Sete grupos vão brigar por domínio do aço na América Latina
Publicado: 14 Março, 2007 - 08h00
Escrito por: CNM CUT
Com previsão de ser o mais disputado leilão de privatização de uma siderúrgica na América Latina nos últimos anos, a operação de venda da pouco expressiva Acerías Paz del Río, fabricante de aço colombiana, nesta sexta-feira, sinaliza um cenário de demarcação de espaço na siderurgia da América Latina. Segundo informações do órgão colombiano responsável pelo leilão, sete grupos estão qualificados.
O preço mínimo fixado, por 52% do capital da empresa, é de US$ 192 milhões. A siderúrgica, criada em 1947, fabrica aços planos e longos e é detentora de reservas de minério de ferro e carvão no país. Conta com capacidade para produzir 370 mil toneladas ao ano de aço bruto.
Arcelor Mittal, Gerdau e Techint/Ternium surgem como os principais protagonistas nessa disputa, uma vez que têm posições bem definidas no mercado latino-americano, fruto de sucessivas aquisições ao longo dos últimos dez a 15 anos. A estratégia de cada é de reforçar ainda mais suas plataformas de produção local. Até agora, suas ofensivas de compras eram menos bem menos ruidosas.
Alguns exemplos ilustram bem isso. As aquisições da Diaco e Sidelpa pela Gerdau, em 2004, na própria Colômbia são um caso. Há mais: no ano passado, a mesma Gerdau levou a Siderperú e a Arcelor Mittal, a mexicana Sicartsa.
Quem corre por fora nessa disputa são a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e o grupo Votorantim, este por meio da controlada Barra Mansa. Embora esteja qualificada, a CSN informa não ter tomado a decisão ainda se participará do leilão, segundo seu diretor-executivo financeiro, Otávio Lazcano.
Entre os dois outros candidatos, segundo informações, estaria a russa Severstal que já deixou claro que tem intenções de ingressar no mercado de aço da região.
Para Germano Mendes de Paula, professor da Universidade Federal de Uberlândia e especialista do setor, olhando isoladamente 'a venda da Paz del Río ganhou mais atenção que a real importância da siderúrgica no contexto da produção de aço na região'. Mas ressalva, que, passados os vários leilões de privatização de usinas na América Latina, iniciados nos anos 80, poucos ativos restaram para venda.
Ele lembra outro fator para o forte interesse na Paz del Río. A Colômbia é importadora líquida de aço e a demanda doméstica encontra-se em franca expansão. Isso abre possibilidades de quem entrar no país, como a Gerdau já o fez, investir na expansão dos ativos e apoderar-se dessa lacuna coberta pelos produtos importados, que passaram de 1,6 milhão de toneladas em 2005. A produção do país, no ano passado, foi de 1,22 milhão de toneladas.
A Arcelor Mittal dispõe de capacidade de produção na casa de 18 milhões de toneladas de aços planos, longos e especiais/inox na América Latina. O grupo Techint, cerca de 11 milhões, incluindo as três usinas da Ternium e as duas fabricantes de tubos Tamsa, no México, e Siderca, na Argentina, controladas por sua holding Tenaris. A Gerdau produziu no ano passado 8,5 milhões de toneladas. Juntos, os três grupo detêm ao redor de 60% da produção de aço na região, que foi de 63 milhões no ano passado.
Usiminas e CSN, completando o time das principais siderúrgica da região, adicionam 14 milhões de toneladas, elevando a 80% o domínio de mercado dos cinco grupos.
O grupo Gerdau, inicialmente, foi impedido pelo órgão anti-truste colombiano a participar do leilão, por ser dono de duas fábricas no país. Caso vença o leilão, o órgão avaliava que a empresa gaúcha se tornaria dominante no mercado local, principalmente em aços para uso na construção e fio-máquina, usado para fabricar produtos industriais.
A Gerdau recorreu e está habilitada a participar sob determinadas condições que permitam a livre competição no mercado.
O leilão no dia 16 está marcado para ser realizado a partir das 15h30, horário local, na Bolsa de Valores da Colômbia, em Bogotá. Pelas regras do leilão as empresas poderão ofertas lances mínimos durante 20 rodadas, com preço pré-determinado. Se nenhum competidor sagrar-se vitorioso nesta etapa, a Bolsa poderá esticar a quantidade de rodadas.
Gerdau e CSN poderão disputar usina da Mittal nos EUA
Os Estados Unidos são candidatos a assistir em breve um novo embate no cenário de consolidação de ativos do setor. Pelo menos uma dezena de grupos - do Brasil à Rússia - deverá concorrer no processo de venda da usina Sparrows Point que a Arcelor Mittal deverá pôr à venda para atender exigências do órgão anti-truste local.
As brasileiras Gerdau e CSN são candidatas naturais a participar da operação de venda, a ser definida nas próximas semanas e ocorrer 90 dias depois. 'Vamos analisar o processo e definir se vamos participar', disse André Bier Gerdau Johannpeter, presidente do grupo.
A aquisição desse ativo marcaria a entrada de fato da companhia, maior fabricante de aços longos das Américas, no setor de aços planos. Atualmente, a Gerdau tem 50% na joint venture americana Gallatin Steel, com a Dofasco(Arcelor Mittal), também nos Estados Unidos. No Brasil, a controlada Açominas está montando uma unidade de produção de placas.
Segundo Germano Mendes de Paula, professor da Universidade Federal de Uberlândia e especialista do setor, Sparrows Point, com capacidade de produção de 3,4 milhões de toneladas de aço bruto por ano, teria um perfil bem compatível com o da CSN pelo seu porte e pelo portfólio de produtos. A usina americana que foi parar nas mãos de Lakshmi Mittal em 2004 faz laminados a quente, a frio e, principalmente, aços galvanizados e folhas-de-flandres (lâminas metálicas para embalagens).
Otávio Lazcano, diretor executivo financeiro da CSN, afirmou que a empresa 'não tem nenhuma decisão tomada, até o momento, sobre possível aquisição desse ativo'. E resumiu: 'Estamos analisando toda e qualquer possibilidade de investimento em aços planos nos Estados Unidos e Europa'.
Outro forte candidato à compra de Sparrows Point ('ponto dos pardais' numa livre tradução da expressão inglesa) é a Ternium, siderúrgica controlada pelo grupo argentino Techint, líder mundial na produção de tubos de aço, em parceria com a Usiminas.
Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas e vice-chairman da Ternium, disse que 'a companhia pode analisar, pois tem vocação internacional e está saudável financeiramente, com baixo endividamento e caixa disponível'. Segundo Campos, essa usina não está nos planos da Usiminas.
Fontes do setor crêem que a disputa será acirrada e não deverá sair barata, pois Sparrows Point, localizada em Baltimore, está próxima do Atlântico e conta com porto próprio para recepção de matérias-primas. A Arcelor pagou pela Dofasco, de porte semelhante, US$ 4,5 bilhões em 2006.
Fonte: Valor