Autopeças investem pesado para acompanhar vendas de carro
Publicado: 30 Janeiro, 2007 - 08h00
Escrito por: CNM CUT
O engenheiro Wilson Sapatel torce para que a temporada das chuvas em São Paulo termine logo. Ele tem pressa em ver pronto o prédio que está sendo erguido ao lado da fábrica da empresa da qual ele é diretor. A ZF Lemförder, produtora de componentes de suspensão e direção do Grupo ZF, é uma das autopeças que precisa investir em expansão para acompanhar a onda de crescimento de vendas de carros no Brasil.
Os fornecedores da indústria automobilística estão divididos em três categorias hoje no Brasil: os que ainda contam com alguma folga de capacidade, os que começam a sentir alívio de ter perdido exportações porque assim podem atender ao aumento da demanda interna e os que precisam expandir capacidade rapidamente para não ficar fora desse cenário.
O resultado das vendas de veículos em 2006 - 12,4% acima de 2005 - surpreendeu as próprias montadoras. Isso fez a soma dos estoques de veículos nas fábricas e concessionárias cair da média de 150 mil unidades - volume com o qual a indústria sente mais conforto para trabalhar - para 120 mil.
'Este é o mais baixo nível de estoque dos dois últimos anos', afirma Wilson Rocha, gerente de vendas e engenharia da TRW, que está investindo em nova linha de cintos de segurança para dobrar o volume de produção, de 500 mil conjuntos/ano hoje, até 2008.
A percepção de que a falta de alguns modelos de carros já provoca fila de espera nas concessionárias provoca uma pressão nos fornecedores. O ano passado começou com uma produção trimestral de 631 mil veículos e terminou com 660 mil. As linhas de montagem despejam hoje 11 mil veículos por dia. Eram 10 mil e pouco um ano atrás.
O mercado interno de carros de passeio é o que continua a puxar o crescimento. Na primeira quinzena, o licenciamento de automóveis no país cresceu 38,78%, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave).
A indústria de autopeças se prepara para investir este ano US$ 1,350 bilhão, segundo levantamento do Sindipeças, que representa o setor. Boa parte desses recursos será usada em expansões.
Apenas o prédio que a ZF Lemförder está construindo ao lado da fábrica em Sorocaba (SP) vai consumir R$ 8 milhões. Wilson Sapatel calcula que serão necessários mais R$ 17 milhões para encher o edifício com máquinas, que farão a capacidade de produção anual crescer de 4,5 milhões para 10 milhões de peças.
'O crescimento do mercado interno nos impulsiona', diz Sapatel, que calcula elevar a receita da empresa este ano em mais 23%. A expansão vai exigir a contratação de mais 150 empregados numa fábrica onde já trabalham 325. O executivo reforça o coro dos que dizem que o crescimento do mercado além das expectativas só tem uma explicação: queda dos juros e aumento de prazo atraíram o brasileiro para os financiamentos de carros novos.
Outra empresa em plena fase de crescimento é a alemã ElringKlinger, uma das maiores fornecedoras de juntas de cabeçote. Esse fornecedor vai investir R$ 30 milhões para comprar mais máquinas e, assim, elevar o ritmo de produção de tampas plásticas para válvula de motor. Instalada em Piracicaba (SP), a ElringKlinger precisa elevar o ritmo de dois para três turnos em algumas áreas, diz o diretor-geral, Hans Eckert.
Segundo ele, a cada mês essa empresa precisa abrir entre cinco e oito vagas no mínimo. Para não deixar de atender a nenhum pedido, explica, a fábrica trabalha com estoque de seis meses.
Para evitar que o cliente ficasse na mão, a TRW recorreu a uma importação relâmpago de peças no início do mês, depois que o desabamento de uma estrutura metálica a levou a suspender a produção na fábrica de Limeira (SP). Peças do servofreio foram trazidas de avião de fábricas da própria TRW da Polônia e Alemanha.
A Delphi , outra gigante do setor, inaugurou uma fábrica de compressores de ar-condicionado em 2000 com o sonho de produzir 500 mil peças por ano. Passar a 700 mil unidades já foi uma surpresa, segundo o presidente, Gábor Déak. Agora a linha funciona ao ritmo que a levará a produzir 1 milhão de peças este ano. O presidente da empresa, que acaba de inaugurar mais uma fábrica de chicotes elétricos, diz que está tendo de recorrer ao terceiro turno em algumas fábricas do grupo. 'Estou torcendo para que a gente continue sendo surpreendido', diz Déak.
'Hoje enxergamos pedidos firmes em seis meses pela frente', conta o vice-presidente da Dana, a americana dona de uma das maiores instalações de fornecimento de peças no Brasil. A Dana está entre as empresas do setor que precisaria expandir as instalações se o mercado de caminhões e tratores estivesse num ritmo tão acelerado quando o de automóveis.
Em plena fase de ampliação industrial, a sueca SKF, com fábrica de rolamentos para automóveis no Brasil, gastou recentemente R$ 15 milhões para ampliar a produção. Com isso, a empresa, que opera 24 horas por dia, alcançou a marca história de 18,7 milhões de rolamentos em 2006, 28% mais do que no ano anterior. 'Estamos batendo recorde ano após ano', afirma o diretor industrial, Amadeo Comin.
Há também as empresas que só não estão ampliando as instalações porque já vislumbram perdas de contratos de exportação É o caso da filial brasileira da Bosch, hoje a maior fabricante de autopeças do mundo. 'A queda de vendas ao exterior está sendo compensada pelo aquecimento do mercado interno', afirma Klaus Thunig, vice-presidente da Robert Bosch na América Latina.
Na Saint Gobain, fornecedora de vidros para carros, o ritmo está 5% a 6% acima do que a direção da empresa calculou. Mas, segundo o diretor geral, Renato Holzheim, os volumes só não estão maiores porque as linhas de exportação não seguem o mesmo ritmo de crescimento.
Fonte: Valor