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Montadora indiana faz sucesso com marcas britânicas

Publicado: 11 Setembro, 2012 - 00h00

Escrito por: CNM CUT

Mumbai, Índia – Neste verão do Hemisfério Norte, a fábrica da Jaguar Land Rover em Liverpool começou a funcionar 24 horas por dia e contratou 1.000 novos funcionários para dar conta da demanda de produção do aclamado Range Rover Evoque. Agora, a empresa está preparando o aguardado lançamento do Jaguar F-Type.

Quatro anos depois de serem compradas por uma empresa indiana, as marcas britânicas estão readquirindo parte do brilho perdido ao longo dos anos e registrando recordes de vendas de Xangai a Londres.

O sucesso impressionou analistas e investidores, muitos dos quais disseram que a montadora indiana Tata Motors estava cometendo um grande erro ao comprar a Jaguar Land Rover da Ford Motor por 2,3 bilhões de dólares em junho de 2008. Na época, a Ford estava arrecadando fundos para garantir a própria sobrevivência e vendeu as marcas por muitos bilhões a menos do que pagara para adquiri-las anos antes.

Analistas dizem que a Tata fez algo que poucas empresas oriundas de mercados emergentes foram capazes de fazer – comprar e gerenciar com sucesso uma empresa ocidental em dificuldades. Muitas outras empresas, incluindo uma metalúrgica ligada à Tata Motors, a Tata Steel – que pagou 11,3 bilhões de dólares pela Corus Steel em 2007 – tiveram problemas com aquisições feitas na Europa e nos Estados Unidos durante a época do dinheiro barato, antes da crise financeira.

O sucesso da Tata Motors se deve em grande parte ao fato de que a empresa não tentou gerir a Jaguar Land Rover de sua sede na Índia. Ao invés disso, deixou a gestão do dia-a-dia nas mãos dos executivos ingleses. Além disso, ela também se beneficiou de projetos iniciados pela Ford, incluindo o Evoque, que ganhou fãs que vão dos exigentes apresentadores do programa "Top Gear", da BBC, aos novos ricos chineses.

No último ano fiscal, encerrado em março, a Jaguar Land Rover registrou um aumento de 27 por cento nas vendas a varejo, chegando à marca dos 306.000 veículos vendidos no mundo todo, e se tornou a principal fonte de crescimento e lucratividade da Tata Motors. Ao mesmo tempo, as vendas de carros e caminhões da Tata se estagnaram na Índia em função da baixa na economia doméstica e de uma linha de produtos fraca, que inclui cerca de doze carros de passageiros. A venda de carros da Tata cresceu apenas 4 por cento no último ano fiscal.

A menos que ocorra uma recessão econômica global, analistas esperam que a Jaguar Land Rover continue a ter bons resultados, uma vez que a empresa está se preparando para lançar diversos modelos, incluindo novas versões da Range Rover e do F-Type.

"Acho que as pessoas não acreditavam na aquisição e talvez tivessem algum tipo de esnobismo pós-colonial", afirmou Tim Urquhart, analista sênior da IHS Automotive, em Londres, a respeito das dúvidas iniciais. E acrescentou: "Se olharem para a Land Rover e a Jaguar hoje, provavelmente dirão que as marcas têm a linha de produtos mais forte dos últimos anos".

A aquisição da Jaguar Land Rover pela Tata nem sempre pareceu promissora. A crise financeira ocorreu pouco depois da assinatura do contrato e a demanda por carros de luxo caiu drasticamente na Europa e na América do Norte, seus dois principais mercados. Além da dívida de 3 bilhões assumida em função do acordo, a Tata Motors foi obrigada a injetar mais dinheiro na empresa, uma vez que não recebeu ajuda financeira do governo britânico.

Muitos analistas questionavam se a empresa havia pagado caro e ido longe demais, especulando que seu presidente, Ratan Tata, aficionado por carros e descendente da família que construiu o grupo Tata, havia se encantado demais com a ideia de comprar marcas globais. Ao longo dos anos, o grupo adquiriu a Tetley Tea, o Pierre Hotel, em Nova York, e a Daewoo Commercial Vehicles, na Coreia do Sul.

