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BenQ enfrenta crise e vende fábrica de celular em Manaus

Publicado: 14 Maio, 2007 - 08h00

Escrito por: CNM CUT

Em meio a um escândalo envolvendo sua alta diretoria, a companhia taiwanesa BenQ firmou acordo para vender sua fábrica de celulares no Brasil aos empresários Enzo Monzani e Conrado Will, donos da grife de roupas Zoomp.

Num comunicado divulgado na sexta-feira, a BenQ informou que os contratos para a transferência de ações e para o uso da marca estão em processo de assinatura. Os termos financeiros do negócio não foram divulgados.

A fábrica e o centro de pesquisas de Manaus ficaram menos de dois anos nas mãos da BenQ. A unidade fazia parte dos ativos da Siemens que a empresa de Taiwan assumiu em junho de 2005, quando ambicionava se tornar uma marca conhecida no Ocidente.

Na ocasião, a BenQ recebeu 350 milhões de euros da Siemens para ficar com a deficitária divisão de celulares do grupo alemão. Teria direito ao uso da marca Siemens por cinco anos. A empresa não conseguiu reerguer a unidade, que acumulou prejuízo de US$ 1 bilhão em dois anos. Em fevereiro, a fábrica na Alemanha foi fechada, depois que fracassaram as negociações para vendê-la.

Já fazia alguns meses que a BenQ vinha procurando compradores para os ativos brasileiros. Diferentemente da matriz, a unidade local costumava dar bons resultados, segundo fontes que conhecem a empresa. Mas, recentemente, começou a ser contaminada pelos problemas financeiros do grupo.

'A BenQ, empresa de origem taiwanesa, após o fechamento de sua divisão na Alemanha, vem sofrendo diversos problemas em nível mundial em suas subsidiárias. A divisão brasileira apesar dos bons resultados em vendas, principalmente no varejo, passou a ser influenciada pela situação mundial', afirmou o comunicado.

A crise na unidade brasileira já se fazia sentir desde o ano passado, com a demissão de funcionários. A marca Siemens, que chegou a ter participação relevante no mercado de celulares GSM, teve sua presença fortemente reduzida no varejo. Além dos telefones, a BenQ pretendia vender no país laptops com sua marca. Os computadores seriam produzidos pela Elgin, mas o acordo entre elas foi rompido em julho.

Procurados pelo Valor para comentar seu ingresso no mercado de aparelhos de celular, os novos donos da BenQ brasileira não haviam sido localizados até o fechamento desta edição. No ano passado, Monzani e Will - por meio dos fundos Aureate e M.A.C. Investimentos - adquiriram a Zoomp dos fundadores da marca, Renato Kherlakian e Álvaro Neiva.

O anúncio da compra da fábrica brasileira veio no fim de uma semana na qual o presidente do conselho de administração da BenQ, Kun-yao Lee, e quatro executivos foram indiciados em Taiwan.

Lee é suspeito de usar informações privilegiadas para negociar ações - o que ele nega. Se considerado culpado, poderá ser condenado a dez anos de prisão e a pagar multa de até 500 milhões de dólares de Taiwan (US$ 15 milhões). Sobre os quatro executivos, recaem acusações de uso de informações privilegiadas, lavagem de dinheiro, fraude, manipulação de ações e falsificação de documentos.

Segundo o gestor de recursos Hiroki Lu, a fabricante de eletrônicos precisa reduzir custos e elevar o lucro para que as ações voltem a subir. Os papéis da BenQ acumulam queda de 30% no ano, afetados pelas investigações e por perdas resultantes da aquisição da unidade de celulares da Siemens.

'Será um grande estímulo para o preço das ações se a empresa conseguir voltar a ter lucro', observou Lu, que ajuda a administrar o equivalente a US$ 750 milhões na President Securities Investment Trus, em Taipé. Lu diz que não possui mais ações da BenQ, já que seu fundo as vendeu há um ano.

Antes do indiciamento, Lee disse que as operações de celulares da BenQ equilibrariam receitas e despesas até o fim do ano. Ele também afirmou que a empresa será renomeada para Jia Da, algo como 'excelentes realizações' em chinês, e voltará a suas raízes de produção industrial sob contrato. A unidade que vende produtos com marcas próprias manterá o nome BenQ e será desmembrada em setembro.

Os produtos de comunicação móvel, incluindo telefones, representaram 6% das vendas no primeiro trimestre, ante 35% do mesmo período do ano passado. A área de computação, incluindo monitores de cristal líquido, gerou 74% da receita, acima dos 57% de igual intervalo de 2006.

Fonte: Valor