Logística do transporte entra em novo ciclo
Publicado: 11 Setembro, 2006 - 08h00
Escrito por: CNM CUT
O Brasil está entrando em seu terceiro ciclo de investimentos de infra-estrutura de transporte e logística para o setor de petróleo e gás. Com início em 2005, essa fase deverá compreender, a exemplo das anteriores, dez anos e será marcada por vultosos investimentos, tanto da Petrobras como de empresas da iniciativa privada. Essa é a análise de Marcelino Guedes Ferreira Mosqueira Gomes, diretor de terminais e oleodutos da Transpetro, para quem o país entrou em nova fase de expansão econômica, com mudanças que alteraram o perfil da demanda de energia.
'O aumento da produção e exportação de etanol, de produção e consumo de gás natural e, ainda, da produção de petróleo exige a expansão da infra-estrutura de transporte', justifica. Segundo ele, os vinte anos passados foram caracterizados primeiramente pela implementação de uma rede de dutos e terminais junto às refinarias (1965 a 1975). Em seguida (1985 a 1995), veio a necessidade de expansão da rede de dutos, especialmente oleodutos, e também o planejamento do gasoduto Brasil-Bolívia - a carta de intenções entre Brasil e Bolívia foi assinada em 1991, e o gasoduto foi construído entre 1997 e 2000. 'Agora, há a necessidade de levar os insumos para o interior do país, pois a demanda da economia por energia expandiu-se territorialmente.'
Segundo Gomes, a Petrobras deverá investir US$ 7 bilhões em dutos e terminais. Em gasodutos, segundo a Proposta de Desenvolvimento da Indústria do Gás Natural no Brasil da empresa, está estimada uma necessidade de investimentos da ordem de US$ 4 bilhões a US$ 6 bilhões.
Apesar de o transporte dutoviário ser o mais seguro e econômico para petróleo e gás, a rede de dutos brasileira é muito tímida, comparada à de outros países do mundo. São apenas 16 mil km de dutos para transporte de petróleo e gás, além dos 3.150 km do Gasoduto Brasil-Bolívia. E o diretor da Transpetro conta que os investimentos previstos pela Petrobras deverão agregar apenas 6 mil km de dutos à atual rede.
Para se ter uma idéia, na Argentina a rede de dutos chega a 28 mil km, no México, a 42 mil km e nos EUA, a 440 mil km. Segundo análise do Centro de Estudos em Logística (CEL) da Coppead/URFJ, o transporte dutoviário, no Brasil, representa apenas 4,5% na matriz de transportes, enquanto nos EUA chega a 15,1%. As pesquisas do CEL indicaram que a participação majoritária do modal rodoviário, também para transportar petróleo e derivados, no Brasil, pode dobrar o custo do transporte do produto.
Apesar do impacto negativo da falta de dutos para a logística de transporte do petróleo e derivados, outros modais de transporte conseguem, muitas vezes, substituir, bem ou mal, a deficiência. Porém, no caso do gás natural, cuja presença no Brasil é majoritariamente na forma gasosa, a falta de dutos (no caso gasodutos) têm a potencial para inviabilizar totalmente os negócios.
Com projeção de consumo de 100 milhões de m3/dia para 2010, a Petrobras prevê que a rede de transporte do gás deva chegar a 16,1 mil km, enquanto que a rede de distribuição deverá chegar até 14,1 mil km (era de 11 mil quilômetros em 2004). A empresa divulga planos de investimento de US$ 16 bilhões nos próximos cinco anos, para aumentar a oferta do produto e a capacidade de transporte. Para a rede de distribuição, a empresa prevê entre US$ 10 bilhões e 15 bilhões.
A Petrobras tem planos de aplicar US$ 5,2 bilhões apenas em gasodutos. Como principais projetos, estão o gasoduto Sudeste/Nordeste (Gasene), a malha de gasodutos do NE, o gasoduto de Urucu-Coari-Manaus, ampliação do Gasbel, gasoduto Paulínea-Jacutinga e a Malha Sudeste e Nordeste, além do Gasoduto Brasil-Bolívia e obras do Plano de Desenvolvimento do escoamento do Gás (PDEG).
O gasoduto Coari-Manaus teve as obras iniciadas em junho passado. Terá 670 km de extensão e sua conclusão está prevista para março de 2008. O gasoduto levará gás natural para substituir o diesel e o óleo combustível atualmente utilizados na produção de energia em termelétricas que abastece a região. Já foram investidos R$ 500 milhões em obras preparativas. Os recursos estão sendo financiados pelo BNDES.
Segundo a Petrobras, o desenvolvimento do setor de gás natural deverá gerar investimentos anuais de US$ 5 bilhões para a economia até 2010, como resultado de investimentos em toda a cadeia de valor da indústria de gás, especialmente na malha de transporte e nas redes de distribuição e, também, e do aumento do consumo, com destaque para os segmentos termelétrico, residencial, comercial e de transporte.
Fonte: Valor