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Kepler Weber conclui processo de reestruturação de dívidas

Publicado: 12 Setembro, 2007 - 08h00

Escrito por: CNM CUT

Depois de praticamente um ano de negociações entre acionistas, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e instituições financeiras privadas, a Kepler Weber concluiu a reestruturação de dívidas no valor R$ 382 milhões e garantiu a injeção de R$ 110 milhões em recursos novos, totalizando um pacote de quase R$ 500 milhões. O acordo, objeto de fato relevante publicado hoje, inclui a capitalização de R$ 172 milhões em débitos, o pagamento à vista de igual cifra e o alongamento de outros R$ 38 milhões. Ontem as ações ON da empresa fecharam cotadas a R$ 1,01 com alta de 31,16% na Bovespa.

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Conforme o presidente da empresa, Anastácio Fernandes Filho, o acordo permitirá a retomada da produção de silos e equipamentos para a armazenagem de grãos numa fase de alta do agronegócio brasileiro. 'Estamos animados', disse. Segundo ele, a empresa vinha utilizando de 20% a 25% da capacidade instalada anual de processamento de 100 mil toneladas de aço nas plantas de Panambi (RS) e Campo Grande (MS). Agora, a meta é chegar próximo dos 100% até o fim de 2008, com recuperação gradual do mercado perdido para os concorrentes durante o período de crise.

O acordo envolveu três dos quatro acionistas (os fundos de pensão Previ e Serpros - dos funcionários do Serviço Federal de Processamento de Dados - e o Banco do Brasil), que aceitaram converter, em ações ordinárias, R$ 47 milhões em debêntures vencidas. Eles também vão injetar R$ 110 milhões mediante a subscrição de 518,6 milhões de novas ações preferenciais (PN) convertidas em ordinárias (ON), sendo R$ 45 milhões pela Previ, igual valor pelo BB e R$ 20 milhões pelo Serpros. O fundo Aerus ficou de fora.

Com a reestruturação, o capital da empresa aumentou de R$ 86 milhões para R$ 416 milhões, enquanto o patrimônio líquido, que já passava dos R$ 200 milhões negativos, será revertido para perto de R$ 100 milhões positivos. A Kepler chegou a entrar com pedido de recuperação judicial no 1º Juizado de Falências e Concordatas de Porto Alegre em 4 de junho, mas diante da iminência do acerto com os credores suspendeu a solicitação em 20 de agosto, antes mesmo de ser deferida.

O prazo para a subscrição das ações, inclusive as PN (conversíveis em ON) emitidas em troca de R$ 125 milhões em créditos dos bancos privados, vai até o dia 20. Até agora, Previ e Banco do Brasil detinham, cada um, 24,68% do capital da Kepler (formado até então apenas por ações ON). O Aerus tinha 24,7%, o Serpros, 21%, e o restante estava diluído no mercado. Com o acordo, os bancos Itaú, ABN Amro, Alfa, Santander, BBM e Unibanco ficarão com 40% do capital total, enquanto a Previ e o BB terão 22% cada, o Serpros ficará com cerca de 13% e o Aerus, com 3%.

Os créditos desses seis bancos somam R$ 161 milhões, mas R$ 36 milhões serão pagos à vista com parte dos R$ 110 milhões injetados pelos acionistas. Conforme o presidente da Kepler, essas instituições poderão ter assento no conselho de administração da empresa, desde que convertam as ações em ON e venham a aderir ao novo acordo de acionistas, por enquanto subscrito por Previ e BB. Até o início de outubro a companhia fará uma assembléia geral para definir o novo modelo de governança corporativa. O conselho atual, formado por quatro integrantes indicados pelos fundos de pensão, será ampliado com a nomeação de conselheiros independentes.

Outro grupo de credores (Banco do Brasil, Bradesco, Banco Votorantim, HSBC, Safra e Financiadora de Estudos e Projetos) receberá R$ 136 milhões à vista. Os recursos virão de uma debênture, conjugada com um bônus de subscrição (que dá o direito de conversão em ações ON), a ser tomada pelo BNDES com prazo de 13 anos, correção pela TJLP mais 3,8% ao ano e amortização mensal a partir do terceiro ano. O BNDES também alongou por nove anos o crédito de R$ 38 milhões com a Kepler, referente ao financiamento da instalação da fábrica de Campo Grande, em 2004.

Capitalizada, a empresa terá condições de equacionar R$ 30 milhões em débitos com fornecedores. Com o endividamento e a queda das vendas a partir ainda de 2005, quando o setor do agronegócio também começou a passar por dificuldades no país, a Kepler só vinha conseguindo comprar matérias-primas à vista por falta de crédito. Agora, a intenção é restabelecer o fluxo normal de fornecimento e de pagamentos pelos insumos, explicou Fernandes Filho.

De acordo com o executivo, a companhia começará a recontratar funcionários já neste mês para dar início à retomada da produção. As equipes de vendas voltaram a campo em julho e o resultado dos dois primeiros meses superou as expectativas iniciais, explicou o presidente. 'Estamos refazendo a carteira com muita velocidade', disse. A expectativa é de chegar a 1,1 mil empregados nas duas plantas no fim deste ano, ante os 750 atuais. No fim de 2005, o quadro da Kepler era formado por 2,2 mil pessoas.

Fonte: Valor