MENU

Metalúrgicos em Pernambuco debatem violência policial contra população negra

Dirigentes da CNM/CUT estiveram presentes em evento realizado nesta sexta-feira (19), em Recife

Publicado: 22 Julho, 2024 - 16h56 | Última modificação: 23 Julho, 2024 - 11h11

Escrito por: Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco* | Editado por: Redação CNM/CUT

Sindmetal-PE
notice

Se o país quiser realmente diminuir a violência policial contra a população negra é necessário debater a desmilitarização da Polícia Militar, que hoje atua muito mais na base da repressão e da pouca inteligência quando é acionada. 

Essa é a afirmação da secretária de Igualdade Racial da CNM/CUT, Christiane Aparecida dos Santos, que representou a Confederação nesta sexta-feira (19), no seminário “A Violência Policial Contra a População Negra”, realizado pela Secretaria de Igualdade Racial do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Pernambuco (Sindmetal-PE), na sede do Clube dos Servidores em Recife (PE). 

Junto à sindicalista estiveram o secretário de Organização da CNM/CUT, Abinadabe Santos de Lima, que também é secretário geral do Sindmetal-PE, e, de forma virtual, o presidente da CNM/CUT, Loricardo de Oliveira, a secretária de Políticas Sociais, Kelly Galhardo, a secretária de Mulheres, Maria de Jesus, além de representantes do Coletivo de Igualdade Racial da CNM/CUT.

Lideranças políticas locais, ativistas, e lideranças comunitárias também compuseram as mesas de debate sobre o tema. O evento se enquadra na estratégia da CNM/CUT, definida nas resoluções do último congresso da categoria no ano passado, de potencializar o debate sobre o combate ao racismo e a luta por melhores condições de vida e de trabalho para a população negra. O seminário em Pernambuco é o primeiro de outros eventos que acontecerão posteriormente nas regiões Norte, Sudeste e Sul.

Dados alarmantes

Segundo a 18ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, lançado na última quinta-feira (18), das vítimas letais da polícia em 2023, 82,7% eram negras, 71,7% de 12 a 29 anos, e 99,3% do sexo masculino. O risco relativo de um negro morrer por intervenção policial é 3,8 maior que o restante da população. Mesmo entre os policiais, 69,7% dos mortos em confrontos fatais são negros.

“Atualmente, a PM não está a serviço da proteção do povo, mas sim do estado. Funcionando como um braço do exército, a PM não é treinada para dialogar, mas para destruir o inimigo – e esse inimigo, muitas vezes, é o povo preto, pobre e periférico. Como movimento sindical, que luta pelo bem-estar da população, devemos nos indignar e agir contra a violência racista perpetuada pela polícia. É nossa responsabilidade defender a justiça e garantir que a segurança pública seja realmente voltada para a proteção de todos os cidadãos, sem discriminação”, afirmou a secretária de Igualdade Racial da CNM/CUT, durante intevenção no seminário.

O presidente em exercício do Sindmetal-PE, José Edinilson, reforça o entendimento de que o movimento sindical precisa ser atuante sobre o assunto.

“A violência policial contra a população negra é uma chaga aberta em nossa sociedade. Nós, do Sindmetal-PE, estamos comprometidos em combater essa injustiça. É fundamental que reconheçamos o racismo estrutural presente nas instituições e que lutemos para erradicá-lo. Nossa mobilização aqui hoje é um passo importante nessa direção,” destacou o sindicalista.

Para o coordenador Estadual do Movimento Negro Unificado (MNU) de Pernambuco, Adeildo Araújo, o problema é sistêmico e antigo.

Desde o início da colonização, o sistema tem oprimido o povo negro. Embora a escravidão tenha sido abolida, os negros não receberam meios adequados para adquirir terras e viver com dignidade. Além disso, foram privados do acesso à educação. “A violência, em suas diversas formas, sempre foi a principal ferramenta de opressão contra a população negra,” disse Adeildo, que complementou:

“A maioria dos policiais são negros, mas durante seu treinamento sofrem um processo de ‘embranquecimento mental’, onde são ensinados a ver seus próprios semelhantes como os principais suspeitos de crimes. A violência policial é apenas a ponta do iceberg de um processo de destruição promovido pelo perverso sistema capitalista contra a população negra,” completou o coordenador do MNU.

Luta antirracista no sistem jurídico

A Juíza do Trabalho do TRT6, Ana Cristina da Silva, trouxe um pouco da sua vivência na luta antirracista dentro do sistema jurídico. 

“Precisamos ser antirracistas em todos os âmbitos, tanto no ambiente judicial quanto no social. Temos promovido diversas formações de letramento racial em diferentes áreas do tribunal, mas é fundamental que esse compromisso se estenda a toda a sociedade. O combate ao racismo deve ser uma prioridade em todas as esferas, incluindo a educação, o mercado de trabalho, a saúde e a segurança pública. Ser antirracista não é apenas um posicionamento, mas uma prática contínua de questionar e desmantelar estruturas discriminatórias, criando espaços inclusivos e igualitários para todos. Somente assim poderemos avançar rumo a uma sociedade mais justa e equitativa”, comentou a magistrada.

Entre as diversas lideranças que se fizeram presentes no seminário estavam a deputada estadual (PT-PE), Rosa Amorim, a ex-presidenta dos Bancários e pré-candidata a vereadora, Suzineide Rodrigues, e o Secretário de Combate ao Racismo da CUT-PE, Gilson de Góes.

“Precisamos reconhecer que o Brasil é um país racista, e isso se reflete nas estruturas sociais de nossa nação. A população negra é extremamente criminalizada e, acima de tudo, é alvo constante. Todos os dias, há balas perdidas nas periferias do país, mas essas balas sempre encontram o corpo de um negro,” destacou a deputada.

A mensagem central do evento foi clara: a luta contra o racismo e a violência policial não pode ser travada de forma isolada. É preciso um esforço conjunto, envolvendo todas as esferas da sociedade, para promover mudanças estruturais e garantir que a segurança e a dignidade sejam direitos de todos e todas.

* Do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco, com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 e editado por Redação CNM/CUT

Galeria de imagens da atividade