dentro da usina, em Volta Redonda. Até o porto, essa diferença deve ficar na casa de pelo menos US$ 200 a tonelada.

Em outros casos, houve embates duríssimos entre siderúrgicas e seguradoras. O grupo Gerdau, por exemplo, briga até hoje na Justiça para receber seguro do acidente que ocorreu há quatro anos na usina Ouro Branco, da Açominas.

Fonte: Valor

CSN