O Laptop de US$ 100 pode transformar o mundo?
Publicado: 04 Dezembro, 2006 - 08h00
Escrito por: CNM CUT
Quando executivos da indústria de computadores souberam do projeto de fabricar um laptop de US$ 100 para crianças do terceiro mundo, a maioria deles ridicularizou a idéia. 'Como é possível construir um computador assim, se só a tela de um laptop custa cerca de US$ 100?', questionaram.
Mary Lou Jepsen, gerente de tecnologia do projeto, gosta de se referir ao insight que transformou o sonho utópico em um protótipo real como uma idéia realmente maluca. Jepsen, uma ex-designer de chip da Intel, descobriu um jeito de modificar as telas convencionais de laptop, baixando seus custos de produção para US$ 40 e, ao mesmo tempo, reduzindo o consumo de energia em mais de 80%.
Como um bônus, a tela que ela criou também é perfeitamente visível sob a luz do sol. Este e outros avanços permitiram que o projeto sem fins lucrativos 'Um Laptop Por Criança', vencesse o ceticismo de que foi alvo nos últimos dois anos e meio. Cinco países - Argentina, Brasil, Líbia, Nigéria e Tailândia - já firmaram acordos de compromisso para colocar os computadores nas mãos de milhões de estudantes, e a produção em Taiwan deve começar em meados de 2007.
Filantrópico, mas com lucro
O debate certamente vai entrar numa nova fase assim que as máquinas começarem a entrar em produção em larga escala na indústria Quanta Computer, de Taiwan, a segunda maior fabricante de laptops do mundo. (A indústria, ao contrário do projeto, terá lucro.) Do dia para a noite, mesmo não estando disponível para os consumidores, o laptop poderá se tornar o computador portátil mais vendido no mundo.
O projeto hoje tem acordos de compromisso para a venda de 3 milhões de computadores, e passará a manufaturá-los quando atingir a marca de 5 milhões de unidades, com solicitações feitas por pelo menos um país da África, um da América Latina e um da Ásia. Levando em consideração as atuais negociações, Negroponte espera que o objetivo seja atingido em meados de 2007.
O projeto recebeu um grande impulso em 15 de novembro, quando o Banco Interamericano de Desenvolvimento assinou um acordo para oferecer empréstimos e subsídios para a compra das máquinas. 'Há alguns anos, eu acreditava que isso era uma ilusão ou uma idéia utópica', disse Juan Jose Daboub, diretor gerente do World Bank e especialista em desenvolvimento econômico. Mas agora isto é real e muito animador. Negroponte diz que o custo de produção está agora abaixo dos US$ 150, e que cairá para menos de US$ 100 até o final de 2008.
O debate certamente vai entrar numa nova fase assim que as máquinas começarem a entrar em produção em larga escala na indústria Quanta Computer, de Taiwan, a segunda maior fabricante de laptops do mundo. (A indústria, ao contrário do projeto, terá lucro.) Do dia para a noite, mesmo não estando disponível para os consumidores, o laptop poderá se tornar o computador portátil mais vendido no mundo.
Encomendas
O projeto hoje tem acordos de compromisso para a venda de 3 milhões de computadores, e passará a manufaturá-los quando atingir a marca de 5 milhões de unidades, com solicitações feitas por pelo menos um país da África, um da América Latina e um da Ásia. Levando em consideração as atuais negociações, Negroponte espera que o objetivo seja atingido em meados de 2007.
O projeto recebeu um grande impulso em 15 de novembro, quando o Banco Interamericano de Desenvolvimento assinou um acordo para oferecer empréstimos e subsídios para a compra das máquinas. 'Há alguns anos, eu acreditava que isso era uma ilusão ou uma idéia utópica', disse Juan Jose Daboub, diretor gerente do World Bank e especialista em desenvolvimento econômico. 'Mas agora isto é real e muito animador'. Negroponte diz que o custo de produção está agora abaixo dos US$ 150, e que cairá para menos de US$ 100 até o final de 2008.
O laptop não vem com um sistema operacional Windows instalado ou mesmo com um disco rígido, e sua tela é pequena. O custo está mais próximo dos US$ 150 do que dos US$ 100. Mas sua etiqueta de preço, mesmo comparada aos laptops baratos de US$ 500 disponíveis hoje em todo o mundo, faz com que esta seja uma equação econômica para os países em desenvolvimento.
Essas limitações também não foram suficientes para evitar que o laptop se tornasse o ponto central do debate, incentivado pelo conceituado pesquisador Nicholas Negroponte, sobre o valor dos computadores tanto para a educação quanto para o desenvolvimento econômico.
Críticas
Entre os críticos do projeto estão duas gigantes da indústria de computadores, a Intel e a Microsoft, que forçam abordagens alternativas. A Intel desenvolveu um laptop de US$ 400, destinado às escolas, bem como um programa educacional que prioriza professores em vez de alunos. E Bill Gates, presidente da Microsoft e um dos principais beneméritos do terceiro mundo, questiona até que ponto o laptop não está 'simplesmente pegando o que nós fazemos nos países ricos e subsidiando o seu uso nos países em desenvolvimento'.
Negroponte, diretor fundador do Laboratório de Mídia do Massachussets Institute of Technology (MIT), disse estar perplexo com a atenção dispensada à sua pequena máquina. Não é a primeira vez que ele é desafiado por proclamar as promessas da tecnologia. 'É como se as pessoas concentrassem toda sua atenção no barco de Colombo e não nas terras para onde ele se dirigia', disse ele em uma entrevista. 'Deve-se lembrar que o que está em jogo aqui é a educação'.