"A aquisição funcionou porque o investimento foi feito com cuidado e eficácia", afirmou Phil Popham, diretor de operações globais da Jaguar Land Rover em entrevista por e-mail. "Nosso crescimento é apoiado por um plano financeiro disciplinado, que envolve controles de custo e investimentos focados."

Analistas e concorrentes creditam a reviravolta às reservas financeiras da Tata, que ajudaram a empresa durante a crise, e à ideia de dar autonomia aos gerentes na Inglaterra.

"O que ajudou foi o fato de que a Tata possuía poder de permanência", afirmou um executivo de outra montadora, que pediu para não ter seu nome revelado, pois não desejava falar publicamente a respeito de uma concorrente. "Além disso, a Tata adotou uma política de distanciamento."

O efeito Ford vai além dos investimentos realizados nas marcas e no design e engenharia do Evoque. Boa parte dos motores na Jaguar Land Rover ainda vem da Ford, mas a empresa está construindo sua própria fábrica de motores na Inglaterra.

Gerida por Ralf Speth, antigo executivo da BMW que assumiu o cargo de presidente no começo de 2010, a Jaguar Land Rover produz todos os seus carros – cujos preços variam de 36.000 dólares por um SUV básico a 140.000 por um conversível – em fábricas na Inglaterra, ainda que esteja instalando montadoras em outros países. Em agosto, a empresa relatou que o lucro do último trimestre foi 7,5 por cento superior ao do ano passado, chegando a 372 milhões de dólares.

Na América do Norte, as vendas da empresa aumentaram 15 por cento, atingindo a marca de 58.003 carros no ano fiscal encerrado em março. A J.D. Power classificou a Jaguar como a marca de carros que "mais cresceu" em sua classificação de qualidade.

Boa parte do sucesso veio da China, um país que representava apenas 5 por cento das vendas da Jaguar Land Rover em 2005, e que deve passar dos dois dígitos este ano. A empresa fez um grande esforço para aumentar o número de concessionárias no país, onde as vendas de carros de luxo têm sido muito superiores às do Ocidente. Os executivos esperam que a China se torne em breve o maior mercado da empresa e, no ano passado, anunciaram que a Jaguar Land Rover iria começar a construir uma linha de montagem no país por meio de uma joint venture com uma das maiores empresas do setor no país, a Chery.

Uma das coisas que parecem chamar a atenção dos compradores de carros de luxo na China é o fato de que a Jaguar e a Land Rover são novidades.

Liu Gang, executivo financeiro de 33 anos em Xangai, que confessou não entender muito sobre carros, comprou recentemente o sedã esportivo Jaguar XF, pelo qual pagou 700.000 yuan, ou 110.000 dólares. Ele havia rejeitado modelos da BMW e da Mercedes-Benz depois de compará-los com o Jaguar. "Para ser sincero, isso é apenas um símbolo de status", afirmou. "Qualquer um na China pode ter uma Mercedes."

Entretanto, analistas comentam que o fato de a Jaguar Land Rover depender cada vez mais da China poderia atrapalhar o crescimento da empresa, caso ocorra uma forte desaceleração no país e outra crise relacionada ao euro na Europa. Outra preocupação é se a empresa possuiria outros modelos além do Evoque para impulsionar as vendas no futuro. O Evoque é responsável por 85 por cento do crescimento no último ano fiscal, ainda que ele só tenha sido vendido nos últimos sete meses do ano. Em comparação, as vendas de automóveis da Jaguar praticamente não mudaram, aumentando apenas 5 por cento no último ano fiscal.

Popham afirmou que a empresa esperava que as vendas de modelos da Jaguar aumentassem com o lançamento do F-Type, a aguardada continuação do famoso roadster E-Type, lançado em 1961 e considerado por muitos amantes de automóveis como um dos carros esportivos mais bonitos da história. Uma versão comercial do F-Type será lançada no Salão do Automóvel de Paris, no dia 27 de setembro.

"Muita coisa depende do roadster F-Type", afirmou Hormazd Sorabjee, editor da AutoCar India, revista automotiva sediada em Mumbai, acrescentando que a Jaguar deu grandes passos, mas ainda tem muito pela frente.

Ainda assim, analistas afirmam que a Jaguar Land Rover continuará a ser uma importante força motriz para a Tata Motors, que contratou recentemente um executivo sênior da General Motors para ajudar a levantar a empresa na Índia.

Fonte: The New York Times