ALUMAR: 25 anos de quê?
Publicado: 30 Janeiro, 2006 - 08h00
Escrito por: CNM CUT
Histórico
O Sindicato dos Metalúrgicos de São Luís - SINDMETAL/MA denuncia a situação dos empregados da ALUMAR, consórcio multinacional (BHP BILLITON, ALCOA, ALCAN E ABALCO), maior complexo integrado de Alumina e Alumínio do mundo.
Ao contrário da imagem apregoada à sociedade pela empresa Recordista Mundial de Produção, seus trabalhadores vivem sob constante pressão, direitos trabalhistas, saúde e à liberdade ameaçados.
A ALUMAR até hoje se recusa a pagar o adicional de periculosidade aos seus eletricistas, assegurado na Lei 7.369/85. A empresa pressiona líderes encarregados para saírem do quadro de sócios do sindicato, garantia assegurada na Constituição Federal.
A relação da empresa com o SINDMETAL sempre foi difícil. Em 2003, por exemplo, nas negociações salariais - data base de março - e manifestações pacíficas dos trabalhadores (paralisações de advertência), a ALUMAR usou da força policial e repressão ao mobilizar seguranças particulares armados e chamar a tropa de choque da Polícia Militar para intimidar os trabalhadores. Em seguida, usou tática de guerra, fechando as entradas com cadeados e correntes, colocando seguranças em todas às vias de acesso à empresa com objetivo de impedir a entrada dos sindicalistas e da comissão de negociação salarial para informar a categoria sobre o andamento da campanha.
Pior aconteceu na Campanha Salarial de 1993 quando a ALUMAR divulgou em toda imprensa falada e escrita que seu superintendente de Recursos Humanos, à época Celso Motter Carvalho, teria sido seqüestrado, torturado e tido a boca costurada com arame. Acusou o sindicato de autoria intelectual e suspendeu um funcionário sindicalista o acusando do episódio. As investigações foram conduzidas ao 11º Distrito Policial (São Cristóvão), pelo então Delegado Manoel Bastos. As conclusões do inquérito policial revelaram que foi uma farsa montada pela própria vítima e a empresa na tentativa de jogar a culpa sobre nos sindicalistas.
ALUMAR retira direitos
Em Agosto de 1989 foi assinado o 1º Acordo de Turno Ininterrupto de Revezamento com cinco turmas - com 300 trabalhadores cada - com média de carga horária de 33,6 horas semanais, renovado a cada dois anos e considerado como uma das melhores do mundo.
O acordo expirou em setembro do ano passado e a ALUMAR impôs o retorno ao passado com o TURNO FIXO, desrespeitando a legislação trabalhista e os direitos adquiridos pelos trabalhadores.
No TURNO FIXO, o trabalhador exerce suas atividades sempre no mesmo horário. O turno da manhã não incorpora mais adicional noturno; os da tarde só incorporam parte deste, ou seja, o salário reduziu. Para os que trabalham seis noites seguidas com apenas duas folgas, não há mais convivência familiar e nem social. Outro ponto cruel e por sinal é uma jornada de trabalho de 33,6 horas para 48 horas, sendo que essas horas não estão sendo pagas aos trabalhadores.
Com o objetivo de aumentar a produção e o lucro, a ALUMAR implantou o turno fixo, que está causando a demissão de vários trabalhadores desde sua implantação.
O turno fixo é puro retrocesso nas relações trabalhistas, pois, enquanto parte do mundo avança na redução da jornada de trabalho sem redução de salário, a ALUMAR faz tudo ao contrário, levando seus funcionários ao trabalho análogo escravo.
Trabalhadores indignados
A ALUMAR é recordista mundial de produção de alumina e alumínio e está se expandindo com a terceira linha de produção sem gerar se quer um emprego. Tem acordo com a ELETRONORTE, que lhe garante energia elétrica para os próximos 20 anos; tem ações em hidrelétricas e em Mina de Bauxita, para se tornar auto-suficiente e está conseguindo não só por méritos de produção, mas com o salário de seus trabalhadores.
Porém, a ALUMAR quer mais; já expõe seus trabalhadores a aumento dos riscos de acidente de trabalho e doença ocupacional, entre outras mazelas já constatadas em pessoas que manipulam produtos químicos de alta periculosidade, como soda caustica, piche, coque, fluoreto, entre outros.
A empresa passa visivelmente por uma ótima fase de geração de produção e lucro, mais precisamente 7,8 bilhões de dólares por ano, aspecto que são divulgados extensamente para a sociedade pela imprensa; possui subsídios governamentais como isenção de impostos, entre outros.
E os trabalhadores? Só recebem porrada da direção da ALUMAR!
Trabalhadores concientizados
O SINDMETAL realizou uma pesquisa em novembro passado envolvendo 750 metalúrgicos da ALUMAR. Foi constatado o que todos já sabiam: OS METALÚRGICOS NÃO QUEREM O TURNO FIXO. Traduzindo: a ALUMAR está impondo o Turno Fixo para seus trabalhadores e os forçando a enfrentar jornadas estressantes e degradantes.
A pesquisa constatou também que 97% dos trabalhadores querem a volta do turno anterior.
Com quatro meses de funcionamento o Turno Fixo já ocasionou a triplicação de acidentes de trabalho e atestados médicos apresentados pelos trabalhadores na empresa.
SINDMETAL denuncia turno da morte
Diálogo. Essa é a palavra que resume a tentativa do SINDMETAL em sentar com a ALUMAR para obter uma saída para esse enorme problema. A ALUMAR se recusou em sentar para renovar o acordo de turno ininterrupto ou buscar outra forma, quis mesmo impor sem perguntar aos trabalhadores qual a melhor forma de trabalho para os dois lados.