Seymour Papert, educador e cientista da computação que é consultor do projeto, argumenta, que se os jovens passarem a ter acesso a computadores e a possibilidade de explorá-los, eles 'aprenderão a aprender'. Isso, afirma Papert, é uma habilidade muito mais valiosa do que as estratégias pedagógicas tradicionais que priorizam memorização e testes. A idéia é que as crianças também assumam boa parte da responsabilidade por manter os sistemas, em vez de esperar que outros o façam ou de criar burocracias para fazê-lo.
Auto-aprendizado
'Acreditamos que as crianças devem ser capacitadas agir por si mesmas', diz Jepsen. 'Estas são máquinas de aprender'. Como exemplo, ela cita a luz de fundo do laptop. Apesar de ser confeccionada para durar cinco anos, se falhar, pode ser substituída da mesma forma como se trocam pilhas simples numa lanterna. É algo que uma criança pode fazer, diz ela.
Esta filosofia, que está no coração da visão de mundo do projeto, levantou críticas por priorizar o fornecimento de equipamentos para os alunos em vez de assuntos como o treinamento de professores e o currículo escolar.
'Acho maravilhoso que essas máquinas possam ser colocadas nas mãos de crianças e pais, isso terá um grande impacto em suas vidas se eles tiverem acesso à eletricidade', disse em uma entrevista o professor de educação da Universidade de Stanford Larry Cuban. 'De qualquer maneira, se um dos principais objetivos do projeto for revolucionar a educação em muitos países, não acredito que isso vá acontecer, eles estão sendo ingênuos quanto à realidade do ensino formal'.
Um dos fatores que distinguem o projeto de outros esforços anteriores em criar computadores baratos para a educação é a inclusão de uma função de rede sem fio em cada máquina. Os responsáveis pelo projeto afirmam que o computador usará diversos métodos para conectar-se à internet, dependendo das condições locais.
Expansão de rede
Em alguns países, como a Líbia, será usado sistema via satélite. Em outros, como a Nigéria, as conexões serão feitas pelas já existentes redes de transferência de dados de celulares, e em alguns outros lugares, antenas wi-fi de longo alcance serão especialmente confeccionadas para ampliar o alcance da Internet sem fio para áreas rurais.
Quando os alunos levarem seus computadores para casa depois da aula, cada máquina continuará conectada às vizinhas numa rede sem fio auto-organizada de cerca de 500 metros de alcance. Nesse processo, cada computador pode se tornar um repetidor de internet, permitindo que o acesso à rede chegue a comunidades que até então não estavam conectadas.
'Os soldados dentro desse cavalo de Tróia serão crianças com laptops', afirma Walter Bender, um pesquisador de computação que foi diretor do Laboratório de Mídia do MIT depois de Negroponte e que agora lidera o desenvolvimento de software para o projeto do laptop.
Cada máquina virá com um mecanismo simples para se auto-carregar quando não houver eletricidade disponível. Os designers testaram primeiro uma manivela, mas acabaram descartando o sistema porque parecia muito frágil. Agora eles ficaram com algumas alternativas, entre elas um pedal e um mecanismo manual que se parece com um lavador de salada.
A tela criada por Jepson, que remove a maioria dos filtros de cor e pode operar tanto em cores quanto em modo monocromático, tornou possível construir um computador que consome somente 2 watts de potência, comparados aos 25 a 45 watts consumidos por um laptop convencional.
Baixo consumo de energia
O funcionamento com tão pouca energia é possível por que não há um disco rígido (o laptop usa o sistema SSD, sigla para solid-state disk, que não tem partes móveis e é muito mais barato) e também porque o microprocessador Advanced Micro Devices desliga automaticamente quando o computador não está processando informação.
Os designers também economizaram ao desenvolver o software para o laptop, que é baseado no sistema operacional Linux, o rival gratuito do Windows, da Microsoft. Dispensando a apresentação do desktop tradicional, o software tem uma interface de ícones que dá aos alunos uma visão simples dos programas e documentos disponíveis e apresenta uma espécie de mapa dos usuários conectados nas proximidades.
Uma web cam localizada à direita da tela pode ser usada para videoconferência e para tirar fotos digitais com uma qualidade razoável. O computador vem com um browser simples, um programa de processamento de texto e uma série de programas educativos. Para e-mail, os designers pretendem usar o serviço online do Google. A tela de 7,5 polegadas só permite que se veja um programa por vez.
Negroponte tem sido um versátil garoto propaganda para o projeto, ganhando a participação da Líbia após encontrar-se com o coronel Moammar Gadhafi numa tenda no deserto em uma noite escaldante de agosto desse ano. Mas também houve contratempos. O Ministro da Educação da Índia rejeitou a proposta de encomendar 1 milhão de computadores, argumentando que o dinheiro poderia ser melhor gasto em educação primária e secundária.
Lula
Negroponte afirmou que se sentiu reenergizado com a chegada recente dos primeiros 1.000 protótipos. Os protótipos, segundo ele, fornecerão nova munição para convencer líderes governamentais de que essas pequenas máquinas podem ser uma força positiva para o desenvolvimento social. Numa visita ao Brasil em 24 de novembro, Negroponte apresentou um de seus protótipos ao presidente Luiz Inacio Lula da Silva.
Ele afirmou que será criado um programa para possibilitar às pessoas de países em desenvolvimento doar o laptop para uma criança em determinado país e se corresponder com ela por e-mail numa espécie de 'troca de correspondências nobre'.
Mas não importa o quão atrativa seja a idéia de um computador de US$ 100 ou US$ 150, ele disse que não há planos para torná-lo disponível para os consumidores em geral. 'Por enquanto eles devem comprar o computador de US$ 499 da Dell', disse ele. 'O nosso é feito especialmente para as nações em desenvolvimento - sujas, poeirentas, sem eletricidade e assim por diante...'.
Fonte: G1