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DuPont escolhe o Brasil para lançar blindagem de carros

Publicado: 07 Outubro, 2008 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

O fotógrafo está à espera do presidente da DuPont na América Latina, Eduardo Wanick. Acaba de montar seu equipamento em uma escada logo à entrada do prédio-sede da multinacional em Alphaville, na Grande São Paulo. De repente, Masao, um dos diretores da empresa, irrompe no hall: "O que é isso aqui? Essa área tem de ser isolada já. Isso é perigoso."

A cena inusitada mostra um lado pouco conhecido da DuPont: o da preocupação com a segurança. Na sede, logo na entrada visitantes são orientados a subir e descer escadas utilizando o corrimão - regra seguida rigorosamente pelos que trabalham ali. Os funcionários são orientados a reportar qualquer acidente de carro, mesmo num fim-de-semana de lazer com a família ou quando um desavisado bateu na traseira enquanto ele esperava o sinal abrir.

A segurança, na DuPont, virou negócio. A segunda maior empresa química do mundo presta consultoria nessa área para empresas como Petrobras, Pemex e Quattor. E, nesta semana, lança mundialmente um produto que à primeira vista parece inusitado para quem é conhecido no Brasil por marcas como Teflon ou Corian: a blindagem de carros.

A cidade de São Paulo será a primeira no mundo a ter o novo sistema de blindagem, que já em 2009 deverá ser exportado para a Cidade do México. "Fizemos pesquisas qualitativas de mercado em São Paulo, na Cidade do México e em Bogotá e detectamos que a blindagem era um sonho de consumo da classe média considerado irrealizável", diz Wanick, ressaltando que, infelizmente, os habitantes das grandes cidades latino-americanas se sentem hoje vulneráveis quando estão nos carros.

Com a pesquisa em mãos, a DuPont saiu há um ano e meio a campo para desenvolver um produto que atendesse os anseios da classe média e que fosse rentável. O resultado é o sistema de blindagem Armura, que estará disponível em duas concessionárias de São Paulo a partir de quarta-feira, a princípio apenas para dois modelos: o Toyota Corolla e o Vectra, da Chevrolet. A DuPont aposta em dois diferenciais do produto para ganhar mercado: o preço e o peso. O Armura custará R$ 15,99 mil, em comparação com os R$ 55 mil a R$ 60 mil pagos pela melhor blindagem disponível no mercado, a 3A. Com o Armura, garante a DuPont, o carro ficará 100 quilos mais pesado. Com a 3A, cerca de 300 quilos mais pesado (dependendo do modelo).

Isso quer dizer que o novo produto da DuPont vai arrasar a concorrência? Não é essa a idéia da multinacional. Como a DuPont é fornecedora de alguns produtos usados como matéria-prima pela indústria de blindagem automotiva (como a fibra de aramida Kevlar), a empresa tomou o cuidado de desenvolver um sistema que não concorresse com seus clientes. O Armura é mais barato, porém, protege um pouco menos.

"Fizemos uma análise baseada em um estudo do Exército sobre o calibre presente nas mãos dos criminosos em São Paulo", diz Wanick. "O Armura protege contra 97,6% das ameaças que estão aí", explica o presidente da DuPont na América Latina, um carioca que aos 17 anos saiu do Brasil em direção à Inglaterra porque queria fazer carreira como pesquisador. Casou-se com uma tailandesa e, hoje, não guarda nem um pingo do sotaque carioca. Carrega, na verdade, o "erre" característico de gringos que falam português.

O Armura oferece proteção contra tiros de armas calibre 38 e abaixo. A blindagem convencional vai além. A 3A, por exemplo, protege os ocupantes do carro contra 99,8% das ameaças existentes, segundo dados do próprio Wanick. "Quem pode pagar vai continuar comprando a tradicional. Quem antes não tinha acesso à blindagem do carro, passa a ter com o Armura."

Um dos "pulos do gato" da DuPont está nos vidros. Na proteção tradicional, o vidro do carro fica muito espesso, o que obriga a empresa blindadora a serrar a porta do carro e soldá-la novamente, para que o vidro corra para cima e para baixo. Utilizando um polímero batizado de SentryGlas aliado ao Kevlar e a outro polímero, o SpallShield, a multinacional conseguiu reduzir a espessura do vidro blindado, o que evitará cortes na carroceria do carro.

Com a eliminação de intervenções na carroceria e o uso de painéis pré-moldados flexíveis, a DuPont conseguiu baratear o Armura e permitiu que as próprias concessionárias aplicassem a blindagem (hoje, a tradicional não é feita diretamente nas revendas). Também manteve a garantia dada pelo fabricante do veículo.

Além da "exportação" do sistema de blindagem para o México (onde as pesquisas indicaram forte preocupação com seqüestros), a multinacional pretende em 2009 ampliar as vendas para um total de 13 modelos de carros, nas principais cidades do país. E para quem se pergunta por que uma empresa com forte conhecimento na área química está apostando em segurança, Wanick lembra que o fundador da DuPont, Éleuthère Irénée du Pont de Nemours, era um huguenote francês que fugiu da Revolução e, em 1799, emigrou para os Estados Unidos. Lá, começou a vida fabricando pólvora. Sua casa e a de seus funcionários ficavam bem em frente dos paióis.

Fonte: Valor