Assim, o sindicato denunciou ao Ministério Público do Trabalho, que está juntando provas para Ação Civil Pública, à Delegacia Regional do Trabalho, que já autuou a ALUMAR duas vezes em quatro meses.
A pedido do sindicato, foi realizada uma audiência pública na assembléia legislativa do Maranhão com os deputados estaduais das comissões de saúde, trabalho e direitos Humanos. Os deputados ficaram estarrecidos com as condições de trabalho que vivem os metalúrgicos na ALUMAR; ficaram mais estarrecidos ainda com a arrogância do senhor Nilson Sousa, gerente operacional da ALUMAR, que não compareceu à audiência e por meio de fax chamou os deputados e autoridades presentes de incompetentes para tratar do assunto.
José Maria Araújo, Presidente do SINDMETAL, entregou pessoalmente um DÔSSIE ALUMAR nas mãos do Presidente da Câmara Federal, Aldo Rebelo.
Prejuízo à saúde do trabalhador
O trabalho de produção do alumínio é reconhecidamente prejudicial à saúde, especialmente a longo prazo. Fichas internas da ALUMAR mostram os perigos à saúde humana que produtos químicos utilizados na fábrica produzem, como coque, piche de alcatrão etc. Eles provocam enrijecimento das articulações, impotência sexual, dores musculares e doenças degenerativas.
Após 22 anos de operação, muitos funcionários, em particular os da produção, apresentam doenças ocupacionais. Vários já morreram de câncer. Outros apresentam seqüelas irreversíveis.
25 de Junho de 2001
João Batista Ferreira Nascimento morreu um dia após completar 40 anos de idade. Causa da morte: CÂNCER NO FÍGADO. João foi um trabalhador exemplar da ALUMAR durante anos. Trabalhava na perigosa área 254, conhecida como área preta. Ele fabricava anodo, manuseando piche e coque.
Sua pele sempre estava recoberta por uma crosta escura e pegajosa. Nem máscara e nem óleo que passava sobre a pele evitaram a contaminação fatal, mas João não foi o primeiro trabalhador daquela área a morrer de câncer.
Antes dele, morreram o técnico em segurança, Protásio, e o Instrumentista, José Maria. A matéria usada no setor é reconhecidamente cancerígena. O último falecimento aconteceu no segundo semestre de 2005. Fernando, trabalhador do setor de redução, morreu de câncer no fígado.
A própria ALUMAR reconhece isso quando em suas palestras sobre segurança cita 600 casos ocorridos em suas fábricas espalhadas pelo mundo.
06 de Julho de 2003
Um acidente em uma subestação provocou a paralisação de 250 cubas do setor II. Estima-se de seis a oito semanas para recuperação dos equipamentos. Felizmente, o acidente foi no horário do almoço e por isso não houve vítimas. A fábrica não admite, mas a causa do acidente foi a sobrecarga e o superaquecimento dos equipamentos elétricos.
Segundo diretores do sindicato esse é o resultado da corrida maluca pela superação de metas de produção. O sindicato solicitou oficialmente uma explicação para o acidente, até hoje não obteve resposta.
Esses são apenas dois exemplos de um enorme mar de lama escondido pela ALUMAR.
ALUMAR VERSUS TRABALHADORES
A gerência da ALUMAR está em visível conflito administrativo, ou seja, estão batendo cabeça sem saber o que fazer com a revolta dos trabalhadores. A revolta é tamanha que, aconteceram três paralisações de advertência dentro da fábrica, onde a direção da ALUMAR pediu quase implorando para que os diretores do sindicato interviessem na discussão e tentassem acalmar os ânimos dos trabalhadores.
Assim foi feito pelo sindicato que mediou a situação e conseguiu convencer os trabalhadores a retornarem para as atividades aceitando a proposta de uma reunião para rever o Turno, feita pela da direção da ALUMAR que se viu no desespero com as cubas paradas.
Na reunião que contou com a ilustríssima presença de Nilson Sousa e todo o alto escalão que tratou logo logo de distorcer a pauta e reafirmar que não iriam discutir turno e, sim pagamento. Resultado: os trabalhadores ameaçam para de vez, 100% das atividades a qualquer momento.
Já no dia 14 de Janeiro o SINDMETAL tentou entrar na empresa para falar com os trabalhadores. Resultado: sindicalistas e empregados receberam de presente da ALUMAR seguranças armados, correntes, cadeados, e como já é de costume: muita muita Polícia Militar na entrada da multinacional.
Além disso, os diretores do sindicato estão tendo todos os passos monitorados dentro da empresa, onde, para cada diretor sindical existe um encarregado da ALUMAR para vigiá-lo desrespeitando assim Constituição Federal do Brasil, CLT, entre outros. Assim, a ALUMAR pratica crime contra a OIT - Organização Internacional do Trabalho.
ALUMAR é bi-campeã no ranking das piores empresas de 2005
Levando em consideração a Jornada de Trabalho, salários, pagamento de adicionais de insalubridade, periculosidade, números de trabalhadores acidentados, doentes, mortos,
e número de demissões no ano passado, a ALUMAR lidera com enorme margem de vantagem a lista das piores empresas de 2005, dando continuidade a uma triste e vergonhosa história no Maranhão.
O título foi garantido graças a Gerência da ALUMAR estar em conflito administrativo e, impor o Turno Fixo aos seus trabalhadores.
Fonte: Assessoria de Imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de São Luís - MA (Sindmetal)