MENU

Bosch vai produzir em 2007 o primeiro freio ABS brasileiro

Empresa anuncia nacionalização do sistema, apesar do câmbio favorável às importações

Publicado: 09 Maio, 2006 - 08h00

Escrito por: CNM CUT

A Robert Bosch vai produzir em Campinas (SP) o primeiro freio ABS brasileiro, o sistema inteligente de frenagem. O equipamento, hoje importado pelas montadoras, é considerado importante item de segurança, mas por ter alto custo está em apenas 12% dos automóveis. Com a nacionalização, a Bosch pretende baratear o preço e ampliar a oferta para cerca de 60% dos veículos num prazo de sete anos. Vendido como opcional, o ABS encarece o automóvel entre R$ 2 mil e R$ 3 mil.

A produção local vai começar em julho de 2007 e consumirá R$ 25 milhões em investimento. A linha de montagem terá capacidade inicial para 250 mil peças. Atualmente, a Bosch importa 200 mil unidades ao ano para atender várias montadoras que destinam parte para os carros nacionais e parte para os modelos de exportação.

O anúncio da Bosch, uma das maiores fabricantes de autopeças no País, ocorre num momento em que o câmbio está favorável à importação. 'Nosso projeto visa o longo prazo e acreditamos no potencial do mercado', diz o presidente da Bosch, Edgar Silva Garbade, para quem o real não ficará valorizado para sempre.A importação do sistema completo da Europa e EUA será suspensa.

O ABS dá estabilidade ao veículo, evita travamento de rodas nas frenagens e permite dirigibilidade para tentar escapar de uma batida. O freio comum trava as rodas e o veículo segue em frente, mesmo que o motorista vire o volante. A Bosch pretende desenvolver campanha nacional para conscientizar motoristas da importância do sistema, visto por analistas como o item de segurança mais importante depois do cinto.

Na Europa e Japão o ABS equipa 100% dos carros e, nos EUA, 80%. Inicialmente, o sistema brasileiro terá apenas 30% de conteúdo local, mas o objetivo é dobrar o porcentual em alguns anos. Todos os componentes eletrônicos serão importados e no Brasil será feita a usinagem e a montagem.

Com a decisão, a Bosch se antecipa a um grupo formado por cinco montadoras que estudava a criação de um consórcio para a produção de ABS no País. Volkswagen, Fiat, General Motors, Ford e Renault pretendiam convencer uma das grandes fabricantes de autopeças a nacionalizar a produção do sistema de freio. Em contrapartida, se comprometeriam a comprar o sistema, o que elevaria a demanda e reduziria custos. Além das montadoras, participaram as discussões da criação do consórcio a própria Bosch, a TRW, Delphi e a Continental/Alfred Teves.

Dirigentes das montadoras calculam que a nacionalização do ABS poderia reduzir o preço em até 50%. A Bosch afirma que a queda de preço será gradativa. O consumidor não deve sentir a diferença de imediato, por causa do elevado índice de componentes importados.

EXPORTAÇÕES
A Bosch também está na lista de empresas prejudicadas pelo câmbio. Em 2005, a companhia exportou 47% de sua produção, participação que este ano será menor. 'Temos dois contratos que não foram renovados, um de componentes de freio para os EUA e outro de peças de arranque de motor para o México', informa Garbade.

Os contratos, no valor conjunto de R$ 200 milhões, foram assumidos por outras filiais do grupo que apresentaram preços melhores que o Brasil. Com isso, a previsão de faturamento da unidade brasileira para este ano baixou para US$ 3,8 bilhões.

Para ganhar dinheiro com as exportações, o câmbio deveria ficar abaixo de R$ 2,50 . 'Estamos trabalhando para baixar custos e melhorar a produtividade para enfrentar o real valorizado, mas o governo precisa desonerar o processo de exportação', afirma Garbade.

Segundo ele, o crescimento do mercado interno de veículos tem ajudado a compensar parte da queda das exportações. A empresa, grande fabricante do sistema flex (ou bicombustível) projeta para o Mercosul produção de 2,7 milhões de veículos este ano.

A Bosch tem quatro fábricas no Brasil, duas em Campinas, uma no Paraná e outra na Bahia. Emprega 11,7 mil funcionários. A produção do ABS no interior de São Paulo não vai gerar novas vagas. 'Vamos manter o quadro, apesar da queda nas exportações', diz Besaliel Botelho, vice-presidente da Bosch.
Inicialmente, apenas 50 funcionários vão trabalhar na linha do ABS, que vai abastecer o mercado brasileiro e outros países da América do Sul.

Funcionários brasileiros estão sendo enviados para a Alemanha para treinamento na produção no sistema ABS, que na Europa está na oitava geração.

Fonte: O Estado de São Paulo