MENU

Parece piada: brinde da Fiesp não é feito no Brasil

Publicado: 15 Dezembro, 2006 - 08h00

Escrito por: CNM CUT

Nem a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) consegue resistir à invasão chinesa. Ontem, o presidente da entidade, Paulo Skaf, reclamou que os preços dos produtos chineses são baixos e o volume importado pelo Brasil é muito grande porque a China usa de 'banditismo' e práticas desleais de comércio ao manter sua moeda desvalorizada de forma artificial.

No entanto, a organização do almoço de fim de ano da entidade cometeu uma gafe. Depois da reclamação, ofereceu 'pen drives' (pequenos dispositivos de armazenamento de dados para computadores) de origem chinesa, como brinde aos jornalistas. 'Eu desconhecia esse fato, mas, certamente, esse produto não é pirata e foi comprado com nota fiscal', afirmou Skaf, visivelmente constrangido.

Na crítica à China, o presidente da Fiesp disse que a entidade se mostrou contrária ao reconhecimento do país como economia de mercado e destacou a criação, pela Fiesp, de uma comissão de defesa comercial permanente. 'Temos, hoje, 11 processos de antidumping em tramitação e cerca de 30 setores estão preparando novos processos', informou.

O dirigente disse, ainda, que a entidade, em parceira com a U.S. Chamber, tem feito um trabalho de treinamento dos técnicos das aduanas para evitar a entradas de produtos piratas vindos da China no Brasil. 'Não somos contra a relação entre Brasil e China, mas hoje essa relação não é saudável', opinou, antes de saber dos 'pen drives'. 'O Brasil vende basicamente matérias-primas para a China, principalmente minério de ferro e soja, e a China vende produtos manufaturados para o Brasil, que prejudicam a produção nacional'.

Fabricante brasileiro deixou de montar o produto em janeiro do ano passado. A montagem local ficou inviável por causa dos produtos chineses.

Não é sem motivo que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) distribuiu pen drives (pequenos dispositivos de armazenamento de dados para computador) chineses como brinde para os jornalistas neste fim de ano. O único fabricante brasileiro de pen drives deixou de montar o produto no País em janeiro do ano passado. 'Nós éramos o único fabricante de pen drives', diz o diretor Comercial da Netgate Internacional, João Batista Brandão.

Com fábrica em Ilhéus, no Sul da Bahia, a empresa começou a produzir esse equipamento em 2002 e encerrou a produção no ano passado. Segundo Brandão, a montagem local ficou inviável por causa da concorrência de produtos chineses. 'O custo de comprar as peças e montar o equipamento no País era o mesmo de trazê-lo pronto do exterior.'

De fabricante de 3 mil peças por mês, a companhia passou a importadora de pen drives já embutidos e nos tocadores de música digital (MP3). Hoje importa 3 mil pen drives já montados por mês e revende o equipamento para as distribuidoras de itens de informática.

Anteontem, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, passou por uma situação constrangedora. Num almoço de confraternização com jornalistas criticou a invasão de produtos chineses que afetam a indústria nacional. Mas, depois da reclamação, ofereceu pen drives de origem chinesa como brinde de fim de ano.

'É uma conversa mole. Ninguém incentiva a indústria nacional a competir com a chinesa', diz Brandão. O País não tem fábricas de componentes e não estimula o empresário brasileiro, observa o executivo. Ele passou a produzir outros itens, como fax modem e placas de vídeo, para não demitir parte dos 300 funcionários que montavam os pen drives.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) mostram que as importações de itens de informática vindos da China somaram US$ 169,48 milhões de janeiro a outubro deste ano, com crescimento de 91,5% em relação a igual período de 2005.

A invasão chinesa não se restringe a equipamentos eletrônicos. Os fabricantes de brindes, como bonés e camisetas, registram neste ano queda de 20% nos volumes vendidos e de mais de 30% no faturamento em relação a 2005. 'Em dez anos, esta é a pior fase do setor', diz o presidente da Associação Nacional das Indústrias de Bonés, Brindes e Similares, Valdenilson Vado Costa.

Ele conta que o brinde similar importado chega ao País pela metade do preço do nacional e não há como concorrer. Resultado: 15% das 2 mil empresas, a maioria micro e pequena, fecharam as portas neste ano.

Fonte: G1