Indústria busca cara nova para o fogão e a geladeira
Publicado: 18 Agosto, 2006 - 08h00
Escrito por: CNM CUT
A geladeira com água na porta, uma inovação presente há cerca de quatro anos no mercado brasileiro de linha branca, mas que até agora estava restrita aos modelos mais caros, começa a se popularizar. A Multibrás, subsidiária brasileira da gigante americana Whirlpool, está colocando neste mês no varejo as primeiras geladeiras 'populares' com água na porta, que custarão R$ 929.
O produto de 280 litros, que será vendido com a marca Consul, também incorpora o design dos modelos mais sofisticados, como a porta abaulada na frente e prateleiras no tom verde claro, no estilo retrô. Sem a água na porta, a geladeira irá custar R$ 829, passando a ser a mais barata da linha Consul.
A democratização do design e da inovação é um exemplo de como a indústria de linha aprendeu com as marcas de tecnologia e está buscando trilhar cada vez mais o mesmo caminho. Há três anos, por exemplo, só os ricos podiam pagar por um televisor de plasma e LCD. Desde então, os preços caíram mais de 50% e, nos países desenvolvidos, a classe média já pode aposentar os seus televisores de tubo.
No mercado de linha branca, essas mudanças sempre foram mais lentas. Mas as indústrias têm se esforçado para imprimir um ritmo mais acelerado às inovações e conseguir assim elevar as vendas. O fenômeno do IPod, o tocador de música digital da Apple, transformou-se em uma referência para o setor. Convergência e mobilidade, palavras que já viraram lei na indústria de linha marrom, também passaram a fazer parte do dia-a-dia dos designers de eletrodomésticos.
Mas o maior desafio da tradicional e sólida indústria de linha branca parece que é saber até que ponto ela pode ir nesses atributos. Afinal, ninguém se pergunta como conseguiu viver até hoje sem um fogão ou uma geladeira portátil. Mas muita gente não sai sem o seu IPod de casa.
Para testar novas possibilidades, mesmo as mais esdrúxulas, a Multibrás criou protótipos conceituais. Os produtos poderão ou não ser lançados comercialmente no futuro, conta Mário Fioretti, gerente geral de design da Whirlpool no Brasil. No Brasil, a multinacional mantém uma equipe de 24 designers e que tem como missão captar as demandas e desenvolver produtos não para os consumidores brasileiros mas também dos demais países da América Latina.
Entre esses protótipos, os designers criaram um depurador de ar que é, ao mesmo tempo, um forno de microondas. A equipe brasileira também desenvolveu uma lavadora de lingerie. Ela está sendo testada junto aos consumidores e que ainda não tem data definida para o seu lançamento.
A Whirlpool, porém, resiste bravamente à possibilidade de colocar uma tela de LCD na porta da geladeira, uma idéia que suas concorrentes asiáticas, a LG e Samsung, tiveram primeiro. A marca americana, justifica Fioretti, não está convencida de que essa seja uma convergência de fato funcional para consumidor.
Múlti possui 580 idéias descansando na prateleira
Numa época em que a criatividade está cada vez mais em voga entre os executivos e consultores, as estatísticas podem não ser nada animadoras. 'De cada mil idéias, uma dá certo', avisa José Drumond Jr., vice-presidente da Multibrás.
O executivo fala com conhecimento de causa. A subsidiária brasileira, dona das marcas Brastemp e Consul, fez parte do audacioso processo de reinvenção de si mesma implementado a partir do ano 2000 pelo então presidente executivo mundial da Whirlpool, David Whitwam.
'O processo de criação é uma dor. Quebrar ortodoxias pode ser uma luta contra você mesmo. Aí você percebe o quanto está preso ao seu modelo mental', diz Ricardo Acosta, diretor de serviços e inovação da Multibrás e membro do conselho global de inovação da multinacional.
Nesses anos, a própria Whirlpool foi obrigada a repensar a forma como promoveria a inovação dentro da empresa. Um dos mitos que caíram por terra foi a concepção de que toda e qualquer pessoa, do chão de fábrica à presidência, pode contribuir com idéias novas. 'Qualquer pessoa consegue inovar? A resposta é não', diz Drumond.
A criatividade é um valor que está impregnado em todas as faixas hierárquicas da corporação, mas o processo de inovação é feito de forma mais organizada e sistemática. Segundo Acosta, o processo criativo ficou mais assertivo. 'De cada 100 novas idéias, 30 costumam ir para frente', diz. 'Na Whirlpool as idéias não morrem, elas só ficam descansando na prateleira'. Depois de passar pelo crivo da companhia, os técnicos se debruçam sobre o projeto por três ou quatro meses. Até que essa idéia se transforme em um novo produto, de fato, pode demorar mais 18 meses.
'Se nós não temos o conhecimento necessário , vamos atrás de quem tenha', diz Acosta. Um engenheiro da Multibrás, por exemplo, acaba de percorrer por 10 dias a Ásia em busca de uma tecnologia para um produto que a empresa pretende lançar.
A meta da Multibrás é que, em 2006, 4% do seu faturamento venha dos produtos que nasceram desse movimento de inovação. Para 2007, a empresa pretende mais do que dobrar as vendas desse produtos, que devem responder por 10% da sua receita.
A Whirlpool possui hoje globalmente no seu 'estoque' de novos produtos a serem desenvolvidos, 580 projetos, 195 destes em processo de lançamento. Entre os produtos desenvolvidos pela subsidiária nacional estão o purificador de água e o novo conceito 'sexto sentido', uma linha que busca oferecer funções que aumentam sua a performance e a eficiência dos refrigeradores, fogões e lavadoras.
Também foram criadas as linhas de refrigeradores não-convencionais, como a 'Brastemp Colors' e a 'Brastemp Pla', minirrefrigeradores fashion em que os painéis frontais trazem desenhos de estilistas badalados, como a marca Cavalera.
Fonte: Valor