Democratizar a comunicação deve ser a principal reforma, avalia Emir Sader
Em palestra na reunião da direção plena da CNM/CUT, o cientista político disse que veículos de comunicação criam consensos falsos e impedem debate democrático de projetos.
Publicado: 11 Novembro, 2014 - 00h00
Escrito por: CNM CUT
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Emir Sader |
Emir Sader analisou a conjuntura do país. À dir., João Cayres |
A democratização da comunicação é a principal reforma que o Brasil precisa. Sem ela, o país não conseguirá consolidar o projeto da justiça social iniciado há 12 anos nem ganhar a opinião pública. A avaliação é do sociólogo e cientista político Emir Sader, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e foi feita na manhã desta terça-feira (11) em palestra sobre a conjuntura nacional no início da reunião da direção plena da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), que acontece em Guarulhos (SP) e será encerrada no início da tarde desta quarta-feira.
Para ele, acabar com o oligopólio dos meios de comunicação é mais importante do que a reforma eleitoral, conceito usado por ele por entender que a reforma política é algo mais amplo (que reestruturaria o Estado e os três poderes). “Com a mídia do jeito que está, é impossível discutir qualquer reforma do sistema eleitoral”, considerou.
Emir Sader afirmou que os meios de comunicação têm pautado a agenda de debates no país, o que obriga governo, partidos de esquerda e os movimentos sociais a apenas reagirem para tentar desmentir as notícias inverídicas veiculadas. “A agenda da mídia segue a receita do grande capital, de desqualificar o papel do Estado como condutor do desenvolvimento. A ideia que passa é a de que quem se mete com o Estado se corrompe (como se não houvesse corrupção no mercado)”, destacou.
“Os veículos de comunicação criaram consensos falsos, dizendo que o PT é corrupto; o governo é incapaz; a política econômica está errada; a inflação está descontrolada etc. E o terrorismo econômico praticado por eles só foi neutralizado há 15 dias da eleição”, completou.
Sader avaliou ainda que o resultado dessa agenda fez com que 51 milhões de votos no segundo turno da eleição fossem dados a uma candidatura vazia: “Eles não conseguiram defender o modelo neoliberal nesse processo. Assim, só atacaram e, se nós ganhamos na política social, eles ganharam na opinião pública, tendo um único objetivo: tirar o PT do poder”.
Por isso, o cientista político afirmou que um dos grandes desafios do novo governo de Dilma Rousseff será o de, no mínimo, fazer com que a Constituição seja cumprida no que se refere à proibição de concessões para políticos. “Hoje, 212 parlamentares federais são donos de meios de comunicação”, disse.
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Emir Sader |
Cientista político fez sua exposição na reunião da direção plena da Confederação |
Disputa de valores
Durante sua palestra, o professor da UERJ fez um resgate histórico sobre a as grandes potências econômicas e sobre a sua – ainda – preponderância sobre os valores das pessoas. “Os EUA representam hoje um imperialismo decadente, mas ninguém compete com eles, porque seu modelo continua sendo seguido. É o que estabelece o consumo como principal valor para as pessoas. E no mundo, a maior disputa com a direita se dá em relação aos valores”, assinalou.
Emir afirmou que os governos progressistas da América do Sul estão tentando construir uma nova agenda, mas, embora tenham derrotado o modelo neoliberal, não conseguiram aprofundar um novo modelo. “No Brasil, estamos numa situação de isolamento internacional, porque o capitalismo financeiro vive de emprestar dinheiro para quem deve e não para quem quer investir na produção. A maioria do país quer distribuir renda e investir no consumo da população, mas o dinheiro está nas mãos do grande capital”, constatou.
Na opinião dele, para seguir o ciclo de desenvolvimento, a presidenta Dilma Rousseff deve baixar a taxa de juros (“Não haverá novo ciclo de expansão do desenvolvimento com juros altos”), fortalecer outros setores da agricultura, como a familiar (reduzindo apoio ao agronegócio) e aumentando o dólar (para contribuir com os exportadores).
Democracia social
O professor defendeu ainda que o Ministério do Trabalho e Emprego tenha à frente pessoa afinada com o movimento sindical e com o modelo de desenvolvimento em curso. “É inadmissível o PT não ter o Ministério do Trabalho. Com a situação de pleno emprego, é época de melhorar as relações de trabalho, de reduzir a jornada. Por isso, não dá para deixar este Ministério com quem não tem compromisso com os trabalhadores”, considerou.
No entanto, Emir Sader reconheceu que, embora tenha de avançar, o novo governo enfrentará dificuldades, porque a correlação de forças está desfavorável, particularmente com a nova configuração do Congresso Nacional. “Será difícil para a esquerda, para o sindicalismo e para os movimentos sociais, mas teremos de insistir no nosso projeto de democracia social”, ressaltou.
Congresso Nacional dos Metalúrgicos
Na reunião da direção da CNM/CUT, os sindicalistas vão avaliar o resultado das campanhas salariais desenvolvidas em todo o país, além da situação do emprego metalúrgico. Vão também aprovar o texto base e as diretrizes gerais do 9º Congresso Nacional da categoria, que acontecerá de 14 a 17 de abril de 2015.
(Fonte: Solange do Espírito Santo - Assessoria de Imprensa da CNM/CUT)