Polícia vai indiciar responsáveis por morte de operários da CST
Publicado: 19 Julho, 2007 - 08h00
Escrito por: CNM CUT
Laudo aponta erro e negligência por parte das empresas Milplan e Metso Brasil. Solda mal feita e falta de inspeção provocaram o desabamento do silo e a morte de dois metalúrgicos, na hora do teste.
A Delegacia de Acidente de Trabalho, da Polícia Civil, aguarda apenas o laudo do DML para relatar o inquérito e indiciar por homicídio culposo (não intencional) os responsáveis pela montagem do Silo na ArcelorMittal Tubarão (CST).
O serviço foi feito por técnicos da Milplan-Engenharia, Construções e Montagens Ltda, contratada da Metso Brasil. Eles não seguiram as normas do projeto original de montagem do silo. Já a Metso Brasil Indústria e Comércio Ltda, contratada da CST, por sua vez não vistoriou o serviço. Se condenadas, os representantes legais das duas empresas poderão pegar até três anos de prisão.
Economia de solda
De acordo com laudo realizado pela Escola de Engenharia de São Carlos na USP, os técnicos da Milplan usaram linha de solda de apenas 5 milímetros de penetração, ficando a chapa apenas com 20% da resistência prevista no projeto. Ou seja, a solda teria que ter a espessura da chapa, mas foi utilizado só um quinto do recomendado. As chapas de apoio não suportaram as cargas durante os testes de um dos silos, que desabou.
'A carga do silo estava muito abaixo do que ele deveria suportar e, mesmo assim, não resistiu ao carregamento', diz a delegada Maria Aparecida Rasseli, titular da Especializada em Acidentes de Trabalho. O laudo que esclarece o ato criminoso foi realizado a pedido da própria Metso Brasil. Em casos de acidentes de trabalho graves, a lei determina que sejam realizadas perícias por parte da empresa, polícia e Ministério do Trabalho. O laudo da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), concluído em 15 de junho, também aponta uma série de erros, como a linha de solda inadequada, profissionais não capacitados para interpretar o projeto e a falta de inspeção.
'Da forma que fizeram a solda, os responsáveis pela Milplan vão responder por imperícia. Já a Metso, que errou por não ter feito a vistoria, vai ser indiciada por negligência', disse a delegada.
Acidente deixou dois mortos e quatro feridos
O desabamento de um dos quatro silos de armazenagem de minério da CST, ocorrido no dia 30/11/2006, feriu quatro e matou dois trabalhadores: o caldeiro Paulo Henrique Venturas (Paulão), de 22 anos, que teve a cabeça separada do corpo; e do mecânico-montador Wellington de Oliveira Costa, 28 anos, que passou cinco dias na UTI do Apart Hospital, mas não resistiu ao poli traumatismo e insuficiência respiratória.
Empresa fazia teste
Por volta das 11 horas, a parte de baixo de um dos silos que armazenaria pelotas de minério para abastecer o alto orno III da CST desabou quando estava recebendo a carga. A estrutura do silo, que deveria agüentar 4 mil toneladas, não suportou o peso das 1,6 mil toneladas de minério, desabando e levando junto seis trabalhadores que montavam peças embaixo, junto à boca do silo.
Além das vítimas fatais e de Marcos Vinícius Reis, que teve ferimentos na perna e mão direitas, também ficaram feridos: Ricardo Rodrigues da Silva, Valter Lopes da Fonseca e Janderson José da Silva. Perguntado sobre o que aconteceu, Marcos contou que na hora do acidente segurava o parafuso com uma chave, enquanto o Wellington apertava. 'E o Paulão estava bem próximo da gente', disse. Contou, que não viu e nem ouviu nada, pois quando acordou, estava embaixo de uma montanha de ferro retorcido. 'Não deveríamos estar ali na hora dos testes. Felizmente consegui sair vivo'.
Fonte: Sindimetal-ES