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Dieese lança pesquisa sobre raça e gênero no emprego metalúrgico

Os dados mostram que em todos os recortes analisados, os metalúrgicos negros possuem rendimentos inferiores aos não negros. CNM/CUT alerta que sindicatos precisam a atuar em defesa da igualdade

Publicado: 23 Novembro, 2021 - 20h16 | Última modificação: 29 Novembro, 2021 - 18h42

Escrito por: Redação CNM/CUT

Print da capa da pesquisa
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Raça e gênero no emprego metalúrgico no Brasil: continuidades e mudanças” é o nome do estudo que o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) lança nesta terça-feira (23), com apoio da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT).  Os números mostram que apesar da maioria da população brasileira ser negra, sua inserção no mercado de trabalho formal é desigual. E que o pouco crescimento que teve dos negros no ramo metalúrgico, eles são os que possuem remuneração inferior aos não negros.

“Os dados explicitam a discriminação nas diferenças de remuneração. Em todos os recortes analisados, seja por região, segmentos, posição na ocupação e faixas de escolaridade, os metalúrgicos negros possuem rendimentos inferiores aos não negros”, afirmou a economista da subseção do Dieese na CNM/CUT, Renata Filgueiras, que respondeu algumas questões relacionadas ao estudo, especialmente para os leitores do site da CNM/CUT, para a campanha do mês da Consciência Negra [abaixo].

Papel dos Sindicatos

Para a secretária de Igualdade Racial da CNM/CUT, Christiane Aparecida dos Santos, o racismo é estrutural na vida e no trabalho e estes dados devem servir de base para a definição de políticas públicas e também para as ações sindicais.

“É tarefa dos metalúrgicos e das metalúrgicas da CUT acessarem esse estudo, refletirem sobre os dados com as suas direções e, essencialmente, a partir do diagnóstico que evidencia o impacto do racismo no nosso ramo, promoverem ações concretas que busquem modificar essa realidade e combater o racismo de fato, no trabalho e na vida”, afirmou Christiane.

Entrevista com Renata Filgueiras 

Arquivo CNM/CUTArquivo CNM/CUT
Renata apresentando o resultado do estudo na Plenária da entidade, em outubro de 2021

 

Cresceu o número de trabalhadores negros e negras no ramo metalúrgico, segundo dados do DIEESE, o que isso significa na atual realidade da categoria? Tem a ver com precarização e reforma trabalhista?

Apesar da maioria da população brasileira ser negra, sua inserção no mercado de trabalho formal é desigual e isto pode ser observado a partir de alguns indicadores. Especificamente no ramo metalúrgico, temos 1,9 milhão de metalúrgicos segundo a RAIS 2019, sendo 586,3 mil negros/as (30,5% de participação no total), um aumento de 8% em relação a 2017. Em que pese o crescimento dos negros/as metalúrgicos/as, estes possuem remuneração inferior aos não negros, mesmo quando inseridos nos mesmos segmentos, ocupações e escolaridade. A remuneração pode explicar a razão dos não negros terem sido mais afetados pelo desemprego do que os negros, entre 2017 e 2019, assim como no período de janeiro de 2020 a setembro de 2021, já que os não negros recebem salários maiores em comparação aos negros.

A Reforma Trabalhista tem aprofundado a precarização do mercado de trabalho brasileiro, atingindo também a categoria metalúrgica. Novas formas de contratação, como a intermitente e a de tempo parcial, e de demissão, como aquela por comum acordo, começam a aparecer.

Qual região brasileira há mais negros e negras no ramo e quais os destaques nestes números do estudo?

Em 2019, há mais metalúrgicos negros do que não negros na maioria das regiões do país, exceto no Norte, cuja participação ficou igual. No Norte, 80,9% eram negros e no Nordeste, 63,7%.

No Sudeste, 30,9% dos trabalhadores eram negros e no Sul, 11,0%. No estado de São Paulo, os metalúrgicos negros representavam 24,4%; enquanto nas outras unidades da Federação da mesma região, eles correspondiam a mais de 42,0% e no Espírito Santo eram 62,4%. No Sul, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm a menor presença de trabalhadores negros: 9,2% e 9,6%, respectivamente.

No ramo, como é a desigualdade salarial de gênero e raça?

As desigualdades de raça se somam às de gênero e uma das consequências são as diferenças de remuneração. As mulheres negras recebiam, em 2019, 55,2% da remuneração dos homens não negros, que, tradicionalmente, são os trabalhadores com os maiores salários. Já a remuneração média das não negras equivalia a 75,6% da recebida pelos homens não negros. A remuneração dos trabalhadores negros do sexo masculino equivalia a 71,7% dos não negros.

A diferença da remuneração das não negras teve aumento de 2,1 ponto percentual em relação à dos trabalhadores não negros, entre 2017 e 2019. Os rendimentos dos homens negros permaneceram estáveis na comparação com os dos não negros, enquanto os das mulheres negras tiveram aumento de 1,7 ponto percentual. Estruturalmente, as diferenças salariais entre homens não negros e homens e mulheres negros/as não se alteraram e continuaram bastante elevadas.   

Em qual segmento há maior e menor desigualdade de gênero e de raça?

A presença de trabalhadores negros é maior no segmento Outros Materiais de Transporte com 53,3%, que produz majoritariamente motocicletas, veículos ferroviários e suas partes, seguido do Naval, com 48,1%. Os segmentos com menor participação de mão de obra negra são o Aeroespacial (21,5%) e o Automotivo (25,1%), que possuem os maiores salários e as menores taxas de rotatividade do ramo metalúrgico.

As maiores desigualdades entre os rendimentos de homens não negros e mulheres negras foram registradas nos segmentos Eletroeletrônico, com 48,5% de participação e Autopeças, cujo rendimento delas correspondia a 49,2% da remuneração deles.

No segmento Aeroespacial, as mulheres negras ganhavam o correspondente a 50,5% dos rendimentos dos metalúrgicos não negros; no segmento Bens de capital, 57,8% e nas Montadoras, recebiam o equivalente a 65,0% dos homens não negros. Nos segmentos Naval e Siderúrgico, as mulheres negras recebiam 70,1% e 69,5% dos rendimentos dos homens não negros, respectivamente.

Voce teria mais alguma consideração a fazer sobre o estudo?

Além da questão da segregação racial, os dados explicitam a discriminação de raça e gênero, que pode ser vista nas diferenças de remuneração. Em todos os recortes analisados, seja por região, segmentos, posição na ocupação e faixas de escolaridade, os metalúrgicos negros possuem rendimentos inferiores aos não negros.

Por escolaridade, por exemplo, as desigualdades são maiores para os níveis superiores, ou melhor, os metalúrgicos negros com mais anos de estudo ganham menos em comparação aos não negros. Enquanto os negros com Ensino Médio completo, que correspondem a 60,2% da categoria, recebiam 85,3% da remuneração dos não negros, aqueles com Ensino Superior Completo recebiam 78,2% da remuneração dos não negros.

 

Serviço

Veja o estudo completo “Raça e gênero no emprego metalúrgico no Brasil: continuidades e mudanças