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Conheça melhor a fábrica de celulares da Samsung

Publicado: 17 Novembro, 2006 - 08h00

Escrito por: CNM CUT

O trem KTX corta as montanhas vermelhas da Coréia do Sul a 297 quilômetros por hora. Parte da estação central de Seul às 8h20 da manhã, para duas horas de viagem até a pequena Dongdaegu, cidade famosa na região pela maçãs que produz.

Mais duas horas de ônibus e chega-se finalmente ao distrito de Gumi, local escolhido pela Samsung para montar um de seus maiores complexos industriais em todo o mundo para a fabricação de equipamentos eletrônicos.

À porta do prédio principal do complexo Gumi Samsung está a assistente de gerência Clare Kim, que aguarda ansiosa o grupo de visitantes. A agenda é precisa e não admite atrasos. Ao chegar, o grupo de visitantes é rapidamente encaminhado para uma sala de apresentação. Clare faz a exposição sobre o cronograma que se seguirá: 15 minutos de explicação sobre a vila industrial, cinco minutos para exibir um filme e outros 15 para eventuais perguntas. 'Por fim visitaremos a linha de produção', diz.

Marcada para iniciar exatamente às 13 horas, a apresentação de Woo Hyun Jun, vice-presidente de recursos humanos e um dos principais executivos do complexo Gumi, começa com dois minutos de atraso. Mas Jun demonstra que também sabe lidar com o tempo escasso. No dia-a-dia, é ele quem administra a estrutura que atualmente reúne 12,3 mil funcionários, dos quais 6,5 mil vivem em residências do próprio complexo.

Em 2005, discorre o executivo, o complexo de Gumi respondeu sozinho pela bagatela de US$ 22 bilhões nos negócios da Samsung. 'Daqui saíram 100 milhões de telefones celulares no ano passado, além de outros produtos como impressoras, discos rígidos e componentes ópticos', diz.

Jun conclui sua exposição antes do tempo previsto. Segue-se o filme institucional, algumas perguntas longas, respostas nem tanto. Lá se foram trinta minutos, e todos estão prontos para a linha de produção. O grupo segue a assistente Clare Kim pelo corredor. No final, abre-se uma enorme sala abarrotada de máquinas enfileiradas, trabalhando nas primeiras etapas de montagem de telefones celulares.

À frente dos robôs, só mulheres colocam as mãos nos aparelhos. Na linha de produção, elas instalam pequenas peças, levam os telefones aos ouvidos, falam nos aparelhos e apertam seus botões. 'Os homens não têm paciência para esse trabalho. Elas são mais produtivas aqui', argumenta Clare. Mais de 3,2 mil mulheres trabalham na produção de celulares no complexo Gumi, de onde saem diariamente cerca de 300 mil aparelhos.

Sobre a linha de montagem número dois, umas das tantas em operação na fábrica, uma faixa suspensa comemora o desempenho da funcionária Meegin Lee e de suas colegas: 15 mil celulares produzidos em apenas um dia.

Meegin é simpática, sorri para os visitantes, mas logo demonstra que não tem muito tempo a perder. Como suas colegas, a funcionária de uniforme cor-de-rosa tem os olhos fixos nas peças minúsculas que encaixa nos aparelhos. São oito horas de trabalho por dia, com intervalos de dez minutos a cada duas horas.

Inclinadas sobre celulares que passam, são todas elas bem parecidas. A distinção fica por conta das sandálias confortáveis e meias diferentes que usam. 'Se alguém estiver com raiva e quiser chutar a máquina, pensará duas vezes antes de fazer isso', brinca Clare Kim, enquanto guia os visitantes pela fábrica.

Já de saída da linha de produção, Clare exibe um mosaico pendurado na parede, um quadro formado por centenas de rostos de cera. Cada funcionário faz o seu próprio rosto, explica ela. 'É uma forma de personalização.'

Os visitantes perdem algum tempo observando o mural. Mas Clare já chama na saída. Hora de partir. São exatas duas horas da tarde e um ônibus aguarda no portão da fábrica. O grupo de despede. Clare Kim e Woo Hyun Jun se posicionam. E acenam sincronizados, até o ônibus sumir de vista.

Design vira chave para atrair o consumidor

Bem que poderia se chamar Samsung, mas o nome é Seul mesmo. Fica difícil andar pelas ruas da capital coreana sem topar com um prédio, uma loja, um letreiro que não esteja ligado a um dos maiores conglomerados empresariais da Ásia, fabricante de máquinas de lavar a computadores portáteis.

