Em 3 meses, três operários morrem na ArcelorMittal no ES
Publicado: 23 Abril, 2010 - 00h00
Escrito por: CNM CUT
Um metalúrgico e dois motoristas morreram nas duas empresas do grupo no ES. Todos eram terceirizados, sendo dois contratados da unidade de Tubarão (CST) e um na Belgo, em Cariacica.
Além de grandes poluidoras do meio ambiente e exploradoras da mão de obra terceirizada e quarteirizada, a CST e a Belgo, empresas do Grupo ArcelorMittal, mostram que segurança também não é importante.
As mortes de três empregados contratados de empreiteiras, ocorridas entre janeiro e março desse ano, expõe uma grave fratura na prevenção de acidentes de trabalho dentro das siderúrgicas.
O Sindimetal-ES vem denunciando há tempos o desrespeito às normas de segurança, à falta de EPIs, a orientação dentro do Grupo ArcelorMittal de não relatar os acidentes de trabalho.
A meta é escondê-los para preservar as Certificações ISO; não pagar mais pelo seguro e ao INSS e, prejudicar os trabalhadores que, sem a CAT, não têm a garantia da estabilidade, como dita a lei.
Por outro lado, o trabalhador enfrenta a meta de acidente zero, imposta no Programa de Participação nos Resultados (PAR). Para não perder os benefícios individuais ele esconde o acidente e se tiver sequelas vai acabar perdendo o emprego.
Quando a meta é coletiva, um acidente qualquer faz com que toda a equipe perca. Daí gera uma vigilância entre os próprios trabalhadores. Se um trabalhador se acidenta e a equipe perde, vem a discriminação, a chacota, a humilhação e a pressão dos colegas.
O Sindimetal-ES está acompanhando a apuração de todos as mortes, inclusive a dos motoristas, e não permitirá que a culpa recaia sobre os que não podem mais se defender.
Relembremos os companheiros mortos: o motorista da Unieng Renato Pereira Santiago, 31 anos, no dia 31 de março, na CST. No dia 4 de janeiro, o mecânico na Magnesita, Ronilson Pereira, de 27anos morreu na CST. Ele teve a cabeça esmagada. Também teve o corpo esmagado no dia 11 de março, na Belgo em Cariacia, o motorista da empreiteira Gold Tansportes, Manoel Daniel de Oliveira.
Colega contesta discurso da CST que culpou o motorista morto pelo acidente e a explosão
Caros sindicalistas,
Esta é uma carta, na qual eu prefiro não me identificar devido a possíveis represálias a minha pessoa e ameaça a minha estabilidade profissional.
Como todos devem estar sabendo, na noite do dia 31/03/2010 um motorista da empresa Unieng - contratada da ArcellorMittal Tubarão (AMT) no Espírito Santo, morreu devido a explosão de um produto químico "carbureto" em contato com a água.
O que eu pretendo com esta carta é informar, com riqueza de detalhes, o que realmente ocorreu naquela noite e com isso tentar por fim ao diabólico rumo em que as coisas estão seguindo, ou seja, culpar quem não pode se defender.
Primeiro, inicio o relato baseado no que os envolvidos sustentam ser a verdade e depois mostrarei que estes relatos dos envolvidos podem ser contestados.
Relato da CST sobre o acidente:
"Na noite de quarta feira (31), ao receber, via carreta silo pressurizada, a mistura dessulfurante (carbureto), ocorreu um derramamento de aproximadamente 1.000 Kg deste material no solo. Com a ocorrência e observando a possibilidade de chuva, o coordenador de equipe da AMT (também conhecido como OE - Operador Especializado) solicitou a área de Silus Térreos da Aciaria a presença do caminhão caçamba e da pá mecânica para realizar aretirada deste material para posterior descarte em um local seguro.
O local seguro consistia de uma abertura no solo e foi preparado para este fim em um local conhecido como Pátio da Paranasa. Então, o Coordenador (OE) sugeriu que todos fossem jantar e depois o descarte seria realizado. Por imprudência ou desconhecimento, o motorista se decidiu por conta própria em descartar este material em um pátio de escória do Alto Forno que era um local, segundo os envolvidos, menos indicado para este descarte. Então o material entrou em contato com a água e explodiu matando o senhor Renato Pereira Santiago."
Este relato vem sendo sustentado pelos envolvidos e apoiados pela supervisão da área de Matérias Primas da Aciaria da AMT, em reuniões diárias de segurança. Todos querem ver esta história acabar da forma mais fácil. Portanto, eu, como conhecedor das áreas da AMT e indignado com a possibilidade de impunidade, contesto este relato com lógicas afirmações como seguem:
1 - Como é de conhecimento dos envolvidos na investigação, um Coordenador de Equipe (OE) na AMT é uma pessoa de profundo conhecimento nos processos de sua área de trabalho. Está no escopo de sua função. Portanto, como alguém, conhecedor dos riscos inerentes ao material, solicitaria o seu carregamento em um caminhão caçamba aberto em uma noite que poderia chover a qualquer momento?
2 - Mesmo com o tempo chuvoso, conhecendo os riscos e ordenando o carregamento do material na caçamba do caminhão, como pode este líder propor um jantar antes de dar destino final ao material?
3 - Talvez não seja de conhecimento dos senhores, mas na área onde ocorreu o tramite da história, só havia disponibilidade de pá mecânica, portanto como pode este equipamento fazer uma abertura no solo, sendo que é visível a impossibilidade deste tipo de maquina em realizar está tarefa? O equipamento indicado seria uma retro escavadeira para esta atividade.
4 - O senhor Renato Pereira Santiago era um motorista novato na função de atendimento ao Silus Térreos e não conhecia o material no qual carregava; não conhecia os riscos deste material e não foi avisado sobre suas desastrosas conseqüências se entrasse em contato com a água. Caso alguma desta afirmação fosse falsa, ele não jogaria este material em um lugar decidido por ele e sem acompanhamento de um empregado da AMT.
Portanto, concluo que o carregamento do material foi feito, mas não houve a intenção de preparar um local seguro. O motorista Renato Santiago não tinha informação suficiente sobre o material; não houve a decisão de parar para jantar antes de descartar o material, o empregado da AMT, que acompanhava o carregamento, sabia dos riscos e houve a solicitação por ele de dar fim imediato do material em um local não fiscalizado na usina, assim o problema seria solucionado e não haveria a necessidade de explicar o derramamento do produto.
Com essa gama de informações, espero ter contribuído com a justiça e a ordem, a fim de que a verdade seja preservada e a injustiça em que os poderosos tentam aplicar aos oprimidos trabalhadores da indústria seja desmascarada.
Fonte: Sindimetal-ES