Grupo gaúcho Aeromot vende unidade de manutenção para fazer caixa
Publicado: 29 Agosto, 2008 - 00h00
Escrito por: CNM CUT
Era para ser um belo negócio. Mas a vitória em uma licitação de 2006 que garantiria a produção de dez aeronaves para a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), no valor de R$ 4,8 milhões, acabou transformando-se em um tormento que quase custou a falência do grupo gaúcho Aeromot, fabricante de motoplanadores e pequenos aviões de treinamento. Tumultuado por um recurso administrativo contra o resultado da disputa, que previa também a aquisição de helicópteros, o processo não foi concluído, desestruturou a programação industrial e financeira da empresa e obrigou-a a vender as operações de manutenção de aviões e motores para fazer caixa e não quebrar.
Os motoplanadores "Ximango" encomendados pela Senasp, que é vinculada ao Ministério da Justiça, seriam empregados no patrulhamento aéreo do Rio de Janeiro durante os jogos Panamericanos de 2007 e depois entregues às Polícias Militares estaduais, explica o presidente da Aeromot, Cláudio Viana. Segundo o executivo, o edital dava nove meses para a fabricação dos aparelhos, que deveriam ser entregues em março do ano passado, mas o recurso administrativo travou o processo até o fim de 2006 e o tempo para a produção ficou restrito a três meses. "Seria impossível cumprir o cronograma", diz o empresário.
Em dezembro daquele ano, porém, o contrato foi assinado com a Senasp com a garantia de que em seguida seria firmado um aditivo restabelecendo os nove meses originais para a fabricação das aeronaves, mas em agosto a secretaria voltou atrás e informou que o prazo não seria dilatado, lembra Viana. O problema é que nesse intervalo de oito meses a Aeromot já havia encomendado os componentes, incluindo os dez motores austríacos Rotax que custam, no total, US$ 250 mil, e produzido dois motoplanadores. Essas aeronaves acabaram sendo exportadas para os Estados Unidos e a Inglaterra.
Mas não foi só isso. Para liberar a capacidade instalada na fábrica de Porto Alegre e cumprir o contrato com a Senasp, a Aeromot negociou com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) o adiamento da entrega de quatro aviões de treinamento "Guri" de 2007 para 2008. Os equipamentos fazem parte de um pacote de 20 unidades que serão fornecidas em cinco anos, até 2008, para distribuição a aeroclubes que fazem cursos de formação de pilotos pelo país. E, para completar a sucessão de más notícias, a empresa foi multada em janeiro deste ano pela Senasp em 10% do valor do contrato, ou R$ 480 mil, por não ter entregue os motoplanadores até março.
No fim das contas, a Aeromot Indústria Mecânico-Metalúrgica, que é a fabricante dos motoplanadores e aviões de treinamento, acumulou dívidas - incluindo os US$ 250 mil dos motores austríacos - e amargou uma queda de R$ 12 milhões para R$ 8,1 milhões no faturamento de 2006 para 2007. Ao mesmo tempo, a Aeromot Aeronaves e Motores, que faz a manutenção de aviões e importa equipamentos aeronáuticos, cresceu de R$ 5,4 milhões para R$ 6,7 milhões e acabou vendida em agosto do ano passado para a Fibraer, de Minas Gerais, que assume o comando definitivo da operação até o fim de 2008. Só que o sufoco financeiro obrigou o grupo a negociar a controlada em condições que ficaram longe das ideais, admite Viana.
Agora, conforme o empresário, que junto com um colega fundou o grupo em 1967 depois de 13 anos como engenheiro aeronáutico e diretor de manutenção da antiga Varig, a Aeromot tenta negociar com a Senasp e o Ministério da Justiça um novo contrato para o fornecimento dos motoplanadores. Em junho Viana reuniu-se com o próprio ministro Tarso Genro, que concordou em suspender a multa e encarregou o secretário-executivo do ministério, Luiz Paulo Barreto, de tratar do caso. Segundo Viana, em 2005 a Senasp já havia informado que pretendia entregar pelo menos um motoplanador para a PM de cada Estado brasileiro. O Valor solicitou entrevista a Barreto, mas não obteve resposta.
Se não houver uma solução rápida para o problema, a Aeromot Indústria, que tem 95 funcionários, prevê uma nova queda no faturamento em 2008, porque além das oito aeronaves programadas para a Anac (incluindo as quatro que deveriam ter sido entregues em 2007), há apenas mais uma encomenda, de um cliente dos Estados Unidos.
Já no primeiro trimestre de 2009 começa a operar na China a joint venture com a estatal local Guizhou Aviation Industries Corporation (Gaic), que em dois anos deverá chegar a uma produção anual de 50 unidades do "Ximango" e do "Guri". Esse novo negócio garantiria um faturamento da ordem de US$ 10 milhões. A empresa gaúcha ficará com 25% dos lucros, em troca da transferência de tecnologia para a operação chinesa.
Fonte: Valor