Projeto chinês: sócia e rival da Embraer na China anunciam fusão
O objetivo é criar um grande grupo capaz de concorrer também com Boeing e Airbus
Publicado: 06 Novembro, 2008 - 00h00
Escrito por: CNM CUT
A sócia chinesa da Embraer, a Avic II, se fundiu com a principal rival da empresa brasileira na China, a Avic I - que se prepara para colocar no mercado um avião de 70 a 95 lugares, concorrente da família de jatos executivos produzidos em São José dos Campos (SP). De acordo com o governo de Pequim, a companhia resultante da união vai comprar uma fabricante estrangeira de aviões para acelerar seu desenvolvimento tecnológico, em operação que deve ser anunciada até o fim do ano. O nome da empresa a ser adquirida não foi revelado.
O presidente da Embraer na China, Guan Dong Yuan, afirmou que a fusão entre a sócia e a rival não muda a situação da empresa no país. Mas fontes ouvidas pelo Estado acreditam que a operação, no mínimo, cria incertezas em relação ao futuro, principalmente pelo fato de o comando da nova empresa ter ficado com o ex-presidente da Avic I, Lin Zuoming.
Quando entrou na China, em 2002, a Embraer se associou à Avic II, uma das duas grandes empresas estatais do setor, que tinha a tarefa de fabricar helicópteros e aviões de pequeno porte. A outra, a Avic I, era responsável pelo desenvolvimento de aeronaves médias e grandes.
Enquanto a Avic II se associou à Embraer, a Avic I fechou um acordo de cooperação tecnológica com a canadense Bombardier, principal concorrente da brasileira no mercado de aviões regionais.
No dia 28 de outubro, a Avic I e Avic II se fundiram em uma única empresa, a Avic (China Aviation Industry Corporation), cujo objetivo final é a criação de aviões chineses de grande porte, com capacidade para mais de 150 passageiros, que possam reduzir a dependência do país das gigantes Boeing, americana, e Airbus, européia.
Em conferência realizada na segunda-feira, véspera da abertura da 7ª Feira Aeroespacial da China, Lin Zuoming afirmou que o objetivo da Avic é se consolidar como um ator global nessa indústria em meados da próxima década. A companhia também pretende fabricar jatos executivos de 10, 20 e 30 lugares, outra faixa de mercado na qual a Embraer atua.
Com o lançamento do EMB-190, jato com capacidade de 98 a 114 passageiros, as vendas da Embraer deram um salto que colocou a empresa brasileira no terceiro lugar no ranking da aviação, atrás de Airbus e Boeing e à frente da Bombardier.
Embraer e Avic II têm uma fábrica na cidade de Harbin, no nordeste da China, onde produzem o ERJ-145, um avião com capacidade para 50 passageiros.
Além de vender essa aeronave na China, a Embraer vem aumentando os contratos para entrega do EMB-190. Em 2006, a empresa brasileira fechou um acordo de venda de 100 aviões para a Hainan Airlines, sendo metade de EMB-190 fabricados no Brasil e o restante de ERJ-145 produzidos na fábrica de Harbin.
Concorrente
O primeiro passo da China no desenvolvimento de aviões de grande porte é o lançamento do ARJ21, o jato de 70 a 95 lugares que concorre diretamente com a família de jatos executivos da Embraer e é produzido pela Commercial Aircraft Corporation of China (CACC), um braço da Avic.
A CACC anunciou ontem a venda de 25 ARJ21 para a General Eletric, um negócio no valor de US$ 733 milhões. É a primeira venda fechada com um comprador estrangeiro. A GE participa na fabricação do ARJ21 com o fornecedora dos motores dos aviões. A primeira entrega ocorrerá apenas em 2013.
Com a experiência na construção deste avião, a China espera desenvolver a tecnologia necessária para ter sua própria aeronave com mais de 150 lugares. "Ter um grande avião chinês no céu azul não é apenas o desejo do governo, mas de toda a nação", afirmou o presidente da CACC, Jin Zhuanglong, na segunda-feira, na mesma conferência realizada na véspera da abertura da 7º Feira Aeroespacial da China.
Parceria está fadada a acabar
A joint venture que a Embraer mantém com a Avic II está fadada a acabar no futuro próximo, na avaliação de Paulo Bittencourt Sampaio, da consultoria Multiplan. O consultor destacou que os chineses têm esse perfil de fazer parcerias em busca de novas tecnologias, para depois partirem para produção solo. "A previsão é de que eles se tornem rapidamente fortes concorrentes da Embraer", disse. Sampaio lembrou que a Avic I já tem um projeto bem adiantado para o segmento de jatos de 70 lugares, um nicho em que a Embraer atua.
Sampaio avaliou que a Embraer está muito bem posicionada no mercado de jatos de 70 a 120 lugares, mas ressaltou que esse cenário deve mudar com a entrada de novos concorrentes nos próximos anos. "O aumento do número de fabricantes desse tipo de avião terá uma conseqüência certa, a redução dar margens de lucro dos fabricantes, avalia Sampaio", disse.
Além dos chineses, outras empresas também estão investindo nesse segmento, como a russa Sukhoi, o consórcio japonês formado pela Mitsubishi, Kawasaki e Mitsui Heavy Industry, além da Bombardier, que também desenvolve um jato para esse nicho. A nova empresa chinesa também tem planos de atuar no segmento de jatos acima de 150 lugares, onde atuam hoje Airbus e Boeing.
Fonte: O Estado de S. Paulo