Nesta meca da eletrônica um mar de gente se desloca rapidamente entre um prédio e outro, em um vai-e-vem de funcionários que ajuda a tumultuar ainda mais o complicado trânsito da cidade. Mas há um edifício em especial nas ruas de Seul em que o acesso não é tão simples assim.

Na movimentada avenida Jungang-Ilbo, uma das principais artérias da cidade, está um dos seis centros mundiais de design da Samsung Electronics, lugar onde se definem formatos, cores, modelos e recursos dos produtos que serão produzidos nas cerca de 30 fábricas da companhia espalhadas pelo mundo. Por isso, para chegar ao trigésimo andar deste edifício, câmeras fotográficas, pen drives, CDs e afins ficam no térreo, tudo administrado com um rigor de segurança de fazer inveja aos aeroportos americanos. 'O design se tornou a chave do nosso negócio', justifica Kim Youngjun, vice-presidente e diretor do centro de design da Samsung Electronics.

O cuidado no trato com informações se torna mais compreensível quando observados os investimentos da companhia em pesquisa e desenvolvimento (P&D), o que inclui design de produtos. Em 2001, 5,2% do volume de vendas da Samsung foi convertido em P&D. No ano passado, a companhia injetou US$ 5,34 bilhões no desenvolvimento de produtos, o equivalente a 9,4% de seu faturamento no período.

Nos últimos três anos, acrescenta Youngjun, o número de especialistas em desenho industrial da empresa saltou de 200 para 620 profissionais. 'E esse número vai crescer. Vamos contratar mais pessoal, principalmente estrangeiros', comenta.

Os resultados não demoraram a aparecer. Do início do ano passado até agora, a Samsung levou para casa mais de cem prêmios internacionais de design. Na busca pelo 'formato perfeito', a companhia elegeu 2007 como 'o ano da originalidade do design'. 'Em 2006 trabalhamos na identidade da marca, mas agora o design passa a ser a prioridade.'

Para se aproximar do gosto do freguês, a Samsung montou, para além do centro de design de Seul, unidades especializadas em Londres, Xangai, Tóquio, San Francisco e Los Angeles. 'Estes centros trabalham juntos para entender estilos de vida, comportamento e hábitos de cada região', diz o executivo.

Mas como garantir que, depois de tanto estudo e investimento, determinado produto agradará o público? 'Realmente não há garantias', admite Youngjun. 'Mas procuramos nos cercar de todas as formas possíveis.'

Com o cruzamento de informações, explica Youngjun, a Samsung percebeu, por exemplo, que os aparelhos de som vendidos em várias regiões da Ásia precisam do dobro da potência daqueles vendidos na Europa, pelo simples fato de haver maior concentração de fábricas nestas regiões, o que gera mais ruídos.

Outro exemplo de particularidade citado pelo executivo é o mercado americano de televisores. Nos Estados Unidos, onde a Samsung lidera o segmento de telas de cristal líquido, há uma série de formatos disponíveis, mas um modelo que se destaca muito à frente dos outros é o que traz o suporte em formato de 'V'. 'Estamos falando de percepções pessoais, emocionais, por isso não há um modelo único de produtos que satisfaça todo mundo', comenta.

De cada dez conceitos de design elaborados pela empresa coreana, normalmente apenas três têm chance de se transformar em produto e ir para o mercado. Do surgimento de uma idéia até a chegada de um novo aparelho nas prateleiras da lojas normalmente se leva um ano, afirma o executivo.

Nesta bateria de testes, conta Youngjun, o telefone celular é hoje um dos produtos que mais têm demandado criatividade da área de design. Se por um lado criam-se aparelhos de tamanho reduzido, explorando conceitos como sofisticação e modernidade, por outro recursos como navegação na internet e visualização de fotos digitais exigem telas maiores e de alta resolução. 'Vemos que há dois tipos de clientes de telefone celular e procuramos atender ambos.'

Há, no entanto, uma unanimidade entre as parafernálias eletrônicas, da qual, segundo o especialista da Samsung, o consumidor não abre mão, independentemente da região em que esteja. 'Todos querem simplicidade. O negócio é ir direto ao produto e descobrir como usá-lo intuitivamente', conclui o executivo, insinuando que o tradicional manual de instruções tende a ficar onde sempre esteve: dentro da gaveta.

Fonte: Valor